Londres – Pelo menos nove jornalistas estão entre os civis mortos, feridos ou desaparecidos no conflito em curso entre Israel e o grupo Hamas na Faixa de Gaza desde a manhã de sábado.

Segundo a organização de liberdade de imprensa Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ), até segunda-feira eram três mortos, um ferido e dois desparecidos.

Na manhã desta terça-feira (10), outros três perderam a vida no ataque a uma região onde funcionavam empresas de mídia.

As vítimas imediatas foram o editor Saeed Al-Taweel e o fotógrafo Mohammed Sobih, segundo a agência AFP.

Posteriormente a Roya TV informou que o jornalista Hishan Al-Nawajha morreu no hospital em decorrência de ferimentos no ataque. 

A conta de mortos, feridos e desaparecidos em Gaza 

A conta da violência contra jornalistas no conflito entre Israel e o grupo Hamas em Gaza pode ser mais alta do que a da guerra na Ucrânia, a julgar pelos dados iniciais. Um ano após a invasão pela Rússia, foram 12 profissionais de imprensa mortos

Nos dois primeiros dias do conflito em Gaza, O CPJ registrou a morte de Ibrahim Mohammad Lafi, fotógrafo da Ain Media, que estava na passagem de Erez, na Faixa de Gaza, para Israel; Mohammad Jarghoun, repórter da Smart Media, que iria a leste da cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, e o jornalista freelance Mohammad El-Salhi, que foi morto a tiros no centro da Faixa de Gaza. 

As informações foram confirmadas pela a agência de notícias oficial da Autoridade Palestina, a Wafa , pelo grupo palestino de liberdade de imprensa MADA  e pelo Comitê de Apoio ao Jornalismo (JSC), uma organização sem fins lucrativos que promove os direitos da mídia no Oriente Médio.

Dois fotógrafos palestinos, Nidal Al-Wahidi, do canal Al-Najah, e Haitham Abdelwahid, da agência Ain Media, podem engrossar a lista de vítimas. Eles foram dados como desaparecidos desde sábado.

E Ibrahim Qanan, correspondente do canal Al-Ghad, foi ferido por estilhaços de uma bomba na cidade de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, disseram essas fontes ao CPJ. 

“Estamos extremamente preocupados com o fato de jornalistas palestinos terem sido mortos, com mais dois declarados desaparecidos e outro ferido enquanto cobriam o conflito entre Israel e Gaza desde que começou no sábado”, disse Sherif Mansour, coordenador do CPJ para o Oriente Médio e Norte da África.

“Apelamos a todas as partes para que se lembrem de que os jornalistas são civis e não devem ser alvos.

Reportagens precisas são críticas em tempos de crise , e a mídia tem um papel vital a desempenhar na divulgação de notícias de Gaza e de Israel ao mundo.”

Riscos para a imprensa transmitidos ao vivo 

Além dos mortos, feridos e desaparecidos, há registros de jornalistas surpreendidos por explosões nas proximidades de onde faziam reportagens. Alguns desses momentos forma capturados ao vivo pelas câmeras, demonstrando os riscos a que estão submetidos. 

Esse risco teria sido a causa da morte de Saeed Al-Taweel, editor do site Al-Khamsa News, Mohammad Sobh, da agência Khabar, e Hishan Al-Nawajha. 

De acordo com a agência de notícias turca Anadolu, eles foram mortos enquanto filmavam o ataque a um edifício residencial por aviões de guerra israelenses no distrito de Rimal, no oeste de Gaza.

Liberdade de imprensa na Palestina e em Israel 

Israel e Palestina têm histórico de limites à liberdade de imprensa, situação agravada pela nova etapa dos conflitos.

O Global Press Freedom Index, publicado anualmente pela organização Repórteres Sem Fronteiras, lista a Palestina em 156º entre 180 países. Embora tenha avançado 14 posições em relação a 2022, a região continua perigosa para jornalistas, no relato da RSF: 

“Na Cisjordânia, os jornalistas são vítimas de violações da liberdade de imprensa tanto por parte da Autoridade Palestina como pelas forças de ocupação de Israel. Na Faixa de Gaza, os ataques militares israelenses e as políticas do Hamas ameaçam a imprensa.

Em 2022, duas jornalistas foram mortas por forças israelenses, incluindo a repórter da Al Jazeera Shireen Abu Akleh. Esses crimes permanecem impunes.”

Já Israel passou de 86º para 97º no Global Press Freedom Index deste ano. A morte de Shireen Abu Akleh foi um dos motivos para justificar a queda. 

Segundo a RSF, o panorama da mídia israelense “foi desestabilizado após a ascensão ao poder de um governo que ameaça a liberdade de imprensa”.