Londres – A demissão era esperada – e para alguns demorou mais do que deveria – mas neste sábado (4/12) o jornalista da CNN Chris Cuomo foi formalmente desligado dos quadros da empresa, seis meses depois de ser envolvido no escândalo que levou à renúncia de seu irmão do cargo de governador de Nova York (EUA).
No início da semana, o âncora dono de um programa com seu nome no horário nobre da emissora tinha sido suspenso depois que procuradoria-geral do estado divulgou provas de que a ajuda dada por ele a Andrew Cuomo, acusado de assédio sexual, foi bem além do que a rede teria conhecimento, configurando conflito de interesses.
Um comunicado da CNN disse que uma “respeitada firma de advocacia” foi contratada para investigar os esforços de Chris Cuomo para ajudar seu irmão político. Mas enquanto essa revisão acontecia, “novas informações vieram à tona”, levando a rede a rescindir seu contrato, “com efeito imediato”.
Jornalista da CNN não assume falhas
Cuomo dá sinais de não admitir que tenha cometido falhas que justificassem sua demissão. No Twitter, lamentou que o fim de sua temporada na CNN tenha sido dessa forma, e fez questão de registrar o sucesso obtido enquanto liderou o programa que ia ao ar às 21h.
“Não é assim que queria que minha trajetória na CNN tivesse acabado, mas já disse porque e como ajudei meu irmão. Então, deixe-me dizer por mais decepcionante que seja, não poderia estar mais orgulhoso da equipe de Cuomo Prime Time e do trabalho que fizemos como o programa nº 1 da CNN no horário mais competitivo.
— Christopher C. Cuomo (@ChrisCuomo) December 4, 2021
Em seu perfil no Twitter, o jornalista da CNN manteve a foto em que aparece na redação do programa e o título de “CNN anchor”, bem como o horário do programa que apresentava ir ao ar.
Estrela da rede americana foi preservada
Quando as denúncias vieram à tona, a CNN reconheceu que seu âncora havia violado as regras de conflito de interesses, mas disse que entendia sua posição de “colocar a família em primeiro lugar” ao ajudar o irmão em apuros.
No entanto, o que se tornou público esta semana a partir da divulgação dos documentos da procuradoria-geral de Nova York é que a ajuda não foi apenas um aconselhamento momentâneo ou de caráter pessoal. E deixaram a emissora sem saída a não ser abrir mão de uma de suas estrelas.
Os documentos mostram que o âncora pressionou fontes para obter informações sobre as mulheres que faziam acusações e passou-as à equipe do governador.
E que ajudou a redigir a resposta às denúncias, de acordo com e-mails com a transcrição do testemunho a investigadores que trabalham para a procuradora Letitia James.
Correspondências revelam descontentamento com os assessores do irmão diante de novas denunciantes alegando terem sido assediadas por Andrew Cuomo. E indicam que ele o jornalista se ofereceu para descobrir que outras alegações poderiam surgir.
No depoimento, ele admite ter enviado mensagens de texto para Melissa DeRosa, a assessora de seu irmão, dizendo: “Tenho uma pista sobre a noiva”. Era uma referência a Anna Ruch, uma mulher que acusou Andrew Cuomo de tentar beijá-la em um casamento.
Cuomo, família de estrelas no jornalismo e na política
A demissão do jornalista da CNN é um baque em uma família de estrelas em suas atividades.
Chris era um dos jornalistas mais ilustres do elenco da rede americana, responsável por dirigir grandes coberturas, como a das eleições presidenciais em 2020.
Já o ex-governador teve que renunciar em agosto para evitar um provável julgamento de impeachment, um desfecho melancólico depois de três mandatos e de alto reconhecimento pela forma como administrou a pandemia do coronavírus.
O jornalista da CNN chegou a entrevistá-lo diversas vezes, principalmente sobre o combate à Covid-19. Em certa ocasião, Chris chegou a chamar o irmão de “o melhor político do país”.
Quando passou a ser questionado por conflito de interesses, o jornalista evocou o fato de ter assumido anteriormente que de fato não poderia ser totalmente objetivo em assuntos envolvendo a família, e que os programas em que recebeu o irmão tiveram o consentimento da CNN.
O público feminino já tinha dado sinais de que a ajuda de Chris Cuomo ao irmão acusado de assédio não era bem vista.
Na semana de agosto após revelações da procuradoria de Nova York sobre o caso, números do Instituto Nielsen mostraram que o Cuomo Prime Time teve uma diminuição de 21% de espectadoras em relação à média do segundo trimestre de 570 mil. Na amostragem de 25 a 54 anos, a queda tinha sido de 41%.
Jornalista da CNN também teve que se explicar por assédio a colega
O fantasma do assédio assombrou também o próprio Chris Cuomo. Já chamuscado pelas revelações sobre a ajuda ao irmão governador, ele voltou às manchetes em setembro por um caso ocorrido em 2005.
A denúncia foi feita por uma ex-colega de trabalho, Shelley Ross, então produtora da ABC News, onde os dois trabalhavam, e publicada pelo jornal New York Times.
A produtora disse que o apresentador teria tocado suas nádegas em frente ao marido dela, durante uma festa de confraternização.
“Quando o sr. Cuomo entrou no bar do [bairro nova-iorquino] Upper West Side, ele caminhou em minha direção e me cumprimentou com um forte abraço, enquanto abaixava uma das mãos para agarrar e apertar com firmeza a minha nádega.”
Cuomo, disse ela, justificou que ele podia fazer isso “agora que ela não era mais sua chefe”.
“Nunca pensei que o comportamento do sr. Cuomo fosse de natureza sexual. Quer ele tenha entendido na época ou não, sua forma de assédio sexual foi um ato hostil com o objetivo de diminuir e menosprezar sua ex-chefe na frente da equipe”, analisou Ross.
O jornalista se manifestou sobre a acusação, e defendeu-se afirmando que a própria Ross admitiu que o ato “não foi de natureza sexual”.
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