Londres – Um levantamento feito pela organização Media Matters for America revelou que o ex-presidente Donald Trump promoveu contas associadas ao movimento QAnon mais de 800 vezes durante os primeiros dois anos de postagem ativa em sua plataforma de mídia social, a Truth Social.
Na análise, a Media Matters considerou como contas QAnon aquelas que abordam explicitamente os conceitos defendidos pelos adeptos da teoria da conspiração, compartilham seus slogans, exibem a imagem principal do QAnon, a letra “Q”, ou imagens relacionadas a ela.
A maioria é de apoio à sua campanha eleitoral, que pode levá-lo de volta à Casa Branca se vencer o pleito de novembro.
A repostagem ou citação por Trump foi considerada pela Media Matters, uma organização dedicada a expor a desinformação na mídia americana, como uma forma de promover e impulsionar o movimento, o que ele fez em escala muito maior do que na época em que utilizava o Twitter como principal rede social e contava com 80 milhões de seguidores.
Algumas postagens levam a vídeos publicados em outras redes que abrigam extremistas, como a Rumble.
As publicações não disfarçam a ligação com o movimento, como a que insere o Trump candidato em uma moldura que lembra a letra Q, uma das que foi compartilhada pelo candidato a governar os EUA.
Trump é venerado pelo QAnon
O QAnon é um movimento de extrema-direita que tem como guru uma figura anônima que se manifesta em mensagens enigmáticas pela internet e atende pelo nome de Q, influenciando comportamentos como o negacionismo da Covid, o movimento antivacina e a condenação aos EUA por atos relacionados à guerra na Ucrânia.
Por ter a visão apocalíptica de que um dia de ajuste de contas está próximo (chamado de “A Tempestade” ou “O Grande Despertar”), o movimento assume ares de seita religiosa. Só que o todo-poderoso venerado é Donald Trump, e vários dos seguidores estavam entre os que invadiram o Capitólio para impedir a posse de Joe Biden.
Pesquisas mostram que o movimento não se dissolveu após a saída de Trump da presidência, e o impulso dado a elas durante a campanha eleitoral deste ano pode fazer com que as teses voltem a se espalhar de forma mais generalizada entre a população.
Leia também | Um em cada cinco americanos ainda acredita na teoria conspiratória QAnon, diz pesquisa
Candidato à presidência aumentou postagens sobre QAnon em mais de 500 vezes
O relatório da Media Matters, assinado pelo jornalista Alex Kaplan, lembra que meses depois de Trump deixar o cargo, apresentadores de um programa QAnon receberam credenciais de imprensa para um comício. O site Politico revelou que assessores de Trump tentariam “eliminar quaisquer influências do QAnon – tanto adeptos quanto postagens – aproximando-se dele”.
No entanto, entre 28 de abril de 2022 – quando Trump começou a postar ativamente na sua rede Truth Social – e 28 de abril de 2023, o candidato à presidência compartilhou ou comentou conteúdo de contas ligadas ao QAnon na Truth Social quase 500 vezes.
Essa tendência continuou durante o segundo ano de postagem ativa de Trump na plataforma: a análise da organização descobriu que entre 29 de abril de 2023 e 29 de abril de 2024, Trump amplificou o alcance de contas ligadas ao QAnon quase 350 vezes, aumentando o total para mais de 800 vezes.
O Q de QAnon
Entre as postagens amplificadas por Donald Trump em sua conta encontradas pela Media Matters estão pelo menos 33 que apresentavam a letra “Q” em seu texto ou imagem; o slogan do QAnon, “onde vamos um, vamos todos” (ou “WWG1WGA” para abreviar); a frase QAnon “nada pode impedir o que está por vir” (ou “NCSWIC” para abreviar); ou “Q+”, um termo que alguns apoiadores do QAnon usam para se referir ao próprio Trump .
Algumas contas cujos posts foram compartilhados ou comentados por Donald Trump têm o nome do movimento ou de seu slogan, não deixando qualquer dúvida sobre a ligação com a teoria conspiratória.
A maioria está diretamente ligada à campanha eleitoral, com convocações aos seguidores para “cumprirem o juramento” e “prestarem serviços ao país de novo”.
O estudo da Media Matters cita uma reportagem do jornal Washington Post apontando que Trump posta em sua própria rede social mais do que fazia antes de ser banido das principais plataformas, usando letras maiúsculas e linguagem agressiva, e com links para sites de extrema-direita e influenciadores conservadores.
Segundo os pesquisadores, Trump postou muito mais sobre o QAnon, que o apoia na campanha para presidente, do que em seus tempos áureos no Twitter. De 2017 até sua conta ser suspensa em 8 de janeiro de 2021, ele impulsionou contas do movimento mais de 300 vezes.
Mesmo sujeito a regras de moderação que eram mais rígidas na época do que sob a gestão de Elon Musk após a compra da rede social, o então presidente dos EUA fez vários elogios à comunidade.
Leia também | Deepfakes: como apoiadores de Trump espalharam fotos falsas nas redes para atrair eleitores negros