A tenista Naomi Osaka, que já boicotou a imprensa tradicional em uma briga que acabou em punição pelos organizadores dos torneios do Grand Slam, vai assumir o controle das narrativas que quer compartilhar com o lançamento de uma nova empresa, a produtora de conteúdo Hana Kuma.

Em parceria com o astro do basquete LeBron James, a tetracampeã do Grand Slam anunciou a criação do empreendimento que, nas palavras dela, vai abordar “histórias incríveis que não estão sendo contadas”.

“Estou orgulhosa de construir um negócio que é um verdadeiro reflexo de mim e não poderia pensar em um parceiro melhor do que LeBron James para fazer isso”, disse ela no Instagram. 

Parceria com NYT será 1º projeto da empresa de mídia de Naomi Osaka

Naomi está num momento difícil da carreira, pois problemas de saúde física e mental ganharam mais manchetes dos que seus feitos nas quadras nos últimos meses.

O momento é propício para a japonesa de 24 anos aproveitar o enorme capital de imagem que tem para se aventurar em outros negócios e se aproximar ainda mais de públicos fora do esporte.

A empresa SpringHill Company de LeBron James e do empresário americano Maverick Carter será a parceira de financiamento, operações e produção para a Hana Kuma, comandada por Naomi Osaka e seu agente Stuart Duguid.

Esse será a segunda sociedade da dupla. Em maio, eles lançaram a agência esportiva Evolve, que teve o tenista australiano Nick Kyrgios como primeiro cliente anunciado nesta semana.

A diversidade de negócios da japonesa não é novidade. Sob a supervisão de Duguid, Naomi Osaka assinou vários acordos de parceria e, no ano passado, ficou em segundo lugar na lista dos 50 atletas mais “comercializáveis” ​​da SportsPro, tendo ficado na primeira posição em 2020.

Agora, ela quer expandir sua visão para além do marketing e das quadras de tênis. Com a Hana Kuma (do japonês “flor” e “urso”, respectivamente), Osaka produzirá “histórias que são culturalmente específicas, mas universais para todos os públicos”, diz no comunicado à imprensa. 

A tenista afirma que é a abertura do mercado de entretenimento para criadores de conteúdo diversos culturalmente que permitirá isso.

E sua aposta parece ser no streaming, onde os conteúdos têm “uma perspectiva mais global”, segundo ela.

“Construí minha carreira com uma abordagem diferente daquelas ao meu redor e, como minha jornada foi tão diferente, abriu meus olhos para todas as histórias incríveis que não estão sendo contadas”, publicou Naomi no Instagram.

“Histórias que são globais, sobre uma variedade de culturas e pontos de vista, sobre questões sociais importantes.

É por isso que estou lançando a Hana Kuma, uma plataforma de mídia focada em histórias culturalmente específicas, mas universais. Histórias ousadas e divertidas como eu.”

“Estou incrivelmente orgulhosa de construir um negócio que é um verdadeiro reflexo de mim e não poderia pensar em um parceiro melhor do que LeBron James para fazer isso.”

O jogador de basquete também falou sobre a nova empresa de Naomi Osaka nas redes sociais:

“Há uma razão para chamarmos a nós mesmos de ‘Empresa de Empoderamento’. Essa mulher incrível e as histórias que ela vai trazer à vida é EXATAMENTE o que nós somos! Incrivelmente orgulhoso de chamá-la de minha parceira.”

O projeto de estreia da Hana Kuma será o próximo documentário do The New York Times, “MINK!”, sobre Patsy Mink, a primeira mulher não-branca eleita para o Congresso dos EUA.

A direção será de Ben Proudfoot, ganhador do Oscar por outro filme produzido para o jornal, “The Queen of Basketball”, sobre a história da jogadora de basquete Lucy Harris, que venceu como o Melhor Documentário de Curta-Metragem em 2022.

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Em entrevista ao jornal para qual desenvolverá o primeiro projeto audiovisual, a tenista disse que pretende fazer séries para a TV, documentários, animes e conteúdos para marcas com a nova produtora. 

“Honestamente, não posso dizer se estarei pessoalmente em alguma coisa agora”, disse Osaka ao NYT. “O que me empolga é poder inspirar as pessoas e contar novas histórias, principalmente aquelas que eu gostaria de ver quando criança. Eu sempre quis ver alguém como eu [nas telas]”.

Nascida no Japão, ela é filha de mãe japonesa e pai haitiano, mas cresceu nos Estados Unidos. Fora das quadras, Naomi Osaka ganhou notoriedade como ativista e sempre falou abertamente sobre assuntos sensíveis para esportistas-estrelas e demais celebridades, como racismo, por exemplo.

No ano passado, conflitos com a imprensa durante o torneio de Roland Garros expôs seus problemas de saúde mental, que também não fez questão de esconder.

Ao se recusar a participar das entrevistas coletivas da competição, alegando que a prejudicavam emocionalmente, ela foi multada em US$ 15 mil e ameaçada de desqualificação (as declarações a jornalistas fazem parte do contrato dos atletas com o circuito Grand Slam).

Por causa disso, ela desistiu de participar do campeonato. Mas ganhou apoio de colegas do esporte e até de patrocinadores. 

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Após o episódio, ela declarou em entrevistas que já enfrentou, no passado, depressão e ansiedade.

Em artigo de sua autoria publicado na revista americana Time, ela descreveu suas dificuldades e explicou os sentimentos de forma transparente e rara em um meio em que atletas devem ser vistos como heróis fortes e invencíveis.

E disse não ser contra a mídia, e sim contra o sistema de entrevistas coletivas obrigatórias após as partidas do circuito Grand Slam, admitindo que “nunca se pode agradar a todos” em um mundo dividido como o de hoje.

Essa franqueza atingiu um público além dos fãs de esporte, em especial os jovens. Nas Olimpíadas de Tóquio, a tenista também falou sobre a “pressão” para uma alta performance.

Talvez por isso, nos últimos meses, ela tenha demonstrado dificuldades no tênis. Osaka foi eliminada na primeira rodada do Aberto da França, em maio.

E, na semana passada, contou que não iria para Wimbledon por uma lesão no tendão de Aquiles — apesar de, antes, ter criticado a mudança no sistema de pontos.

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