Londres – No primeiro aniversário da compra do Twitter / X por Elon Musk, a organização de liberdade de imprensa Repórteres Sem Fronteiras (RSF) voltou a se manifestar contra as mudanças adotadas pelo bilionário, que em sua opinião, transformaram a plataforma em um “santuário de desinformação”.
A RSF disse que considera agora o X “a personificação da ameaça que as plataformas online representam para as democracias”.
Outras organizações não-governamentais e analistas do mercado também aproveitaram a data para relembrar os tropeços e mudanças, incluindo a troca de nome para X, enquanto Elon Musk preferiu reafirmar sua visão de liberdade de expressão.
No dia 27 de outubro, quando a aquisição completou um ano, ele republicou o post em que anunciou a operação, com o texto “o pássaro está livre”, e apenas escreveu “Liberdade”.
Liberdade x desinformação no Twitter
Na nota em que critica a gestão do empresário à frente da plataforma, Vincent Berthier, chefe da área de tecnologia da RSF, afirma, que “Elon Musk completou a sua transformação de defensor da liberdade de expressão em defensor da desinformação”.
“A maioria das suas decisões tiveram o efeito de fortalecer os produtores de desinformação e enfraquecer o acesso a notícias e informações confiáveis na plataforma.
Com os insultos que dirige pessoalmente aos meios de comunicação profissionais e a nova direção anti-informação que o X adotou, os jornalistas e os meios de comunicação já não são bem-vindos ali. O Twitter já era uma rede insegura para informação, mas X tornou-se um reduto da desinformação.”
Ao longo de um ano em que “humilhou os meios de comunicação e censurou jornalistas“, o empresário classificado pela Forbes como a pessoa mais rica do mundo destruiu o que era um dos poucos baluartes das redes sociais contra a desinformação e tornou-se, em vez disso, um dos mais fortes aliados da produtores de desinformação, afirma a Repórteres Sem Fronteiras.
A organização destacou a transformação do sistema de certificação de contas, apontada em pesquisas como responsável pela proliferação de teorias conspiratórias, discurso de ódio e fake news.
“De um sistema de segurança que garantia que o utilizador era quem afirmava ser, passou a ser um serviço pelo qual o utilizador paga para obter maior visibilidade, sem oferecer qualquer garantia quanto à sua autenticidade.”
A RSF utilizou a guerra entre Hamas e Israel como exemplo do “potencial tóxico” desse sistema.
De acordo com um estudo da organização de verificação de fatos NewsGuard, as chamadas contas “verificadas” produziram 74% das afirmações falsas ou infundadas mais virais da plataforma sobre a guerra Israel-Hamas, que foram visualizadas 100 milhões de vezes.
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Transformações técnicas e políticas na rede social
Para a organização de liberdade de imprensa, a transformação do Twitter em um ano foi tanto política quanto técnica.
Sob a liderança de Musk, o Twitter deixou de ser signatário do código de boas práticas contra a desinformação da União Europeia, agora o código de conduta da Lei dos Serviços Digitais (DSA).
A empresa de mídia social também realizou demissões em massa, especialmente nas equipes de “Confiança e Segurança” responsáveis pela proteção dos usuários da plataforma, incluindo moderação.
Estas decisões “reforçaram a vantagem competitiva da desinformação sobre conteúdos de interesse público”.
Na opinião da RSF, o Twitter / X encarna o problema fundamental das grandes plataformas “controladas por indivíduos ricos, cujas decisões por vezes beiram os caprichos das divas”.
“Nada está impedindo que os bilionários assumam o controle de serviços utilizados por centenas de milhões de pessoas e façam o que quiserem com eles.
É tempo de isso acabar e de os Estados Unidos, onde a maioria destas grandes empresas tem a sua sede, se inspirarem na DSA da União Europeia e finalmente imporem ordem às práticas de uma indústria que retira a sua riqueza do caos informativo que gera.”
Em 2022, quando as mudanças no Twitter começaram a alarmar a ponto de afastar anunciantes, a Repórteres Sem Fronteiras chegou a propor que “um clube de democracias” comprasse a rede social.
Há duas semanas, o Conselho da Europa abriu uma investigação formal contra o Twitter devido à desinformação e conteúdo nocivo sobre a guerra em Gaza. Outras plataformas também foram notificadas.
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