Londres – Dois anos depois de ter sido banido das grandes redes sociais sob acusação de ter incitado a invasão do Capitólio, o ex-presidente Donald Trump sinaliza seu retorno ao mundo das Big Techs, que ele tanto criticou e chegou a desdenhar quando lançou sua própria plataforma.
A campanha de Trump à presidência dos EUA enviou esta semana uma carta à Meta, controladora do Facebook e do Instagram, solicitando a reativação de sua conta nas redes sociais, já que o prazo de suspensão era de dois anos.
O novo dono do Twitter, Elon Musk, já tinha reativado a conta do ex-presidente em novembro, mas ele ainda não a utilizou, motivando especulações de que o motivo seria não enfraquecer a sua rede, a Truth Social.
No entanto, segundo analistas da mídia americana, uma audiência maior nas redes sociais é vital para a tentativa do ex-presidente de voltar ao cargo. Por isso, ele pode deixar seu interesse direto no negócio próprio de lado em nome de uma mobilização maior e de mais oportunidades de arrecadação de fundos para a campanha.
Na eleições primárias dentro do Partido Republicano, ele vai enfrentar diretamente o governador da Flórida, Ron DeSantis, para conseguir a vaga de candidato e concorrer com o escolhido pelo Partido Democrata em 2024.
Trump está na frente nas pesquisas, mas a campanha ainda não esquentou. E ele vem sendo criticado por não ter feito eventos desde que se anunciou candidato.
O ex-presidente tinha mais de 87 milhões de seguidores no Twitter e 34 milhões no Facebook quando foi desligado, em janeiro de 2021.
Na Truth Social, tem apenas 4,83 milhões. E usa como fotos de destaque e de perfil as mesmas que estão na conta do Twitter, associando visualmente uma à outra.
Embora ele tenha esnobado as grandes plataformas quando criou sua própria rede, chegando a dizer que ‘não via razão para voltar’, e prometendo que a Truth Social seria maior do que elas, não foi o que aconteceu na prática.
A rede social teve problemas para decolar e não chega nem perto do público atingido pelas Big Techs. Em setembro passado, a empresa de monitoramento Sense Tower estimou que apenas 92 milhões de usuários haviam baixado o aplicativo da Truth Social.
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A rede americana NBC teve acesso à carta enviada pela campanha de Trump à Meta, pedindo uma reunião “para discutir a pronta reintegração à plataforma”. O argumento é a liberdade de expressão.
O ex-presidente não falou diretamente sobre planos de retorno às redes sociais de maior audiência, mas fontes ligadas a ele mandaram recados.
A NBC disse ter conversado com um republicano ligado a Trump, que confirmou a volta ao Twitter, sendo “apenas uma questão de como e quando”. Outra fonte disse que conselheiros de campanha trabalham em ideias para o grande retorno.
Sua última postagem na rede mais influente no jornalismo e na política é de 8 de janeiro de 2021, dizendo que não iria à posse de Joe Biden.
https://twitter.com/realDonaldTrump/status/1347569870578266115?s=20&t=_bMx5EyXAjq4kaYQKlkHuA
A conta havia sido bloqueada no dia 8 de janeiro de 2021, e reativada por decisão de Elon Musk em novembro passado.
O dono do Twitter fez uma enquete entre seus seguidores, que resultou em 51,8% dos votos a favor da reativação da conta de Donald Trump.
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Trump e as redes sociais da Meta
No caso da Meta, a volta depende de uma decisão da empresa, que prometeu uma resposta ‘nas próximas semanas, de acordo com o processo estabelecido”.
O bloqueio das contas de Donald Trump nas reds sociais da Meta, em janeiro de 2021 foi inicialmente sem prazo definido. Em seguida, o caso foi levado para análise do Conselho de Supervisão da companhia, formado por especialistas como jornalistas, acadêmicos e legisladores e encarregado de validar ou anular decisões de moderação.
Em maio, o Conselho emitiu um parecer considerado “em cima do muro”, devolvendo o problema de volta à Meta sob o argumento de que o banimento por tempo indeterminado violava as políticas do Facebook, e que ela deveria determinar um prazo. Mas não julgou o mérito do bloqueio.
Embora tivesse seis meses para responder, a Meta foi rápida. Em junho de 2021, decretou uma suspensão com prazo determinado, de dois anos, até 7 de janeiro deste ano.
Ao anunciar a decisão, a empresa disse que avaliaria em conjunto com especialistas se o risco para a segurança pública diminuiu antes de autorizar a volta de Trump.
No comunicado, a empresa fez a ressalva de que se ainda houvesse riscos, Trump poderia ficar fora das redes sociais por mais tempo.
E informou que quando a suspensão fosse levantada, haveria um conjunto de sanções que seriam acionadas se o ex-presidente cometesse violações, incluindo a remoção de suas páginas e contas.
A julgar pelo tom das postagens recentes na Truth Social e discursos na pré-campanha eleitoral, ele não mudou muito o estilo, deixando a Meta na difícil posição de ter que arbitrar o que é risco para segurança pública caso ele volte às redes sociais da empresa.
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