Depois de atingir o índice mais alto durante o primeiro pico da pandemia no ano passado, a confiança global nas notícias da imprensa atinge agora o seu ponto mais baixo desde 2012. A conclusão é da edição 2021 do Edelman Trust Barometer, que ouviu mais de 33 mil pessoas globalmente.
O pico do ano passado
A agência Edelman tinha divulgado em maio uma pesquisa realizada em abril em 11 países (Brasil não incluído) que mostrara que a pandemia tinha feito a confiança nas notícias da imprensa tradicional atingir a marca de 69 pontos numa escala até 100, o ponto mais alto de sua série histórica, tomando 10 países como base comparativa. Em quatro meses, o índice subiu 7 pontos, o maior incremento verificado desde o início do estudo.
O mergulho deste ano
A edição 2021, que acaba de ser divulgada, mostra que esse aumento não se sustentou. Com base em dados do dobro de países (22), o levantamento demonstra que todas as fontes de notícias despencaram para suas mínimas históricas, no que o estudo chamou de “Falência da Informação”.
A confiança nas notícias gerais divulgadas pela imprensa tradicional caiu 8 pontos, a maior queda de sua série histórica e também a maior de todas as fontes analisadas ao longo do último ano.
Apesar da forte queda, a imprensa continuou como uma das duas fontes de notícias mais confiáveis, logo abaixo dos mecanismos de busca, que também tiveram uma queda significativa ao longo do último ano, de 6 pontos.
O pior índice foi o das notícias divulgadas pelas mídias sociais, que contam com a confiança de pouco mais de um terço (35%) dos respondentes.
Mais de sete entre dez brasileiros consideram que imprensa não é objetiva e isenta
Globalmente, 61% dos respondentes consideram que a imprensa não vem desempenhando bem o seu dever de ser objetiva e não partidária. Dez países mostraram-se ainda mais críticos, entre eles o Brasil.
Mais de sete em cada dez dos respondentes brasileiros (72%), a sétima maior marca entre os 27 países pesquisados, consideram que a imprensa não está fazendo um bom trabalho nesse sentido.
Além disso, quase seis em cada dez (59%) dos respondentes da amostra global consideram que as organizações de notícias estão mais preocupadas em apoiar uma ideologia ou uma posição política do que informar o público.
Quase 60% consideram que jornalistas estão propositalmente tentando enganar o público
Os jornalistas também foram mal avaliados. Uma parcela de 59% dos respondentes considera que os profissionais de imprensa estão propositalmente tentando enganar as pessoas dizendo coisas que sabem ser falsas ou exageradas. Esse percentual é maior do que o dos líderes governamentais (57%) ou empresariais (56%) que os respondentes consideram estarem fazendo o mesmo.
Confiança nos jornalistas caiu 5% no último ano
A confiança nos jornalistas da amostra dos 27 países caiu 5 pontos desde o ano passado, chegando à marca de 45 pontos numa escala de 100, acima apenas das avaliações de líderes religiosos ou governamentais. Os cientistas foram considerados os mais confiáveis, por 73% dos respondentes.
Índice de confiança dos brasileiros na mídia é o 16º entre 28 países pesquisados
Enquanto a confiança global na mídia aumentou dois pontos no último ano, a dos brasileiros cresceu o dobro, atingindo a marca de 48 pontos, pouco abaixo da média global de 51. O índice do Brasil é o 16º entre os 28 da base comparariva.
Assim como no Brasil, a confiança na mídia ao longo do último ano aumentou em 15 dos 27 países da base comparativa (a Nigéria passou a ser analisada este ano). Aconteceram quedas em nove, sendo as maiores na China (-10), Colômbia (-9) e México (-6). Os que mais confiam na mídia são os indonésios e os que menos confiam são os russos.
Confiança dos brasileiros na mídia só é maior do que no governo, cujo índice é um dos 9 piores dos 28 analisados
A pesquisa demonstrou que o menor índice de confiança dos brasileiros é no governo. Apesar de ter subido dois pontos ao longo do último ano, o percentual foi de 39%, um dos nove piores dos 28 países pesquisados.
O índice é bem menor do que a confiança dos brasileiros na mídia (48) e do que a média global de confiança nos governos, que aumentou três pontos e chegou a 53.
