Londres – Na contramão dos que acreditavam que a pandemia poderia ser um golpe de morte para toda indústria de mídia, o britânico The Economist Group publicou seu balanço de 2020, com resultados que confirmam o valor da reação rápida aos efeitos da pandemia sobre os negócios e da diversificação de fontes de receita, modelo adotado por grandes grupos editoriais. O grupo reportou queda de 3% na receita e lucro 27% superior ao de 2019.
Além do jornalismo, cujo carro-chefe é a revista financeira The Economist, o grupo tem divisões de eventos, consultoria e educação executiva. A receita total alcançou £ 310.3 milhões (cerca de R$ 2,1 bilhões). O lucro operacional foi de £ 41,8 milhões (cerca de R$ 292 milhões).
As assinaturas cresceram mais de um quarto, com a incorporação de 90 mil novos assinantes, um crescimento de 9%, elevando o total para 1,1 milhão de leitores pagantes. A maioria das novas assinaturas foi para produtos digitais.
O aumento da lucratividade deveu-se também a ajustes aos efeitos do coronavírus sobre a indústria de mídia. Logo que a crise chegou, o grupo decidiu encerrar dois negócios deficitários, a agência de marketing de conteúdo digital TVC e a consultoria para o segmento de bebidas Canbeck, o que contribuiu para compensar perdas em outros segmentos. Redução de despesas com viagens e custos de marketing foram mencionados como responsáveis pelo lucro maior.
Na apresentação dos resultados, o Chairman do grupo, Paul Deighton, lamentou o corte de vagas ocasionado pelos fechamentos. Mas observou que os ajustes posicionaram o The Economist para um crescimento sustentado no longo prazo.
Jornalismo digital em primeiro lugar
Em um ano em que restrições ao movimento e escritórios fechados empurraram o público para o jornalismo online, a versão digital da The Economist foi reformulada, o que contribuiu para aumentar as assinaturas e a retenção de leitores, na avaliação da empresa.
O grupo lançou novos produtos editoriais destinados ao leitor digital, como o podcast The Jab, analisando o programa global de vacinas, e boletins digitais como Simply Science e Off the Charts.
A editora-chefe, Zanny Minton Beddoes, salientou a aceleração da presença digital na pandemia. A Economist Films tem quase 2 milhões de assinantes no YouTube. Os podcasts atraem mais de 3 milhões de ouvintes ao mês, e os canais de mídias sociais passam de 56 milhões de seguidores.
Para ela, “reinventar o jornalismo da Economist para um mundo digital em primeiro lugar é o maior desafio para os próximos anos, aproveitando o que diferencia: qualidade e não quantidade; rigor e sagacidade”.
“Vamos precisar entregar nosso conteúdo aos assinantes na cadência e no formato mais convenientes. Para alguns, ainda será o leitura semanal; para outros, pode ser um conjunto de podcasts.”
Setor de inteligência de mercado tem alta em novos negócios
Outra fonte de receita do grupo foi a Economist Intelligence Unit, divisão de pesquisa e análise, que teve aumento de 44% em novos negócios. Com uma equipe formada por economistas, analistas de política e consultores, a unidade produz pesquisas e análises sobre temas como eleições nacionais, comércio internacional, segurança alimentar e cidades sustentáveis, para empresas e governos.
A receita total da divisão foi de £ 43,9 milhões ( R$ 305,2 milhões).
Já a divisão Economist Events adaptou-se rapidamente à nova realidade de conferências virtuais, tentando aproveitar o momento em que os grandes encontros foram impedidos de acontecer devido aos bloqueios para compensar as perdas registradas pela indústria de eventos em 2020.
Uma das novidades foi a semana virtual Innovation @Work, uma plataforma para empresas compartilharem experiências e visão do futuro do trabalho. O programa reuniu mais de 100 palestrantes e utilizou formatos atrativos, como uma happy hour com um DJ.
A unidade registrou um recorde de 171 eventos, reunindo 70 mil participantes e mais de 300 patrocinadores. O aumento em relação a 2019 (+141 eventos, + 700% participantes e +21% patrocinadores) foi significativo, mas ainda assim a divisão registrou queda no faturamento.
Setor de educação executiva usa prestígio da marca do grupo
Outra aposta de diversificação do grupo The Economist é a área de educação executiva, tirando partido de seu capital de reputação na esfera corporativa. A ideia surgiu porque profissionais do jornalismo já atuavam como palestrantes em atividades educacionais de terceiros.
Em 2020 o grupo viu a oportunidade de entrar diretamente nesse mercado, avaliado em £ 2 bilhões (cerca de R$ 14 bilhões). Foi feito um acordo com a empresa de tecnologia educacional GetSmarter para o lançamento de um curso de educação executiva, além de uma série de treinamentos voltados para profissionais em busca de desenvolvimento pessoal e de carreira.
O curso Navegando na Nova Ordem Global, iniciado em abril e que se estende até setembro, foi concebido e escrito pela equipe da redação e por líderes e pensadores de negócios, política e academia. São seis semanas, com módulos explorando a rivalidade EUA-China, a ascensão das Big Techs e o futuro do globalismo. Atraiu 200 estudantes de 42 países.
O maior acionista do Grupo The Economist é o Exor, veículo de investimento da família Agnelli , que detém 43,4%. Outros acionistas são ações as famílias Cadbury, Layton, Rothschild e Schroder. A companhia tem 25 escritórios em 14 países e uma equipe de 1,3 mil funcionários, dos quais 277 nas redações.
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