Uma série de reportagens analisando os acontecimentos em torno da invasão ao Capitólio valeu ao jornal Washington Post a conquista do Prêmio Pulitzer 2022 na categoria Interesse Público, considerada a principal de um dos mais importantes prêmios de jornalismo do mundo, cujos vencedores foram anunciados na segunda-feira (9).
O jornal investigou as ações ocorridas antes, durante e depois do ataque ao Congresso americano e recriou uma linha do tempo interativa do ato realizado por apoiadores de Donald Trump em 6 de janeiro de 2021.
O Pulitzer 2022 também reconheceu a coragem dos jornalistas ucranianos que cobrem a invasão russa ao país ao prestigiá-los em uma menção honrosa. “Apesar de bombardeios, sequestros, ocupações e até mortes, eles persistem em seu esforço para fornecer uma imagem precisa de uma realidade terrível, honrando a Ucrânia e os jornalistas de todo o mundo”, diz o texto da premiação.
3 prêmios Pulitzer para o New York Times
O Prêmio Pulitzer foi criado em 1917 pela Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, e premia trabalhos de jornalistas ou organizações radicadas no país em 16 categorias. É o mais importante dos EUA e um dos principais do mundo.
Embora o Washington Post tenha conquistado o prêmio principal, o New York Times, vencedor em 2021, foi destacado em três categorias.
A publicação venceu em categoria “Reportagem Internacional” por um conjunto de matérias “corajosas e implacáveis que expuseram o vasto número de civis [mortos] em ataques aéreos liderados pelos EUA, questionando relatos oficiais de compromissos militares americanos no Iraque, Síria e Afeganistão”.
O NYT também foi vencedor em “Reportagem Nacional” em reconhecimento a uma investigação sobre operações policiais letais nos EUA, “um projeto ambicioso que quantificou um padrão perturbador de abordagens de trânsito fatais pela polícia, ilustrando como centenas de mortes poderiam ter sido evitadas e como os policiais normalmente evitavam punições.”
A jornalista Salamishah Tillet, colaboradora do NYT, ganhou na categoria “Crítica” do Pulitzer por seus textos sobre histórias negras na arte e na cultura popular.
Invasão do Capitólio premiada no Pulitzer
Além da investigação do Washington Post, a cobertura fotográfica da invasão do Capitólio feita por cinco profissionais da agência Getty Images (Win McNamee, Drew Angerer, Spencer Platt, Samuel Corum e Jon Cherry) também foi reconhecida.
Eles dividiram o Prêmio Pulitzer de “Fotografia de notícias de última hora” (“Breaking News Photography”) com o fotógrafo do Los Angeles Times Marcus Yam, que fez “imagens cruas e urgentes da saída dos EUA do Afeganistão”.
A série “The Attack” do Washington Post apontou as causas, custos e consequências da invasão ao Capitólio, mostrando como as forças envolvidas que agiram para que ela acontecesse abalaram a democracia do país.
Na justificativa, o júri disse que a escolha se deu pelo “relato convincente e vívido do ataque a Washington em 6 de janeiro de 2021, fornecendo ao público uma compreensão completa e inabalável de um dos dias mais sombrios do país”.
O Post disse que a “maior honraria do jornalismo americano” reconheceu o trabalho de mais de 100 jornalistas do veículo, incluindo os que contribuíram com reportagens do Capitólio naquele dia e os que investigaram as falhas de segurança que levaram à crise, os custos do ataque e as implicações para a nação.”
The staff of The Washington Post won the 2022 Pulitzer Prize public service medal for its coverage of the causes, costs and aftermath of the Jan. 6 attack, showing how the forces behind the siege are shaking the underpinnings of democracy.https://t.co/SklyBSxnZq pic.twitter.com/0edjXbxqES
— The Washington Post (@washingtonpost) May 9, 2022
A cobertura multimídia do ataque ao Capitólio do jornal incluiu um vídeo que retratou o período de 41 minutos entre o momento em que o prédio foi invadido até o último dos congressistas ser evacuado para um local seguro.
“Nós nos esforçamos para fornecer uma visão completa das causas, custos e consequências do ataque de 6 de janeiro, que se tornou ainda mais urgente no final de maio, quando os esforços no Congresso para criar um painel bipartidário para investigar o cerco fracassaram.”
Segundo o Post, o objetivo da reportagem era descobrir novas informações sobre os eventos ocorridos antes, durante e depois da invasão ao Congresso para “fornecer ao povo americano um relato definitivo da pior profanação do Capitólio desde que as forças britânicas o queimaram em 1814.”
“A série forneceu uma cobertura contundente das falhas que levaram ao ataque e ilustrou como as forças por trás desse ataque permanecem potentes, minando a fé que muitos americanos têm na integridade de suas eleições.”
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Jornalistas ucranianos ganham menção honrosa no Pulitzer 2022
A guerra na Ucrânia foi mencionada no Prêmio Pulitzer, que concedeu uma menção honrosa aos jornalistas do país que trabalham na cobertura da invasão russa.
