Londres –  A entrevista que ficou marcada como um dos maiores desastres de relações públicas da história e devastou a carreira e a reputação do príncipe Andrew virou um filme batizado de “Scoop” (jargão para “furo” jornalístico) produzido pela Netflix, que acaba de apresentar o primeiro trailer. 

A conversa foi gravada no Palácio de Buckingham pela jornalista Emily Maitlis, do programa Newsnight, em novembro de 2019. O Palácio nunca se pronunciou oficialmente, mas os rumores são de que ele tomou a iniciativa sozinho, sem a participação da assessoria de comunicação, e tendo uma de suas filhas a seu lado. 

O objetivo de Andrew era se defender das acusações feitas por Virginia Giuffre de que teria tido relações sexuais com ele quando era menor de idade, aliciada pelo pedófilo James Epstein e pela socialite Ghislaine Maxwell, mas o efeito foi o oposto. 

Depois da entrevista, o Palácio de Buckingham o removeu de atividades oficiais em promoção de negócios bilaterais para o Reino Unido, ele perdeu as comendas militares, deixou de usar o título “Sua Alteza Real”  e ficou relegado ao ostracismo da família. Ao assumir o trono, o rei Charles removeu o irmão do conselho familiar que pode tomar decisões caso ele se veja impedido. 

Filme da Netflix sobre príncipe Andrew baseado em livro de produtora 

O documentário Scoop mostra os bastidores da entrevista, com base no livro da ex-produtora do programa Newsnight Sam McAlister, interpretada pela atriz Billie Piper. O papel de Maitlis coube à Gillian Anderson, enquanto Andrew é vivido por Rufus Sewell. 

Para quem assistiu à entrevista na vida real, a recriação do ambiente e a semelhança dos personagens impressionam. A tensão na expressão dos personagens principais é a mesma que se viu no programa. 

Apenas na noite em que foi exibida pela primeira vez a audiência foi de 1,9 milhão de pessoas. 

Emily Maitlis, que deixou a BBC e agora é uma das apresentadoras do podcast de notícias The News Agents, relatou na época que até o último momento achava que a entrevista poderia ser cancelada. 

Segundo a sinopse da Netflix, Scoop dará aos espectadores uma visão interna do furo da década – e dos muitos obstáculos que a equipe da BBC superou para garantir a entrevista desde vetos palacianos até os ensaios e, finalmente, a entrevista em si.

O diretor, Philip Martin, disse: 

 “Quero colocar o público dentro da sequência de eventos de tirar o fôlego que levou à entrevista com o Príncipe Andrew – para contar uma história sobre uma busca por respostas, em um mundo de especulação e lembranças variadas.

É um filme sobre poder, privilégio e diferentes perspectivas e como – seja em palácios reluzentes ou em redações de alta tecnologia – julgamos o que é verdade.”

Lembranças do príncipe sobre a noite com a jovem 

A referência a “lembranças variadas” remete às tentativas do príncipe Andrew de justificar sua versão de que nunca conheceu a jovem, apesar de aparecer em uma foto ao lado dela. 

Ele virou meme nas redes sociais e assunto na mídia internacional por ter sugerido que a foto era manipulada, e que o relato de Giuffre de que dançaram até suar em uma boate era falso,  já que devido a um acidente quando combateu na Ilha das Malvinas teria perdido temporariamente a capacidade de transpirar. 

Não tardaram a aparecer fotos diversas de Andrew suado, geralmente em animadas pistas de dança.

Ele também afirmou que na noite em que o encontro com Giuffre teria acontecido, no apartamento de Ghislaine Maxwell, ele tinha ido levar a filha a uma festinha infantil na Pizza Express – algo difícil de acontecer sem registros oficiais devido à segurança em torno da família real e de depoimentos dos que certamente teriam notado a sua presença. 

Os dois acabaram fazendo um acordo para colocar fim ao processo, que motivou críticas de antimonarquistas sobre quem estaria pagando para silenciar uma acusação de abuso sexual de uma menor de idade. 

Impacto da entrevista mostrada no filme da Netflix 

Andrew, que muitos dizem ter sido o filho preferido da rainha Elizabeth II e protegido por ela durante o escândalo, já vinha desgastado antes, desde que sua amizade com Jeffrey Epstein se tornou pública na esteira das acusações que levaram o financista milionário a cometer suicídio na prisão, em Nova York.

Mas a entrevista foi definitiva para selar seu futuro, apesar de tentativas da mãe para preservá-lo, como a decisão de entrar com ele na igreja para a missa de um ano do príncipe Philip a despeito das acusações e processo judicial movido por Giuffre. 

Depois de ameaças de despejo da casa onde vive, dentro da propriedade do Castelo de Windsor, ele resistiu e continua morando lá, mas raramente aparece em público.

No Natal, houve uma aparição rara, junto com a família e com a ex-mulher, Sarah Ferguson, indo à missa na propriedade de Sandringham, uma tradição familiar. 

Mas não houve qualquer outro sinal de que sua reputação possa ser recuperada.

O lançamento do filme, no dia 5 de abril, trará o tema de volta à mídia e colocará novamente Andrew sob os holofotes dos britânicos, tornando a possibilidade de sua volta à cena real cada vez mais remota.