Londres – Antes de a pandemia interromper as turnês musicais na Europa, a casa do publicitário Washington Olivetto em Londres, onde ele vive desde 2017, era ponto de encontro de artistas brasileiros que faziam shows na capital inglesa, reunidos para matar saudades e bater papo após as apresentações. Em mais de 50 anos de carreira, ele colecionou tantos amigos quanto prêmios internacionais. 

Aqueles que gostariam de ser uma mosquinha para acompanhar essas conversas intimistas com os famosos terão agora a chance. Depois de uma primeira temporada da série W/Cast, lançada no início deste ano em formato áudio, o publicitário está no Rio de Janeiro gravando a segunda temporada, desta vez em vídeo, que entra no ar no dia 29 de setembro em seu canal no YouTube.

Serão 15 episódios, em que Olivetto conversará de forma descontraída em sua casa na Zona Sul da cidade com nomes como Nelson Motta, Lulu Santos, Jorge Ben Jor, Paula Toller, Roberta Sudbrack, Maria Prata, Roberto Medina e João Carlos Martins, relembrando histórias que viveram juntos e revelando segredos bem guardados do mundo do entretenimento. Ele promete pelo menos duas histórias exclusivas por capítulo. 

Segredos de Tim Maia

Nesta sexta-feira (10/9), as conversas foram com Malu Mader e Andrucha Waddington. No sábado as gravações terminam, com Boni e Edson Celulari.

No clipe a seguir, que o MediaTalks teve acesso em primeira mão, pode-se ter uma ideia do que será a série. Olivetto conversa com um de seus grandes amigos e parceiro de grandes jornadas musicais, Nelson Motta, sobre uma das lendas da MPB, Tim Maia.

Ele revela como o comportamento do “síndico da MPB” era bem diferente de manhã e à noite, depois que ele passava o dia dormindo para se recuperar dos excessos da madrugada. 

E registra que, contrariando a fama de tresloucado, o astro levava o trabalho muito a sério, a ponto de entregar as versões já editadas da canção Como Uma Onda No Mar para os comerciais do chinelo Rider com diferentes durações, sem que ninguém tivesse pedido. 

Olhando o Brasil de longe 

A série W/Cast em vídeo entra no ar no dia em que Washington Olivetto completa 70 anos.  O sucesso da primeira temporada, que ficou entre os 25 podcasts mais ouvidos do Brasil em 2021, confirma que além de ser um dos mais premiados da história da propaganda mundial, o autor de campanhas memoráveis como O Primeiro Sutiã e Garoto Bombril é também um ótimo papo. 

E um observador atento do Brasil, que agora enxerga de longe, desde que deixou o comando da McCann Brasil e radicou-se em Londres com a mulher Patrícia e os filhos gêmeos, Antônia e Theo. 

Em conversa com o MediaTalks, ele analisou como a percepção sobre o Brasil no exterior mudou: 

“Durante anos nossa imagem era a do país da doçura, mas de uns tempos pra cá passou a ser a do país do amargor. Trocamos a alegria e a leveza das Havaianas pela sisudez e o peso dos coturnos.”

Para Olivetto, o país “não voltou no tempo, porque nunca viveu tempos como esse, seja em tempos de democracia, seja em tempos de ditadura”:

“O Brasil virou uma outra coisa que ninguém sabe bem qual é.”

O publicitário acha que o atributo mais forte que o país tem a explorar se quiser melhorar sua imagem externa é o brilhantismo das suas pessoas.

“A imagem do Brasil pessoa jurídica poderia ser construída através da somatória das imagens das nossas mais brilhantes pessoas físicas.”

Washington Olivetto recebe elenco de estrelas em múltiplos formatos

Uma boa amostra deste brilhantismo vai estar na série W/Cast. A produção é esmerada,  a cargo da HUB Mídia, que tem como sócio o ex-executivo da Globo Ricardo Scalamandré. 

Os episódios serão oferecidos nas principais plataformas de áudio, no canal do YouTube e em redes sociais como TikTok, Instagram e Facebook.

O elenco é estelar, reunindo figuras reconhecidas em várias áreas. 

Entre os 15 convidados estão lendas da MPB e do rock Brasil, como Paula Toller, amiga de longa data.

(Divulgação W/Cast)

A música sempre teve lugar de destaque em comerciais históricos que o publicitário criou.  

“A minha história com música vai de ‘Carinhoso’ do Pixinguinha para um filme do Chambinho até o BRA de Brasil, com Sergio Mendes, para as Olimpíadas de 2016.”

A lista é longa. As releituras de clássicos para as campanhas do chinelo Rider geraram mais de 21 Discos de Ouro. Teve Tim Maia cantando Como Uma Onda, de Lulu Santos e Nelson Motta, e também Paralamas, Rita Lee e Skank, em uma inesquecível interpretação de Vamos Fugir, de Gilberto Gil.

Em conversas informais, Olivetto e os convidados vão lembrar histórias do passado, muitas inéditas, e falar de arte, música, cinema, televisão e futebol, uma das paixões do corintiano. O ex-jogador Raí é um dos entrevistados do W/Cast.

Mas o publicitário anda decepcionado com a bola:

“A seleção já vinha se distanciando do público, pela pouquíssima presença de jogadores do time no cotidiano dos brasileiros.

A camisa já não vinha bem, e associada a uma postura conservadora fica ainda pior, porque se tem uma característica que sempre encantou no futebol brasileiro foi o fato de ele ser o menos conservador possível. Somos o país do futebol inventivo e surpreendente. Do futebol arte.”

 Marketing político

A agência W, criada por Olivetto e vendida para o grupo Interpublic (hoje W/McCann) nunca fez campanhas políticas, nem teve contas de governo. 

“Costumo dizer que não ter feito campanhas políticas, nem para empresas públicas, foi um dinheiro muito bom de não ganhar.”

Com a aproximação das eleições de 2022, ele falou ao MediaTalks sobre sua visão a respeito do marketing político: 

“Vejo uma conotação pejorativa na palavra marqueteiro, utilizada pra definir quem trabalha com propaganda política. Não gosto quando a imagem de marqueteiros se mistura com a imagem dos publicitários de verdade”.

Ele não morre de amores por Steve Bannon, o marqueteiro que ajudou a eleger Donald Trump e que agora diz que o pleito no Brasil no ano que vem será o “segundo mais importante do mundo”.

“A publicidade na qual acredito é aquela que tem uma grande verdade dita de maneira original e encantadora. Gosto mais da inteligência do que da frequência.

O Steve Bannon prefere uma mentira repetida várias vezes a uma verdade brilhante. Não me encanto com o trabalho dele, mas sei que ele pode até vencer algumas eleições, porque na política, assim como na vida, nem sempre vence o melhor.”

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