A confiança nos governos foi a que registrou a maior quantidade de aumentos no último ano. Ela cresceu em 18 dos 27 países da base comparativa, com destaque para a Austrália (+17), França (+15) e Alemanha (+14). Foram registradas quedas em sete, sendo as maiores na Tailândia (-9), China (-8) e Japão (-6). Os maiores níveis de confiança no governo foram registrados na Árabia Saudita e China (82) e os menores, na Nigéria (não incluída) e na África do Sul (27).
Confiança dos brasileiros na mídia é menor do que nas ONGs e no setor empresarial, considerado o mais confiável
Assim como a redução da confiança global (um ponto), a confiança dos brasileiros nas ONGs também diminuiu, só que de maneira mais pronunciada (três pontos). Mesmo assim, o índice ficou em 56, pouco abaixo da média global (57) e acima da confiança dos brasileiros na mídia (48).
A confiança dos brasileiros nas ONGs é a 16ª maior entre os 28 países analisados. O maior índice é o da Índia (78) e o menor, dos russos (25). A confiança nas ONGs foi a que apresentou o maior número de quedas nos 27 países da base comparativa. Caiu em 11 e subiu em outros 11. As maiores quedas aconteceram em Argentina (-10), China e Colômbia (-9). Os maiores aumentos ocorreram na Austrália (+8) e Arábia Saudita (+7).
Ao contrário do aumento da confiança global no setor empresarial, que cresceu dois pontos no último ano, no Brasil a confiança nas corporações diminuiu três pontos, mas ainda assim garantiu ao setor a posição de instituição mais confiável do país entre as quatro analisadas.
O índice de confiança dos brasileiros no setor empresarial foi de 61, equivalente à média global, e pouco acima dos índices nas ONGs (56), mas bem superior ao da confiança na mídia (48) e no governo (39).
A confiança dos brasileiros no setor empresarial é a 16ª maior entre os 28 países analisados. O Brasil é um dos nove países dos 27 da base comparativa onde o índice caiu no último ano, enquanto subiu em 17. As maiores quedas aconteceram na China (-12) e na Tailândia (-6) e os maiores incrementos, na Austrália (+11) e na Arábia Saudita (+8). A maior confiança no setor empresarial foi verificada na Índia (82) e a menor, na Rússia (34).
Brasil cai duas posições no índice geral de confiança
Com os resultados dos setores analisados, o índice de confiança do Brasil, que é a média dos quatro indicadores, atingiu o índice de 51, igual ao obtido no ano anterior. Como outros países aprimoraram seus índices, o Brasil caiu duas posições no ranking geral e passou a ocupar o 16º lugar entre os 27 países da base comparativa.
A maior queda no índice geral de confiança foi a da China, com menos dez pontos, o que a fez cair para o segundo lugar, com 72 pontos, perdendo a liderança para a Índia. O maior crescimento foi o da Austrália, com 12 pontos, o que a fez subir oito posições e chegar ao 10º lugar, com 59 pontos.
Confiança global nas marcas internacionais brasileiras ficou no segundo nível mais baixo entre as pesquisadas
A pesquisa avaliou a confiança dos respondentes com relação às marcas globais de outros países. Foram consideradas marcas de 16 países e as brasileiras ficaram no segundo nível mais baixo, empatadas com 37 pontos com as marcas indianas e apenas um ponto à frente das mexicanas e chinesas.
O resultado chama atenção porque as marcas norte-americanas, britânicas, japonesas e australianas tiveram o seu pior resultado este ano desde o início da pesquisa. O índice de confiança nas marcas brasileiras caiu dois pontos em relação ao ano passado e ficou bem abaixo da média global de 53. As marcas globais de maior pontuação foram as suíças, alemãs e canadenses, com 66 pontos.
Responsabilidade informativa
A pesquisa revelou que apenas um em cada quatro dos respondentes (26%) tem boa responsabilidade informativa, caracterizada pelos hábitos de verificar a veracidade das informações recebidas, só repassar conteúdo verificado e evitar informações de “câmeras de eco” que repetem as mesmas informações. Quase quatro em cada dez dos respondentes reconheceram não tomar nenhum desses cuidados.
Infodemia tornou alfabetização mídiática prioritária
A boa notícia é que, com o aumento da disseminação de fake news verificada durante a pandemia, a alfabetização midiática foi considerada a segunda maior prioridade dos respondentes, logo depois das necessidades da família.