Londres – Há menos de três anos, quando o ChatGPT foi lançado, os primeiros alertas sobre o impacto da inteligência artificial generativa no jornalismo se concentravam em dois grandes temores: a substituição de profissionais nas redações e o aumento da desinformação – e ninguém pensava na sigla GEO (de Generative Engine Optimization).
No entanto, à medida que a tecnologia evolui e se integra aos mecanismos de busca, um novo desafio se mostra ainda mais preocupante: a queda no tráfego dos sites de notícias.6A presença da IA nas ferramentas de busca — especialmente no Google, com o recurso IA Overview — alterou de forma rápida e inesperada a maneira como o público acessa conteúdos.
Esse novo comportamento vem sendo documentado por estudos como o divulgado recentemente pelo Pew Research Center.
IA nas buscas muda o comportamento do público
A pesquisa analisou a navegação real de 900 adultos norte-americanos e constatou que, quando um resumo gerado por IA aparece no topo da página, as pessoas tendem a clicar menos nos links.
Nas buscas com esse tipo de resposta automática, apenas 8% dos acessos resultaram em cliques, comparados a 15% quando o resumo não estava presente. E apenas 1% clicou nos links incluídos no próprio resumo.
O dado mais alarmante: 26% dos usuários encerraram a navegação após visualizar o resumo. Isso indica que, ao oferecer uma resposta considerada suficiente, a IA torna o clique irrelevante.
E essa mudança de comportamento afeta uma parcela significativa da população.
Em outra pesquisa, o Pew identificou que 34% dos adultos norte-americanos utilizam o ChatGPT — número que sobe para 58% entre os menores de 30 anos.
O levantamento não incluiu o uso de outras ferramentas de IA.
Queda de tráfego e impacto no jornalismo
Segundo o Pew, cerca de 18% de todas as buscas feitas em março de 2025 resultaram em resumos por IA.
Essa porcentagem sobe para 53% em buscas com dez palavras ou mais. E chega a 60% quando iniciadas com pronomes interrogativos como “quem”, “o que” ou “por que”.
Buscas com sujeito e verbo ativaram o recurso em 36% dos casos.
Ou seja: justamente os tipos de consulta que indicam intenção de entender, investigar e se aprofundar — muitas vezes satisfeitas por reportagens — agora são “resolvidas” com resumos automatizados.
Além disso, a análise do Pew revelou que os sites mais citados nos resumos por IA e nos resultados tradicionais são Wikipedia, YouTube e Reddit, seguidos por domínios governamentais e sites de notícias.
Nos resumos, 6% dos links iam para sites .gov, contra apenas 2% nos resultados padrões. Sites jornalísticos aparecem em apenas 5% de ambos.
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O que é Generative Engine Optimization (GEO)
A nova realidade digital fez surgir mais uma sigla no vocabulário da indústria de mídia: GEO, de Generative Engine Optimization.
O termo descreve o esforço para otimizar conteúdos digitais — como páginas, artigos e produtos — para aparecer de forma favorável nos resumos gerados por inteligência artificial em ferramentas de busca.
É uma evolução do tradicional SEO (Search Engine Optimization), adaptada ao cenário em que mecanismos de busca oferecem respostas completas no topo da página, muitas vezes sem exigir que o usuário clique em um link.
O GEO busca responder a perguntas como: como garantir que meu conteúdo seja citado nos resumos por IA? Quais formatos e fontes a IA prioriza? Como adaptar a linguagem e a estrutura de um site para ser compreendida e destacada por modelos generativos?
Ou seja: é como se o jogo tivesse sido reiniciado. Quem sabia fazer SEO bem, e empresas de desenvolvimento de sites focados em SEO agora estão tendo que reaprender e se reinventar.
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No mundo GEO (Generative Engine Optimization), desinformação e empregos não são o único problema da mídia
O impacto da IA no jornalismo digital precisa ser discutido com mais profundidade e estratégia. Não se trata apenas de combater desinformação ou de garantir que a IA não tire empregos — questões que seguem essenciais.
Mas é preciso entender que a principal ameaça hoje pode estar nos caminhos invisíveis que fazem (ou deixam de fazer) o conteúdo jornalístico chegar às pessoas.
Se o tráfego some, tudo o mais enfraquece: a influência, a receita, a relevância. E isso exige que o jornalismo repense sua relação com as plataformas, com o SEO, com o design da informação e até com o próprio valor que atribui ao clique.
O conceito de Generative Engine Optimization (GEO) surge como um alerta e uma oportunidade: adaptar-se à nova lógica das buscas por IA pode ser decisivo para a sobrevivência do jornalismo digital.
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