Londres – A organizaรงรฃo internacional de defesa da liberdade de imprensa Repรณrteres Sem Fronteiras (RSF) apresentou sua terceira queixa ao Tribunal Penal Internacional (TPI) sobre crimes de guerra praticados por Israel contra jornalistas em Gaza, desta vez envolvendo as mortes de nove profissionais palestinos entre os dias 15 de dezembro e 20 de maio.
O pedido de investigaรงรฃo foi feito trรชs dias antes do nono aniversรกrio da Resoluรงรฃo 2222 do Conselho de Seguranรงa da ONU sobre a proteรงรฃo de jornalistas em coberturas de guerra, comemorado neste 27 de maio.
A queixa reitera pedidos da RSF feitos ao procurador em outubro e dezembro para cumprir o artigo 15 do Estatuto de Roma do TPI, dando prioridade ร investigaรงรฃo dos crimes contra jornalistas em Gaza desde 7 de outubro.
TPI disse que crimes de guerra em Gaza seriam investigados
Em uma mensagem enviada ร RSF em 5 de janeiro, o gabinete do procurador do TPI afirmou pela primeira vez que os crimes contra jornalistas estariam incluรญdos na sua investigaรงรฃo sobre a Palestina.
Entre os jornalistas mencionados na terceira queixa estรฃo Mustapha Thuraya e Hamza al-Dahdouh, dois repรณrteres que trabalhavam para a rede Al Jazeera em Rafah quando foram mortos por um ataque direcionado de drones de Israel ao veรญculo em que estavam, em 7 de janeiro.
Com 27 anos, al-Dahdouh era filho de Wael al-Dahdouh, chefe da rede รกrabe na Palestina, que perdeu quase toda a famรญlia em um ataque em outubro.
Hazem Rajab, um terceiro jornalista ferido no mesmo ataque, tambรฉm estรก incluรญdo na denรบncia.
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As Forรงas de Defesa de Israel emitiram uma declaraรงรฃo em 10 de janeiro informando que uma aeronave israelense โdirigida por tropas tinha como alvo os operadores de um drone que representava uma ameaรงa para os soldadosโ, referindo-se ao equipamento usado por Thuraya.
No entanto, segundo a RSF, imagens de vรญdeo gravadas pelo drone do jornalista e veiculadas pelo Washington Post mostraram apenas uso jornalรญstico e nenhuma indicaรงรฃo de captura de imagens de natureza militar ou que sugerisse espionagem.
A denรบncia da Repรณrteres Sem Fronteiras tambรฉm cita os casos de outros seis jornalistas:
- O repรณrter do site Hadaf News, Ahmed Badir, que foi morto por um ataque aรฉreo na entrada do Hospital Shuhada al-Aqsa, em Deir al-Balah, no dia 10 de janeiro
- O correspondente da agรชncia de notรญcias Kan’an, Yasser Mamdouh, que foi morto perto do Hospital Al-Nasser em Khan Yunis em 11 de fevereiro
- Ayat Khadoura, um videoblogueiro independente morto por um ataque israelense em sua casa em 20 de novembro, logo apรณs postar um vรญdeo
- Yazan Emad Al-Zwaidi, cinegrafista do canal de notรญcias de TV via satรฉlite egรญpcio Al Ghad, que foi morto em 14 de janeiro quando um ataque israelense atingiu o grupo de civis com quem ele estava em Beit Hanoun
- Ahmed Fatima, jornalista do canal de TV Al Qahera News, que foi morto durante um bombardeio em Khan Yunis, em 13 de novembro
- Rami Bdeir, repรณrter do meio de comunicaรงรฃo palestino New Press, que foi morto durante um bombardeio israelense em Khan Yunis em 15 de dezembro.
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Mais de 100 jornalistas mortos em Gaza desde outubro
A RSF diz ter apresentado a terceira queixa ao TPI, com sede em Haia, porque o nรบmero de jornalistas mortos em Gaza pelas FDI continua a crescer depois de ultrapassar a marca dos 100, no que a entidade chamou de “erradicaรงรฃo dos meios de comunicaรงรฃo palestinos”.
“A Resoluรงรฃo 2222 do Conselho de Seguranรงa da ONU sobre a proteรงรฃo dos jornalistas em tempos de guerra, adotada hรก nove anos, em 27 de maio de 2015, determina a importรขncia de processar e punir os crimes de guerra contra os jornalistas”, sublinha a Repรณrteres Sem Fronteiras.
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