“O Conselho Pulitzer concede uma citação especial aos jornalistas da Ucrânia por sua coragem, resistência e compromisso com reportagens verdadeiras durante a implacável invasão de seu país por Vladimir Putin e sua guerra de propaganda na Rússia.
Apesar de bombardeios, sequestros, ocupações e até mortes em suas fileiras, eles persistiram em seu esforço para fornecer uma imagem precisa de uma realidade terrível, honrando a Ucrânia e os jornalistas de todo o mundo.”
O texto foi lido pela administradora dos prêmios, Marjorie Miller, durante a cerimônia de entrega realizada na segunda-feira (9), na Universidade de Columbia, em Nova York.
Desde o início da guerra, em fevereiro, ao menos oito jornalistas já morreram — quatro deles ucranianos — na cobertura do conflito.
A última morte registrada foi a de Oleksandr Makhov. O repórter ucraniano trocou o trabalho na televisão para ser voluntário nas forças armadas do país e morreu em um bombardeio na região de Kharkiv, em 4 de maio.
Os principais destaques do Pulitzer neste ano foram para eventos relacionados à polarização política e à ampla divulgação de fake news — a guerra na Ucrânia e a invasão ao Capitólio.
O Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, celebrado em 3 de maio, reforçou os apelos de entidades e organizações que apoiam a mídia independente para a que a profissão de jornalista não seja politizada e cessem os ataques aos profissionais com o objetivo de impedi-los de realizarem seu trabalho.
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O que é o Prêmio Pulitzer
Criado em 1917, o Prêmio Pulitzer é concedido a pessoas e organizações que realizam trabalhos em jornalismo, literatura e música. Na área de jornalismo, a premiação é considerada a mais importante do mundo e é dividida em 16 categorias.
Os vencedores são anunciados anualmente em uma cerimônia na Universidade de Columbia, em Nova York.
Vencedores da categoria “Serviço Público”, como o Washington Post neste ano, recebem uma medalha de ouro com o rosto do idealizador do evento, o jornalista húngaro Joseph Pulitzer.
Os ganhadores das demais categorias recebem um certificado e uma bonificação de US$ 10 mil (cerca de R$ 50 mil, na cotação atual).
Conheça os outros vencedores do Pulitzer de Jornalismo 2022
A equipe do Miami Herald venceu em “Reportagem de última hora” (Breaking News) pela cobertura do colapso do condomínio Champlain Towers South, “mesclando uma escrita clara e compassiva com notícias abrangentes e reportagens de responsabilidade.”
Em “Reportagem Investigativa“, os jornalistas Corey G. Johnson, Rebecca Woolington e Eli Murray, do Tampa Bay Times, foram os vencedores ao denunciarem os perigos tóxicos da única fábrica de reciclagem de baterias da Flórida.
A equipe da Quanta Magazine, de Nova York, com destaque para editora Natalie Wolchover, venceu a categoria “Reportagem explicativa” por uma cobertura que revelou as complexidades da construção do Telescópio Espacial James Webb, projetado para facilitar pesquisas astronômicas e cosmológicas inovadoras.
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Em “Reportagem local“, as jornalistas Madison Hopkins, da Better Government Association, e Cecilia Reyes, do Chicago Tribune, foram as selecionadas por examinarem falhas na aplicação do código de segurança contra incêndio e construção de Chicago.
A jornalista Jennifer Senior, do The Atlantic, venceu a categoria de “Matéria Especial” (Feature Writing) por uma história sobre os 20 anos do 11 de setembro, “entrelaçando magistralmente a conexão pessoal da autora com reportagens sensíveis que revelam o longo alcance do luto.”
O Pulitzer de “Comentário” foi para Melinda Henneberger, do The Kansas City Star, “por colunas persuasivas exigindo justiça para supostas vítimas de um detetive aposentado acusado de ser um predador sexual.”
Na categoria “Editorial de Opinião“, os jornalistas Lisa Falkenberg, Michael Lindenberger, Joe Holley e Luis Carrasco, do Houston Chronicle, venceram por um conjunto de reportagens originais que “revelou táticas de supressão de eleitores, rejeitou o mito da fraude eleitoral generalizada e defendeu reformas sensatas de votação.”
A equipe do Insider composta por Fahmida Azim, Anthony Del Col, Josh Adams e Walt Hickey levou o Pulitzer de “Reportagem Ilustrada e Comentários” com uma reportagem gráfica que usou quadrinhos para contar “uma história poderosa e íntima da opressão chinesa aos uigures, tornando a questão acessível a um público mais amplo.”
A categoria “Reportagem em áudio” teve como vencedor as equipes das produtoras Futuro Media e PRX, que realizaram o podcast de sete episódios “Suave”, descrito pelo júri como “um perfil brutalmente honesto e imersivo de um homem que volta a entrar na sociedade depois de cumprir mais de 30 anos de prisão.”
Em “Fotografia Especial” (“Feature Photography”), quatro fotógrafos da agência Reuters, entre eles Danish Siddiqui, que morreu em uma emboscada do Talibã, no Afeganistão, em 2021, venceram por registros da pandemia de covid-19 na Índia.
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