Londres – Embora seja mais conhecido pela polêmica rede de TV Fox News, que continuou defendendo Donald Trump e sua tese de eleições roubadas mesmo depois da dramática invasão do Capitólio, a influência  magnata da mídia Rupert Murdoch, que anunciou hoje o desligamento de suas funções executivas nos grupos de mídia sob seu controle, não se resume aos EUA. 

O empresário será substituído pelo filho mais velho, Lachlan, em um império que inclui os jornais The Times e The Sun e a Talk TV no Reino Unido; uma rede de jornais e a Sky News da Austrália e ainda a Dow Jones, controladora do Wall Street Journal. 

As especulações sobre qual dos filhos assumiria o controle lembram a série Succession, que muitos acreditam ter sido inspirada no empresário de 92 anos nascido na Austrália. O filho mais novo, James, perdeu a batalha. 

Murdoch será presidente emérito da Fox e da News Corp

Nesta quinta-feira (21), a Fox distribuiu um comunicado informando que Rupert Murdoch está deixando o cargo de presidente dos conselhos da Fox Corporation e da News Corp a partir da próxima Assembleia Geral Anual de Acionistas de cada empresa,  em meados de novembro.

Ele será nomeado presidente emérito das duas.

“Após as Assembleias Gerais Anuais, Lachlan Murdoch se tornará o único presidente da News Corp e continuará como presidente executivo e diretor executivo da Fox Corporation”, informa a nota. 

Em 70 anos, Rupert Murdoch transformou um jornal herdado do pai na Austrália em um conglomerado que tem como marca a influência política, sobretudo da Fox, maior expoente do pensamento conservador americano. 

Diferentemente de outros magnatas da mídia como Michael Bloomberg e o lendário Silvio Berlusconi, Rupert Murdoch não entrou para a política diretamente. 

O exemplo mais notório é o apoio da Donald Trump, que acabou custando caro. 

Em abril deste ano, a Fox fez um acordo pouco antes do início do julgamento de um processo de difamação movido pela empresa de urnas eletrônicas Dominion para pagar US$ 787,5 milhões (R$ 3,9 bilhões) e encerrar a causa. 

A empresa foi apontada por apresentadores da Fox como envolvida em manipulação do resultado da eleição que derrotou Donald Trump, programando o software para transferir votos dados ao ex-presidente a Joe Biden.

Além da indenização, a rede foi obrigada a reconhecer em nota a decisão do tribunal de considerar “certas alegações contra a autora da ação como falsas”. 

Murdoch e Trump, amor e ódio

Em trechos de uma biografia do empresário antecipados há dois dias pelo jornal The Guardian, o autor Michael Wolff afirma que o amor por Trump virou ódio, e que Murdoch muitas vezes disse querer que o ex-presidente morresse. 

Outra informação vazada sobre sua influência na política foi a de que ele teria convencido o atual primeiro-ministro britânico Rishi Sunak a não renunciar devido ao escândalo do Partygate quando ocupava o cargo de Chancellor, segundo posto mais importante do governo britânico, na gestão de Boris Johnson. 

Habituado a exercer influência sobre a linha editorial de seus empresas jornalísticas e sobre a política dos países, Rupert Murdoch deixa o cargo mas não se afastará completamente. 

“Durante toda a minha vida profissional, estive envolvido diariamente com notícias e ideias, e isso não vai mudar. Mas é o momento certo para assumir funções diferentes”, disse ele em uma mensagem aos funcionários. 

“Na minha nova função, posso garantir que estarei envolvido todos os dias no debate de ideias”, escreveu ele.

Curiosamente para uma personagem que sempre transitou nas mais altas esferas da economia e da política, Murdoch criticou as elites, como se não fizesse parte do mundo dos privilegiados e influentes: 

“As burocracias egoístas procuram silenciar aqueles que não são membros da sua classe rarefeita.

A maior parte dos meios de comunicação social está em conluio com essas elites, vendendo narrativas políticas em vez de perseguir a verdade”.

Além de empresas de mídia, o império de Rupert Murdoch também tem atuação na área literária, com a editora HarperCollins.

No final de 2018, os ativos de entretenimento cinematográfico da Fox foram vendidos para a Disney – e a participação de 39% de sua empresa na Sky, dona da Sky News britânica, foi vendida para a Comcast.