Londres – Em resposta ao bloqueio de quatro meios de comunicação russos na União Europeia, o Ministério de Negócios Estrangeiros da Rússia anunciou a proibição das transmissões de 81 veículos de notícias europeus no país, incluindo grandes redes de TV, rádio, agências de notícias e jornais como RAI, RTP, Radio France Internacional, Politico, Agence France-Presse, El País, La Reppublica e Le Monde.

Os meios russos que haviam sido bloqueados na UE em maio – Voz da Europa, RIA Novosti, Izvesta e Rossiyskaya Gazeta – foram acusados pelo Conselho Europeu de estarem sob controle direto ou indireto do governo, “difundindo e apoiando a propaganda russa e a agressão contra a Ucrânia“. 

Segundo o Conselho, “a Federação Russa envolveu-se numa campanha sistemática e internacional de manipulação dos meios de comunicação e de informação, interferência e grave distorção dos fatos, a fim de justificar e apoiar a sua agressão em grande escala contra a Ucrânia e de reforçar a sua estratégia de desestabilização dos países vizinhos, da UE e de seus Estados-Membros”. 

Lista de bloqueios da Rússia quatro vezes maior 

A revanche da Rússia também foi em larga escala, com uma lista de bloqueios 20 vezes maior, formada por veículos de imprensa reconhecidos e premiados pela qualidade de seu jornalismo. 

Foram incluídos meios de comunicação independentes e redes públicas de 25 dos 27 países que integram a UE. Os únicos poupados foram Croácia e Luxemburgo. 

A guerra Ocidente x Rússia no campo da mídia não é nova, mas a escala do novo bloqueio da Rússia não tem precedentes. 

Após o início da guerra, em 2022, a UE  e outros países ocidentais determinaram a interrupção das transmissões dos meios de comunicação controlados pelo Estado russo, como a rede Russia Today (RT) e a agência de notícias Sputnik.

A Rússia revidou com bloqueio de redes estatais de alguns países e repressão a jornalistas estrangeiros em seu território, com atos como a recusa ou revogação de vistos e de credenciamento e até prisões.  

Ao publicar a lista em resposta ao bloqueio decretado pela UE, nesta terça-feira (25), o Ministério de Negócios Estrangeiros russo justificou a medida: 

“A Federação Russa alertou repetidamente a várias instâncias que o assédio politicamente motivado a jornalistas do país e as proibições injustificadas dos meios de comunicação russos na UE não ficariam sem resposta”. 

O comunicado afirma que os meios de comunicação europeus bloqueados ​​espalham ‘informações falsas’ sobre a guerra da Rússia na Ucrânia.

E diz que o bloqueio será “reconsiderado” se a UE suspender a proibição aos quatro meios russos.  

Entidades reagem ao bloqueio 

O revide da Rússia despertou protestos de entidades de defesa da liberdade de imprensa e de expressão. 

“O bloqueio de 81 meios de comunicação europeus pela Rússia revela o seu medo profundo de reportagens verdadeiras”, disse Gulnoza Said, coordenador do Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ) para a Europa e Ásia Central).

“Moscou deve parar imediatamente de restringir o acesso dos russos à informação e cessar as suas tentativas de sufocar o fluxo de notícias que se desvia da linha oficial”, completou. 

A Federações Internacional e Europeias de Jornalistas instaram as autoridades russas a permitirem que os meios de comunicação da UE transmitam livremente no seu território e a “deixarem de utilizar a liberdade de imprensa como forma de pressão diplomática em detrimento do direito dos cidadãos de acessar informação”.

“A medida de retaliação dos russos é um ataque sério e injusto contra o jornalismo. Apelamos às autoridades russas para que protejam o direito dos cidadãos de receber informações de todas as partes da Europa, uma vez que a liberdade de imprensa já não pode ser vítima colateral deste conflito”, afirmaram a IFJ e a EFJ em uma declaração conjunta.