A organizaรงรฃo Access Now, que defende os direitos humanos no ambiente digital, divulgou nesta terรงa-feira (24/8) um estudo denunciando que os maiores provedores de serviรงos de internet da Palestina estรฃo expondo dados privados dos cidadรฃos ao risco de uso indevido.

O trabalho, feito em conjunto com a ImpACT International for Human Rights Policies, apontou que as sete grandes empresas do ramo no paรญs descumprem padrรตes de privacidade e proteรงรฃo de dados.

Para Marwa Fataft, gerente de polรญticas da Access Now, รฉ obrigaรงรฃo dos provedores de internet garantir que a privacidade das pessoas na Palestina nunca seja violada.

“As empresas que armazenam dados pessoais sem transparรชncia estรฃo expondo a danos adicionais pessoas jรก sujeitas a todas as formas de vigilรขncia e abuso online. 

Isso aumenta a necessidade de uma lei robusta de proteรงรฃo de dados para proteger os usuรกrios da internet na Palestina.โ€

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As organizaรงรตes observam que a situaรงรฃo na Palestina segue um โ€œpadrรฃo perturbadorโ€ que se verifica tambรฉm em outras regiรตes marcadas por conflitos, como Jordรขnia e Tunรญsia.

A vulnerabilidade dos cidadรฃos da Palestina na internet nรฃo se restringe aos provedores de acesso. Em maio, as plataformas digitais globais foram acusadas por vรกrias ONGs, incluindo a Access Now, de  censurar conteรบdo palestino nas mรญdias sociais.

O problema teria se agravado depois que aumentou o uso das redes por ativistas e cidadรฃos para relatar o que vinha ocorrendo na regiรฃo, mobilizar manifestantes e sensibilizar a opiniรฃo pรบblica internacional. 

A Access Now disse na รฉpoca  ter recebido centenas de relatos de remoรงรฃo de postagens e de contas, bloqueio de transmissรตes ao vivo e supressรฃo de hashtags contrรกrias aos atos de Israel.

 Banco Mundial doou US$ 30 milhรตes que deveriam aprimorar setor digital do paรญs

As descobertas do estudo sobre as falhas nos provedores de acesso ร  internet vรชm ร  tona meses depois de uma doaรงรฃo de US$ 30 milhรตes (cerca de R$ 156 milhรตes) do Banco Mundial para a Palestina, com o objetivo de ajudar a recuperaรงรฃo econรดmica do paรญs em meio ร  pandemia de Covid-19 e tambรฉm para  โ€œapoiar as bases digitais da economia palestinaโ€.

Os autores do estudo dizem que a verba do Banco Mundial deveria ser utilizada para โ€œpromulgar uma lei robusta de proteรงรฃo de dados, impondo regulamentaรงรตes e aumentando a conscientizaรงรฃo sobre o direito ร  privacidadeโ€.

Maha Hussaini, gerente executiva da ImpACT International, declarou que cabe ao Ministรฉrio de Telecomunicaรงรตes e Tecnologia da Informaรงรฃo a responsabilidade de garantir que nenhum provedor opere fora dos padrรตes de privacidade.

“O fato de que a maioria dos funcionรกrios e clientes de provedores de internet na Palestina nรฃo estรฃo cientes de que as empresas devem ter polรญticas pรบblicas de privacidade mostra o quanto a consciรชncia de privacidade digital na Palestina รฉ limitada.”

Empresas nรฃo divulgam direitos de privacidade e se isentam legalmente de brechas

Os provedores analisados foram Hadara, Mada, Fusion, Call U, Super Link, B Net e Zaytona. O estudo tambรฉm questionou clientes dessas empresas no que se refere ร  privacidade de seus dados.

As conclusรตes mostram que, na maioria desses provedores, hรก โ€œfalta de clarezaโ€ em relaรงรฃo ร s polรญticas de privacidade, o que significa que os clientes desconhecem o que essas empresas fazem com seus dados pessoais.

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Outro dado relevante constatado รฉ o de que os provedores analisados isentam-se de responsabilidades legais pelo uso indevido de dados de clientes por terceiros e retรชm informaรงรตes sobre o seu direito ร  compensaรงรฃo.

Alรฉm disso, quase um terรงo dos clientes palestinos de internet analisados (31%) desconhecem como polรญticas de privacidade podem e devem protegรช-los.

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(Markus Spiske/Unsplash)

As organizaรงรตes analisaram os seguintes tรณpicos: o quรฃo fรกcil รฉ o acesso a informaรงรตes sobre privacidade de dados dos clientes; a natureza das informaรงรตes coletadas; as formas de obtenรงรฃo de dados; os motivos para a coleta de informaรงรตes pessoais; se a empresa se responsabiliza pelo uso indevido de dados; se compartilha as informaรงรตes com terceiros; e se fornece aos clientes direito ร  compensaรงรฃo.

O estudo visitou sites sites de doze provedores, para saber se eles publicam algo relacionado ร  privacidade de dados dos clientes. Apenas sete empresas analisadas veiculam tais informaรงรตes.

Os pesquisadores entraram em contato com os outros cinco provedores e apenas um publicou informaรงรตes sobre privacidade posteriormente. As outras quatro empresas simplesmente nรฃo responderam.

95% dos usuรกrios acreditam que apenas lei mais dura irรก garantir privacidade de dados

No que se refere ร  confianรงa nos provedores de internet, cerca de 70% dos participantes do estudo disseram nรฃo acreditar que as empresas vรฃo manter a privacidade dos dados dos clientes.

Quase 95% deles acreditam que รฉ essencial que se elabore uma lei mais rigorosa para proteger os dados dos cidadรฃos palestinos. 

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Em relaรงรฃo ร  natureza dos dados coletados, a maioria dos provedores solicita informaรงรตes como nome, telefone e nรบmero de identidade. Cerca de 36% das empresas perguntam tambรฉm endereรงo residencial, e pouco menos de 16% solicitam a data de nascimento.

Menos de 6% dos participantes do estudo disseram que jรก foram perguntados sobre informaรงรตes extremamente pessoais, como contas bancรกrias.

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O estudo fez ainda recomendaรงรตes ร s empresas para resolver o problema de privacidade de dados no paรญs, como adotar e aplicar polรญticas de privacidade robustas, atentas aos direitos e centradas no usuรกrio para proteger os dados pessoais das pessoas; garantir que suas polรญticas de privacidade sejam pรบblicas e de fรกcil acesso; e coletar apenas os dados necessรกrios para fornecer produtos ou serviรงos.

Em 2019, outra pesquisa revelou que os provedores tambรฉm violam a privacidade de dados pessoais dos jordanianos, e o mesmo pรดde ser observado em outro estudo, de 2020, na Tunรญsia.

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