A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) pediu às autoridades cubanas que libertem os dez repórteres atualmente em prisão domiciliar ou sob custódia em instalações do Estado, que foram detidos durante protestos ocorrida em julho no país.
No episódio, jornalistas foram feridos, como Ramón Espinosa, repórter fotográfico da agência Associated Press, que teve o nariz quebrado e um dos olhos feridos por forças de segurança.
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Na semana que se seguiu às manifestações, ONGs presentes na ilha contaram 130 pessoas desaparecidas, sendo que a maioria seria jornalista ou ativistas.
Um total de 15 jornalistas foram ameaçados, atacados, presos ou colocados em prisão domiciliar pela Segurança do Estado durante ou logo após os protestos antigovernamentais, segundo a RSF.
Os nomes dos jornalistas detidos
Em seu comunicado, a RSF pede que autoridades também retirem todos os processos contra os jornalistas detidos.
Um mês depois, nove ainda estão detidos em prisão domiciliar sob a acusação de perturbar a ordem pública, incitar ao crime ou “propagação de epidemia”, ou sem nenhuma acusação.
Os nove ainda em prisão domiciliar são: Camila Acosta (ABC e Cubanet), Neife Rigau (La Hora de Cuba), Henry Constantin Ferreiro (La Hora de Cuba), Iris Mariño (La Hora de Cuba), Iliana Hernández Cardosa (CiberCuba), Hector Luis Valdés Cocho (ADN Cuba), Niober García Fournier (Cubanet e Palenque Vision), María Matienzo Puerto (freelancer) e Luz Escobar (14 y Medio).
Premiê espanhol interveio por correspondente em Havana
As vítimas incluem Camila Acosta, correspondente do diário espanhol ABC, presa quando saía de sua casa em Havana, em 12 de julho. Ela está em prisão domiciliar por cobrir os protestos contra o governo do presidente Miguel Díaz-Canel em 11 de julho.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, pediu sua libertação no 13 de julho, descrevendo sua detenção como “inadequada”. Ela foi colocada em prisão domiciliar no dia 16, após ter sido mantida incomunicável por quatro dias.
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Sánchez disse à ABC que, antes de transferi-la para a prisão domiciliar, a polícia tentou fazer com que ela assinasse uma declaração dizendo aceitar a acusação de “distúrbio da ordem pública” e a multa que a acompanhava.
A repórter segue tendo acesso à internet, onde comentou sua espera por julgamento. “Me detiveram na categoria de pessoa altamente perigosa, comentou.
5/6 Estoy en espera de juicio por “desorden público” e “instigación a delinquir”, por reportar las protestas del #11JCuba. Me pueden condenar a cumplir hasta 1 año en prisión; estoy regulada hace 2 años, no puedo salir de mi país.
— Camila Acosta (@CamilaAcostaCu) August 10, 2021
Jornalista será julgada por distúrbio à ordem pública
Acosta foi detida pela Segurança do Estado por várias horas em 27 de julho, quando deixou sua casa para questionar policiais sobre a prisão do irmão de um amigo que atualmente está fornecendo acomodação para ela, uma prisão que ela considerou um ato de intimidação.
A jornalista já foi detida no passado, sendo perseguida repetidamente por agentes da Segurança do Estado e apoiadores do governo, o que a levou a mudar de local de residência várias vezes.
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Ela não pode mais deixar a ilha porque, junto com conhecidos oponentes do governo e ativistas contra o regime, foi colocada em uma lista de pessoas que são “regulamentadas”.
Acosta continua em prisão domiciliar aguardando julgamento sob a acusação de perturbar a ordem pública e incitar ao crime, o que pode acarretar em um ano de prisão.
Cobertura do protesto do dia 11/7 gera prisão e intimidação de jornalistas, relata RSF
Orelvys Cabrerra, repórter do site de notícias independente Cubanet, ainda está na prisão. Ele foi detido no dia 11 de julho enquanto cobria um protesto em Cárdenas, uma cidade na província de Matanzas, a 150 km a leste de Havana.
Emmanuel Colombié, chefe do escritório da RSF para a América Latina disse que:
“Esta repressão aos jornalistas independentes infelizmente não é surpreendente porque o regime cubano adquiriu o hábito de prender e deter jornalistas arbitrariamente.”
No dia 24 de julho, dez dias após os protestos antigovernamentais, o freelancer Waldo Fernández Cuenca foi parado por policiais à paisana, que o levaram a uma delegacia, interrogaram-no por duas horas e avisaram que ele seria processado por perturbação da ordem pública se cobrisse outro protesto como o de 11 de julho.
Antes de libertá-lo, eles o multaram em 2.000 pesos (cerca de R$ 420) por violar as medidas de saúde da Covid-19.
Miguel Díaz-Canel está na lista de predadores da liberdade de imprensa
O protegido de Raúl Castro, Miguel Díaz-Canel, que o substituiu como presidente de Cuba em 2019 e depois como primeiro secretário do Partido Comunista de Cuba em abril deste ano, foi incluído na lista de predadores da liberdade de imprensa publicada pela RSF em julho.
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, também faz parte da lista de líderes globais hostis à imprensa.
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Díaz-Canel mantém um controle rígido sobre todas as TVs, rádios e mídia impressa estatais, enquanto a Constituição proíbe a mídia privada.
“Jornalistas que não seguem a linha do partido estão sujeitos a assédio, perseguição, detenção arbitrária, ameaça de prisão, buscas domiciliares ilegais, confisco e destruição de seus equipamentos”, afirma a RSF.
Cuba ocupa a 171ª posição entre 180 países no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa de 2021 da RSF.
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