Londres – A controvertida pintura retratando o rei Charles III apresentada pelo Palácio de Buckingham em maio foi alvo de uma ataque de ativistas do movimento Animal Rising, em um protesto contra o apoio do monarca a uma organização que que certifica fazendas produtoras de alimentos.
Nesta terça-feira (11), dois manifestantes entraram como visitantes na galeria Philip Mold, em Londres, onde a obra está exposta, e colaram sobre o rosto do rei um adesivo com a figura do inventor da série de animação Wallace e Gromit.
Em um segundo adesivo, na forma de um balão de fala, o personagem se dirige ao cachorro que o acompanha nos filmes dizendo: “Nada de queijo, Gromit. Veja toda essa crueldade nas fazendas da RSPSA [Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals]”.
A tela não foi danificada, pois estava protegida por vidro.
O rei Charles é conhecido pela sua dedicação à causa ambiental. Os personagens foram escolhidos para o protesto devido a uma declaração da rainha Camilla de que Wallace e Gromit eram “as pessoas favoritas” de seu marido no mundo.
Daniel Juniper, um dos manifestantes que participou do ataque, pediu que o rei Charles reconsidere sua condição de patrono da RSPCA que o associa ao “terrível sofrimento nas fazendas” apoiadas pela entidade.
Depois do protesto, ele disse:
“Como o rei Charles é um grande fã de Wallace e Gromit, não poderíamos pensar em uma maneira melhor de chamar sua atenção para as cenas horríveis nas fazendas certificadas pela RSPCA!
Embora esperemos que isto seja divertido para Sua Majestade, também apelamos a pensar seriamente se deseja ser associado ao terrível sofrimento nas explorações agrícolas apoiadas pela RSPCA.”
No domingo, a Animal Rising havia divulgado um relatório sobre crueldade animal em 45 fazendas britânicas de produção aviária, suína e de pescados que contam com o selo de aprovação da instituição. As imagens mostram maus-tratos e sofrimento.
O presidente da organização é o jornalista e apresentador de TV Chris Packham, que em 2021 fez um protesto diante do Palácio de Buckingham pedindo à monarquia o reflorestamento de suas terras.
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Ativistas responsáveis pelo ataque ao retrato de Charles não foram presos
Preparada para possíveis protestos, a galeria agiu rápido e retirou os adesivos logo que foram aplicados. Mas as imagens foram registradas, distribuídas pelas redes sociais e reproduzidas em jornais e sites de notícas.
Segundo a Animal Rising, a dupla pulverizou o verso dos adesivos com água para facilitar a remoção. Os manifestantes foram convidados a se retirar e o fizeram sem resistência.
Nenhuma queixa foi apresentada à polícia, diferentemente de outros atos de protesto que se tornaram comuns em museus, em que ativistas jogam tinta ou colam-se a quadros e esculturas.
Policiais da Scotland Yard, a polícia metropolitana de Londres, compareceram ao local ao verem as imagens nas redes sociais, mas não abriram inquérito a pedido da galeria. O Palácio de Buckingham não se manifestou.
O retrato polêmico
A tela atacada é o primeiro retrato a óleo do rei Charles III, e despertou polêmica quando foi apresentada.
O autor é o renomado artista plástico contemporâno Jonathan Yeo, que ousou ao optar por uma representação diferente da linguagem visual de retratos da realeza, usando tons fortes de vermelho e pinceladas esfumadas.
No ombro de Charles há uma borboleta, em alusão à sua metamorfose de príncipe a rei e ao seu amor pela natureza.
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