Londres – A guerra iniciada pela Rússia contra a Ucrânia está provocando uma enxurrada de fotos e vídeos sobre os ataques ordenados por Vladimir Putin nas redes sociais, muitas deles fake news. 

Agências de checagem estão dedicadas a desvendar informações enganosas, manipuladas ou falsas sobre o conflito, amplamente disseminadas em plataformas de mídia social como Facebook, Twitter, TikTok e Telegram.

Mas é possível que cada pessoa verifique por conta própria imagens e notícias falsas antes de repassá-las adiante como verdadeiras, como ensinam os professores T.J. Thomson, Daniel Angus e Paula Dootson, da Universidade de Tecnologia de Queensland, na Austrália.

Vídeo de jatos no conflito Rússia x Ucrânia era fake news 

Em um artigo publicado no portal de textos acadêmicos The Conversation, eles afirmam que campanhas de desinformação destinadas a distrair, confundir, manipular e semear divisão, discórdia e incerteza na comunidade são uma estratégia comum em nações altamente polarizadas, nas quais desigualdades socioeconômicas, privação de direitos e propaganda prevalecem.

Um dos exemplos citados é de um vídeo de jatos militares postado no TikTok, que é uma filmagem histórica, mas legendada como vídeo ao vivo da situação na Ucrânia. O video já foi retirado do ar. 

“Elementos visuais, por causa de seu potencial persuasivo e natureza chamativa, são uma escolha especialmente poderosa para aqueles que procuram enganar”, alertam os autores.

“Nesse caso, criar, editar ou compartilhar conteúdo visual inautêntico não é sátira ou arte, e sim um ato com motivação política ou econômica”, apontam. 

As técnicas de fake news mais comuns

Usar uma foto ou vídeo existente e afirmar que veio de um momento ou lugar diferente é uma das formas mais comuns de desinformação ou fake news em contextos como o da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. 

Isso não requer software especial ou habilidades técnicas – apenas uma vontade de fazer upload de um vídeo antigo de um ataque de mísseis ou outra imagem de captura e descrevê-lo como imagem nova, explicam os professores da Universidade de Queensland. 

Eles apontam também a encenação de ações ou eventos apresentados como realidade, como os veículos destruídos que a Rússia alegou terem sido bombardeados pela Ucrânia.

“Usar uma lente ou ponto de vista específico também pode mudar a aparência da cena a fim de enganar. Uma foto em close de pessoas, por exemplo, pode dificultar a avaliação de quantos estavam na multidão, em comparação com uma foto aérea”, alertam. 

Softwares como o Photoshop favorecem a produção de fake news e desinformação, segundo os estudiosos. E isso foi feito na guerra: 

“Um exemplo de adição de objetos é a fotografia abaixo, que pretende mostrar máquinas de construção fora de um jardim de infância no leste da Ucrânia.

O texto satírico que acompanha a imagem brinca sobre o “calibre da maquinaria de construção” – o autor sugerindo que os relatos de danos aos edifícios da ordenança militar são exagerados ou falsos.”

https://twitter.com/Matryoshka_Ru/status/1494617413245091853?s=20&t=EGpdZJzg2nKzb6oGVcXsuw

Os pesquisadores afirmam que uma inspeção minuciosa revela que esta imagem foi alterada digitalmente para incluir as máquinas:

“Este tweet poderia ser visto como uma tentativa de minimizar a extensão dos danos resultantes de um ataque de mísseis apoiados pela Rússia e, em um contexto mais amplo, criar confusão e dúvida quanto à veracidade de outras imagens que emergem da zona de conflito.”

Veja aqui o que os professores da Universidade de Queensland ensinam para descobrir o que é falso ou verdadeiro no conflito Rússia x Ucrânia. 

1. Cheque os metadados dos arquivos

É comum nos depararmos com fotos e vídeos tirados do contexto nas redes sociais. Com a guerra entre a Rússia e Ucrânia, muitas imagens antigas têm sido usadas para manipular a opinião pública sobre o conflito.

Uma solução para isso é checar os metados de um vídeo ou imagem – os detalhes sobre como e quando aquele arquivo digital foi criado.

Para verificar os metadados, deve-se baixar o arquivo e usar um software como Adobe Photoshop ou Bridge para examiná-lo. Também existem visualizadores de metadados online que permitem que se verifique usando apenas o link da web da imagem.

Um obstáculo para essa abordagem, porém, é que as plataformas de mídia social, como Facebook e Twitter, geralmente retiram os metadados de fotos e vídeos quando são carregados em seus sites.

Nesses casos, se pode tentar solicitar o arquivo original a quem o publicou ou consultar sites de verificação de fatos para ver se aquela informação já foi verificada ou desmentida.

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2. Consulte as agências de fact-checking

Agências de fact-checking são organizações formadas por jornalistas independentes ou criadas dentro de grandes veículos de comunicação dedicadas a checar a veracidade de fatos ditos por autoridades públicas ou que circulam nas redes sociais.

Na pandemia de coronavírus, elas tiveram papel fundamental no combate às fake news sobre remédios ineficazes para o tratamento da covid-19.

Agora, com a guerra entre Rússia e Ucrânia, elas redobram os esforços para ajudar o público na identificação de imagens antigas tiradas de contexto ou mesmo manipuladas.

A equipe de checagem da AFP, por exemplo, já desmascarou um vídeo que supostamente mostrava uma explosão do atual conflito na Ucrânia, mas, na verdade, o registro era do desastre portuário de 2020, em Beirute.

3. Pesquise mais a fundo imagens sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia

Se um conteúdo antigo foi “reciclado” e reaproveitado para um novo contexto, é possível encontrar a mesma imagem usada em outro lugar.

Para isso, pode-se usar o Google Images ou TinEye para tentar localizar a fonte original de uma imagem e checar onde mais ela aparece online.

Atenção: edições simples, como inverter a orientação esquerda-direita de uma imagem, podem enganar os mecanismos de pesquisa e fazê-los pensar que a imagem invertida é nova.

4. Investigue inconsistências 

Se uma informação que supostamente se refere a uma explosão ocorrida à meia-noite, não faz sentido aparecer luz solar na imagem.

Nesses casos, é possível investigar os pequenos detalhes sobre o horário alegado de um fato. A suposta hora do dia corresponde à direção da luz solar daquele horário? Há relógios de pulso ou de parede na imagem que permitam identificar a hora em que foi feita a foto?

É possível cruzar essas informações “naturais” com outros dados disponíveis, como a agenda de políticos, por exemplo. Utilizar o Google Earth e o Google Maps também ajuda na identificação de pontos ou referências citadas e ver se os detalhes são consistentes.

5. Faça a si mesmo perguntas simples

Você sabe onde, quando e por que a foto ou vídeo foi feito? Você sabe quem fez isso e se está recebendo a versão original?

O uso de ferramentas online como InVID ou Forensically pode ajudar a responder algumas dessas perguntas.

Em última análise, se você estiver em dúvida, não compartilhe ou repita afirmações que não foram publicadas por uma fonte respeitável, como uma organização de notícias. E considere usar alguns desses princípios ao decidir em quais fontes confiar.

Ao fazer isso, você pode ajudar a limitar a influência da desinformação e ajudar a esclarecer a verdadeira situação na Ucrânia.

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