Londres –  O ano de 2023 chegou ao fim com um registro preocupante para a liberdade de imprensa: 779 jornalistas foram presos no mundo, segundo levantamento da organização Repórteres Sem Fronteiras. 

Embora 2022 tenha sido um ano recorde, com um total de 569 jornalistas detidos em todo o mundo até 31 de dezembro, a prisão continua a ser amplamente utilizada para suprimir a liberdade de imprensa, e nada menos que 547 jornalistas devem ter começado 2024 na prisão em 45 países. 

Os vilões continuam os mesmos de anos anteriores. Quase metade dos presos são de apenas quatro países: China, Mianmar, Bielorrússia e Vietnã. Mas a guerra entre o Hamas e Israel também está cobrando um preço alto para os jornalistas, assim como a repressão política em países como Rússia, Irã, Egito e Afeganistão

China fecha 2023 com 121 jornalistas presos

A prisão é usada para perseguir jornalistas em quase metade dos países do mundo. Segundo a RSF, nos últimos cinco anos, pelo menos um jornalista foi detido em conexão com o seu trabalho em 86 países.

A China continua a ser o maior carcereiro de jornalistas do mundo, com 121 atualmente detidos.

Mianmar, que fecha o ano com 69 profissionais de imprensa presos, impôs a mais longa pena de prisão a um jornalista em 2023.  O fotojornalista Sai Zaw Thaike , foi condenado a 20 anos de prisão por uma série de acusações, incluindo “desinformação” e “ sedição.”

As sentenças proferidas contra mulheres jornalistas bateram recordes em 2023, de acordo com o levantamento da Repórteres Sem Fronteiras. 

Nenhuma jornalista foi condenada a mais de 10 anos de prisão desde 2019, mas seis das oito penas mais longas em 2023 foram proferidas contra mulheres jornalistas: 

  • No Irã, que viveu em 2023 uma escalada de violações da liberdade de imprensa em reação aos protestos pela morte da jovem curda Mahsa Amini,  Elaheh Mohammadi e Niloofar Hamedi foram condenadas a 12 e 13 anos de prisão, respetivamente.
  • Na Bielorrússia, o governo autoritário de Alexander Lukashenko sentenciou as reconhecidas jornalistas independentes Maryna Zolatava , Liudmila Chekina e Valeriya Kastsiuhova, que receberam penas de prisão entre 10 e 12 anos. 
  • No Burundi, Floriane Irangabiye , uma das poucas mulheres jornalistas presas na África Subsaariana, cumpre uma pena de 10 anos.

Jornalistas presos na Guerra Israel-Hamas 

O número de jornalistas palestinos presos e detidos pelas forças israelitas aumentou consideravelmente desde o início da guerra, em 7 de outubro, segundo o levantamento da RSF. 

Pelo menos 34 ainda estavam detidos no final de 2023, de acordo com a entidade, a maioria sem acusação ou julgamento.

“Este é especialmente o caso dos 19 que estão sujeitos a detenção administrativa – uma forma de detenção “preventiva” ao abrigo da qual as forças de segurança israelitas podem deter qualquer pessoa sem procedimento judicial por “razões de segurança”.

Esta utilização da detenção para perseguir jornalistas palestinos, principalmente na Cisjordânia, vem juntar-se à perseguição mortal na Faixa de Gaza, onde pelo menos 76 jornalistas foram mortos pelos militares israelitas desde o início da guerra, incluindo pelo menos 16 no decorrer de seu trabalho.”

O secretário-geral da Repórteres Sem Fronteiras, Christophe Deloire, aponta que as prisões impedem os jornalistas de continuarem trabalhando mas também funcionam como instrumento de intimidação. 

“São centenas ou mesmo milhares de colegas que sentem uma ameaça pairando sobre suas cabeças.

Assim, o direito à notícia e à informação de milhões de pessoas poderá ser violado. Por trás destas estatísticas, existem tragédias humanas e consequências políticas.”

As prisões de profissionais de imprensa pelo mundo 

Turquia 

O governo de Recep Tayyip Erdogan deteve quase 50 jornalistas na Turquia ao longo de 2023 e cinco ainda estão detidos no final do ano, incluindo quatro jornalistas curdos.

Irã

No Irã, 58 jornalistas passaram mais de 48 horas em prisões ao longo de 2023 e 21 ainda estão atrás das grades, incluindo cinco mulheres. 

Depois dos protestos por Mahsa Amini, as autoridades criaram um labirinto repressivo baseado em detenções arbitrárias e julgamentos com base em acusações espúrias.

Vietnã

No Vietnã, onde os meios de comunicação social têm de seguir as ordens da junta militar que governa o país,  43 jornalistas passaram pelo menos 48 horas detidos em 2023 e 36 chegaram ao fim de 2023 presos. 

Entre eles estão 20 blogueiros, como Nguyen Lan Thang , que foi condenado a oito anos de prisão em abril de 2023 por “propaganda antiestatal”.

Rússia 

Na Rússia, num clima hostil em relação aos meios de comunicação independentes e a profissionais de imprensa, 34 jornalistas foram detidos ao longo dos últimos 12 meses e 29 ainda se encontravam na prisão até 29 de dezembro.

A conta inclui dois cidadãos norte-americanos: Evan Gershkovich , repórter do Wall Street Journal , acusado de espionagem, e Alsu Kurmasheva , jornalista com dupla nacionalidade russa e americana que trabalha para a Radio Free Europe/Radio Liberty em Praga.

Ela foi presa quando visitava sua família, e foi acusada de não se identificar como “agente estrangeiro”.

Afeganistão 

Acusações de espionagem também são usadas contra jornalistas no Afeganistão, onde a libertação de Mortaza Behboudi , em 18 de outubro de 2023, sublinhou os perigos do jornalismo sob o regime talibã , que tem perseguido os meios de comunicação independentes desde que retomou o poder em agosto de 2021.

Em 2023, 21 jornalistas foram presos no país e três estão atualmente detidos.

Egito

As eleições intensificaram a perseguição implacável do Presidente Abdel Fattah el-Sisi aos meios de comunicação no Egito em 2023, resultando na detenção de um total de 20 jornalistas e blogueiros. 

Um deles é Mohamed Oxygen , o fundador do blog Oxygen Misr , que está detido desde 2019 sob a acusação de “publicar notícias falsas” por cobrir protestos antigovernamentais.

Homenageado com o Prémio RSF dCoragem de 2023 , ele está em confinamento solitário na prisão de Badr, no Cairo, desde maio de 2023, por defender um colega detido.

Etiópia 

Cobrir conflitos armados também pode resultar em prisão.

É por esta razão que as autoridades têm perseguido jornalistas na Etiópia, onde 14 estão atualmente detidos e 22 foram presos em 2023, à medida que os combates se intensificavam na região de Amhara e o governo dispersava as forças militares regionais.