Londres – Um estudo mundial sobre efeitos da mudança climática sobre jovens de dez países revelou que para 75% dos entrevistados “o futuro é assustador’”. Os jovens do Brasil estão entre as maiores vítimas da “ecoansiedade” e revelaram-se os mais críticos quanto ao papel do governo.
O governo brasileiro foi o pior avaliado em todos os oito quesitos pesquisados, e os jovens brasileiros foram os que se mostraram mais hesitantes em ter filhos.
A pesquisa foi realizada pela Universidade de Bath, está sendo apresentada nesta terça-feira (14/9) no Reino Unido e publicada no periódico científico The Lancet Planetary Health.
O estudo foca na ecoansiedade, como vem sendo chamado o fenômeno que afeta a saúde mental de uma ou mais gerações, faz com que jovens se sintam traídos e abandonados por governos que não parecem se preocupar com o futuro. Foram realizadas entrevistas com 10 mil adolescentes e jovens entre 16 e 25 anos.
Jovens brasileiros são os que mais acham que seu governo falha com eles e mente sobre a crise climática
Os adolescentes e jovens brasileiros são os que mais acreditam que o seu governo não liga para angústia das pessoas (80%), que seu governo falha com eles (79%), que a administração pública mente sobre as ações adotadas para conter a crise climática (78%) , e que trai as novas gerações (77%).
Os brasileiros são também os que menos acham que seu governo protege o planeta e as futuras gerações (18%) ou que atua na questão das mudanças climáticas de forma alinhada com a ciência (22%). Apenas 22% dos adolescentes e jovens brasileiros acha o governo confiável e somente um em cada cinco deles acha que seus governantes esteja agindo para evitar a catástrofe.
As médias dos brasileiros são piores do que todas as médias globais.
No mundo, maior preocupação é a falha com os jovens. Para os brasileiros, é a indiferença com a angústia das pessoas
Para 65% da amostra total, os dez governos avaliados têm falhado com os jovens. Esse é o tema que mais preocupa os jovens do mundo todo, seguido pela mentira dos governos sobre o impacto de suas ações, o fato de não ligar para a angústia das pessoas e a traição às futuras gerações.
Esses quatro temas também são os que mais preocupam os brasileiros, mas com o fato de o governo não ligar para a liderança das pessoas, citado pela impressionante quantidade de oito de cada dez dos entrevistados.
Governos finlandês e indiano foram os melhores avaliados pelos jovens de seu país
Enquanto o governo brasileiro recebeu as piores avaliações nos oito quesitos, os governos finlandês e indiano dividiram as melhores avaliações, cada um se sobressaindo em quatro quesitos.
Os entrevistados finlandeses foram os que melhor avaliaram o seu governo quanto à preocupação com os jovens, em falar a verdade sobre o impacto de suas ações, de se importar com a angústia das pessoas e de ter um compromisso com as futuras gerações.
Já o governo indiano recebeu as melhores avaliações em confiabilidade, em agir alinhado com a ciência, em proteger o planeta e na atuação para evitar a catástrofe.
Jovens brasileiros são os mais hesitantes em ter filhos
O estudo quis saber também as percepções dos jovens quanto à questão das mudanças climáticas. Os temas que mais preocupam os jovens do mundo todo são o de que as pessoas falharam em cuidar do planeta (83%), que o futuro é ameaçador (75%), que a humanidade está condenada (56%).
Esses três itens são também os que mais preocupam os jovens brasileiros, na mesma ordem. A diferença é que os brasileiros colocam a ameaça à segurança da família em quarto lugar, enquanto na média global aparecem empatados na quarta colocação as percepções de que os jovens terão menos oportunidades do que seus pais e que o mais valioso será destruído.
Os jovens brasileiros foram os que se mostraram mais hesitantes em ter filhos, com quase metade deles (48%) admitindo estar nessa situação. Esse percentual está bem acima da média global de 39%. Os mais confiantes para formar uma família são os nigerianos.
Do lado positivo, os finlandeses são os que menos acham que terão menos oportunidades do que os pais e os norte-americanos os que menos se preocupam com a segurança de sua família.
Os filipinos lideraram as percepções negativas em cinco quesitos: o insucesso das pessoas em cuidar do planeta, a ameaça do futuro, a segurança de sua família, e os sentimentos de que terão menos oportunidades do que os pais e de que o mais valioso será destruído. Já os indianos são os que mais acham que a humanidade está condenada.
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Quase metade da juventude global pesquisada (45%) disse que a ansiedade e o estresse climático estão afetando suas vidas diárias.
“Jovens do mundo todo estão cientes de que as pessoas no poder estão falhando. Alguns vão usar isso como outra desculpa desesperada para não falar sobre o clima, como se esse fosse o verdadeiro problema.
Na minha experiência, o que está fazendo os jovens se sentirem pior é o oposto — ou seja, o fato de que estamos ignorando a mudança climática e não falando sobre ela”, afirma a ativista sueca Greta Thunberg, eleita pessoa do ano pela revista Time em 2019 por sua luta pelo ambiente.
Olhando os cenários por países, os jovens brasileiros ficaram em primeiro lugar entre os que acham que a humanidade falhou no cuidado com o planeta (92%). A percepção de um “futuro assustador” é de 92% nas Filipinas e 86% no Brasil, segundo na lista.
“O estudo mostra um quadro de ansiedade climática generalizada em nossas crianças e jovens. Isso sugere pela primeira vez que altos níveis de sofrimento psicológico na juventude estão ligados à inação do governo”, afirma uma das autoras da pesquisa, Caroline Hickman, da Universidade de Bath.
O estudo adverte que “níveis tão elevados de sofrimento, impacto funcional e sentimentos de traição afetarão negativamente a saúde mental de crianças e jovens.”
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Especialistas alertam que, como a inação contínua do governo em relação à mudança climática é psicologicamente prejudicial, isso pode ser considerado uma violação da lei internacional de direitos humanos, o que já motiva processo movido por jovens contra o governo de Portugal.
A pesquisa foi realizada pela empresa de análise de dados Kantar no Reino Unido, Finlândia, França, Estados Unidos, Austrália, Portugal, Brasil, Índia, Filipinas e Nigéria e está sob revisão por pares.
Os custos foram financiados pela plataforma Avaaz a partir de doações de cidadãos de todo o mundo..
As instituições envolvidas são: Universidade de Bath, Universidade de Helsinque, NYU Langone Health, Universidade de East Anglia, Centro de Medicina de Stanford para Inovação em Saúde Global e Oxford Health NHS Foundation Trust, The College de Wooster, Climate Psychiatry Alliance.
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