Londres – A BBC confirmou em um comunicado nesta sexta-feira (20) que voltou atrás na decisão de chamar os integrantes do Hamas de militantes, criticada pela comunidade judaica e pelo próprio governo britânico, que em 2021 inseriu o grupo em sua lista de entidades terroristas. 

O diretor-geral da rede pública, Tim Davie, teve um encontro com representantes da organização Board of Deputies of British Jews, ONG reunindo integrantes da comunidade judaica, uma das que vinha fazendo pressão para que a política editorial fosse revista. 

Inicialmente, a BBC sustentou que não usaria a palavra terrorista para deixar que o público fizesse seu próprio julgamento sobre os fatos relatados pelos jornalistas. Durante a reunião Davie revelou que a palavra militante já não estava sendo usada nos últimos dias como descrição padrão. No entanto, a rede continua não chamando o grupo de terrorista diretamente. 

A cobertura da BBC não agrada a nenhum dos lados, o que fez com que ela fosse alvo de várias manifestações e até vandalismo. No último fim de semana, a entrada principal foi pintada com tinta vermelha. 

Como a BBC passou a descrever o Hamas 

Após a reunião desta sexta-feira, a organização judaica divulgou uma nota afirmando que a rede “estava comprometida com o diálogo” e que havia informado sobre a nova forma de se referir ao Hamas: “organização terrorista proscrita pelo governo britânico ou outros”, “ou simplesmente Hamas”. 

Mas a tensão não parece ter chegado ao fim, já que a BBC não cedeu a ponto de passar a classificar o grupo como terrorista sem atribuir a uma fonte ou referência à inclusão na lista do governo.

Na nota publicada no site, a presidente do Board of Deputies of British Jews, Marie van der Zyl, disse:

“Enfatizamos a nossa indignação pela recusa da BBC em descrever as ações bárbaras do Hamas como terrorismo e o relato falso e prejudicial do foguete que matou civis inocentes. 

Ambos continuaremos o diálogo e também buscaremos vias legais.”

O presidente de Israel, Isaac Herzog, deu uma entrevista ao jornal britânico Daily Mail condenando a “recusa atroz” da rede em denominar o Hamas como terrorista.

A edição foi compartilhada no canal oficial do governo de Israel o Twitter com um comentário sobre o “libelo moderno de sangue” da rede.

Críticas pelo relato do ataque ao hospital pela BBC

O “relato falso e prejudicial” feito pela presidente da organização judaica é uma referência a outra polêmica envolvendo a emissora, recriminada pelo comentário do correspondente Jon Donnison imediatamente após o bombardeio no hospital Al-Ahli em Gaza.

Ele sugeriu ter sido um ato de Israel sem que naquele momento houvesse evidências. 

De Jerusalém, Donnison disse na BBC News: “É difícil pensar o que mais isso poderia realmente ser, dada a dimensão da explosão, se não um ataque aéreo israelense ou vários ataques aéreos”.

No dia seguinte, a BBC publicou um texto em seu canal de correções e esclarecimentos: 

“Aceitamos que, mesmo nesta situação em rápida evolução, foi errado especular desta forma, embora ele não tenha relatado em nenhum momento que se tratava de um ataque israelita. 

Isto não representa a totalidade da produção da BBC e qualquer pessoa que assista, ouça ou leia a nossa cobertura pode ver que expusemos as alegações de ambos os lados sobre a explosão, mostrando claramente quem as disse e o que sabemos ou não sabemos sobre elas.”

A rede também abriu investigação sobre jornalistas de seu serviço árabe depois de postagens favoráveis ao Hamas, e anunciou que um deles deixaria de trabalhar para a rede. 

O momento dessa controvérsia em torno do Hamas é sensível para a BBC, que é financiada por uma taxa obrigatória paga pelas residências britânicas que recebem seu sinal.

A taxa está congelada até 2024, no contexto de um movimento iniciado na administração do ex-primeiro-ministro Boris Johnson para mudar o modelo que sustenta a rede.

Devido ao congelamento, a BBC cortou pessoal, eliminou programas e serviços internacionais. A decisão sobre o valor da nova taxa será tomada pelo governo em meio a uma insatisfação oficial com a cobertura da guerra entre o Hamas e Israel.

Em entrevistas, o Secretário Nacional de Defesa, Grant Shapps condenou a decisão de não chamar o Hamas de terrorista já que o governo classifica o grupo dessa forma.