Enquanto jornalistas mexicanos se preparavam para uma manifestação na capital do país contra o assassinato do colega Luis Enrique Ramírez Ramos, chegou a notícia de que mais duas profissionais de mídia morreram na segunda-feira (9), no estado de Veracruz. 

Yessenia Mollinedo Falconi e Sheila Johana García Olivera, respectivamente diretora e repórter do site de notícias El Veraz em Cosoleacaque, morreram ao serem baleadas do lado de fora de uma loja de conveniência, segundo a Comissão Estadual de Atenção e Proteção a Jornalistas.

A Procuradoria do Estado de Veracruz confirmou as mortes via Twitter e informou estar investigando se os crimes tiveram relação com o trabalho. Com as novas mortes, sobe para 11 o número de assassinatos de jornalistas no México em 2022.

Assassinatos de jornalistas aconteceram em região de narcotráfico no México

O El Veraz em Cosoleacaque é um veículo de comunicação pequeno e local, que mantinha no ar uma página no Facebook. Na rede social, suas publicações mais frequentes eram avisos sobre eventos ou informações divulgadas pelo governo do município. O lema do jornal era “Jornalismo com Humanidade”.

Profissionais de veículos pequenos e regionais como o El Veraz são maioria entre os crimes contra jornalistas registrados no México.

A cidade de Cosoleacaque fica próxima a uma importante rota de migrantes comandada pelo crime organizado no sudeste de Veracruz, de acordo com informações da agência Associated Press (AP).

Apesar da suspeita de envolvimento de quadrilhas do narcotráfico na morte das jornalistas, não houve indicação imediata de quem poderia ter sido o responsável pelos crimes.

O governador de Veracruz, Cuitláhuac García, publicou no Twitter que a busca pelos responsáveis ​​está em andamento:

“Encontraremos os autores deste crime, haverá justiça e não haverá impunidade como dissemos e fizemos em outros casos.”

Manifestação contra mortes de jornalistas no México

Jornalistas já haviam agendado uma manifestação para segunda-feira na Cidade do México em protesto contra a morte de seus colegas, mais recentemente a de Luis Enrique Ramírez Ramos, em Sinaloa, o nono jornalista a ser morto no país neste ano.

Os governos estaduais e federal do México são criticados pela imprensa e organizações de não impedirem os assassinatos de profissionais da mídia nem realizarem investigações adequadas que apontem os responsáveis pelos crimes.

No mais recente Ranking Global de Liberdade de Imprensa da organização Repórteres sem Fronteiras (RSF), o país apareceu na 127ª posição entre 180 países analisados, e a escalada crescente de violência faz do México o país mais mortífero para jornalistas.

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Na noite de segunda-feira, Griselda Triana, a viúva de Javier Valdez, jornalista morto em 2017, falou para cerca de 200 profissionais de imprensa reunidos na capital mexicana.

Valdez era um dos jornalistas mais conhecidos do país e premiado por sua cobertura especializada no narcotráfico e no crime organizado no estado de Sinaloa quando foi assassinado.

“Em todo esse tempo, não parei de pensar em como é fácil para eles matar um jornalista no México”, disse Triana. “Fico magoada cada vez que tiram a vida de tantos colegas.”

“Há tanta raiva, indignação, impotência sabendo que viemos aqui para protestar contra o assassinato de Luis Enrique Ramírez, [que aconteceu] há poucos dias em Culiacan, Sinaloa, e a notícia do assassinato de duas mulheres jornalistas em Veracruz chega até nós aqui.

Os crimes contra a liberdade de expressão continuam ocorrendo todos os dias. Não devemos tolerar isso. Temos autoridade para pedir às autoridades que parem com essa chacina de jornalistas”.

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Os assassinatos de Yessenia Mollinedo Falconi e Sheila Johana García Olivera aconteceram apenas alguns dias depois da morte de Luis Enrique Ramírez Ramos.

O corpo de Ramirez, de 59 anos, foi encontrado na quinta-feira (5) dentro de um saco preto à beira de uma estrada em Culiacán.

O site de notícias fundado por ele, “Fuentes Fidedignas”, informou o seu sequestro perto de onde morava horas antes.

A cidade é a capital do estado de Sinaloa, onde opera o cartel de mesmo nome, uma das maiores organizações criminosas do mundo. 

Ramirez era um profissional conhecido, premiado, com mais de 40 anos de carreira, passagens por grandes jornais mexicanos e colunista de política do El Debate, organização de mídia regional com mais de 300 funcionários. 

Depois que a morte foi confirmada, a Procuradora Geral do Estado, Sara Bruna Quiñónez, disse “não descartar nenhuma linha de investigação”, como relatou o Fuentes Fidedignas.

E assegurou que as investigações serão feitas “mesmo que isso signifique chamar atores da vida política do Estado”.

As organizações de defesa da liberdade de imprensa internacionais, como o Centro de Proteção a Jornalistas (CPJ), voltaram a criticar fortemente a impunidade e insegurança para a mídia no México, cobrando apuração.

O novo assassinato coloca o presidente do país, Andres Manuel Lopéz Obrador, em situação ainda mais difícil diante de críticas locais e notícias nos principais veículos de imprensa do mundo, afetando a imagem do país.

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