Londres – O julgamento de um processo histórico que começa nesta terça-feira (21) no Supremo Tribunal de Londres coloca em lados opostos um membro da família real britânica e um dos mais icônicos chefões da mídia global, prometendo revelar detalhes chocantes sobre as práticas dos tabloides sensacionalistas do país. 

O príncipe Harry, quinto na linha de sucessão ao trono britânico, está processando o News Group Newspapers (NGN), grupo jornalístico de Rupert Murdoch, dono de um conglomerado de mídia que inclui a Fox News, o Wall Street Journal, o The Times de Londres e o tabloide The Sun, além do extinto News of the World.

O processo alega que jornalistas desses tabloides, incluindo alguns que hoje ocupam altos argos executivos no grupo de Murdoch e no Washington Post, recorreram a métodos ilegais para invadir a privacidade do príncipe entre 1996 e 2011.

Harry comparecerá ao tribunal no processo contra os tabloides de Murdoch

O Duque de Sussex, que vive na Califórnia, deve comparecer pessoalmente ao tribunal na segunda etapa do julgamento, previsto para terminar em março. 

Ele e a mulher, Meghan, se transformaram em guerreiros contra os tabloides e já venceram outras causas contra a imprensa sensacionalista britânica. 

Um deles foi contra o grupo Mirror Newspapers, que pagou uma gorda indenização a Harry em 2024 após condenado no tribunal. 

Figuras de destaque da mídia, incluindo Murdoch e seu filho James, Rebekah Brooks (CEO da News UK), Victoria Newton (editora do The Sun) e Will Lewis (editor e CEO do Washington Post) terão que defender suas reputações contra as acusações de que sabiam e até de que tentaram encobrir atividades ilegais.

Os advogados do príncipe alegam que Lewis, que assumiu no ano passado o posto no jornal americano pertencente a Jeff Bezos sob forte reação da equipe, esteve envolvido em um esquema para ocultar evidências de hackeamento.

O julgamento também poderá contar com o depoimento de outras celebridades, como Hugh Grant, Sienna Miller e Lily Allen, além de figuras proeminentes como o ex-primeiro-ministro Gordon Brown e a ministra da justiça, Shabana Mahmood.

O que Harry alega no processo 

O esquema de hackeamento telefônico, central no processo do príncipe Harry contra o grupo de Rupert Murdoch, envolvia a interceptação ilegal de mensagens de correio de voz.

Jornalistas do News of the World, tabloide pertencente ao grupo que teve que fechar as portas após o escândalo vir a público, invadiam as caixas postais de celebridades, figuras públicas e até mesmo membros da família real britânica para obter informações privadas e sensacionalistas1.

A prática consistia em acessar remotamente as caixas postais de telefones celulares e ouvir as mensagens deixadas, sem o conhecimento ou consentimento dos proprietários das linhas.

Essa invasão de privacidade permitia que os jornalistas obtivessem informações exclusivas, que eram usadas para publicar matérias que atraiam a atenção do público e aumentassem as vendas dos jornais.

Outras práticas dos tabloides de Murdoch

Embora o foco inicial seja a questão da invasão de privacidade por meio de grampos telefônicos, as alegações de Harry se estendem a uma gama mais ampla de atividades ilegais, incluindo obtenção de informações por meio de fraude (“blagging”) e busca ilegal por documentos, como extratos bancários e registros médicos.

A contratação de detetives particulares para espionar o príncipe e pessoas próximas a ele também faz parte da reclamação judicial.   

A defesa do grupo de Murdoch argumenta que muitas das histórias sobre a vida privada de Harry foram obtidas legitimamente por meio de denúncias anônimas ou de pessoas que contataram a redação em troca de dinheiro, uma prática comum entre os tabloides britânicos. 

O grupo também alega que as acusações de destruição de emails entre 2010 e 2011, que comprovariam as alegações são “falsas, insustentáveis e veementemente negadas.”

Celebridades e os tabloides sensacionalistas

O julgamento promete trazer à tona detalhes chocantes sobre as práticas da imprensa sensacionalista britânica e o papel de figuras poderosas da mídia na suposta invasão da privacidade de celebridades e figuras públicas.

Cerca de 40 outros reclamantes, muitos deles celebridades, fizeram acordos com o grupo de Murdoch, a maioria dissuadida de ir a julgamento pelas enormes contas legais que poderiam ser impostas a eles, mesmo após uma vitória no tribunal.

O ator Hugh Grant aceitou um acordo no ano passado, após descobrir que poderia ser responsabilizado por £ 10 milhões em custas. 

O príncipe Harry entrou com uma ação judicial contra a NGN em 2019, na mesma semana em que sua esposa, Meghan Markle, entrou com seu próprio processo contra o Mail on Sunday por suposta violação de privacidade e violação de direitos autorais.

Ela ganhou a causa.