Londres – Em uma conferência promovida pela revista americana Wired nesta terça-feira (9/11), o príncipe Harry voltou a reclamar da imprensa britânica e das redes sociais.
O duque de Sussex participou do painel Internet Lie Machine (Internet, máquina de mentiras). Ele disse que “a desinformação é uma crise humanitária global” que afeta a todos, mesmo que os que não estão online.
E revelou ter avisado a Jack Dorsey, CEO do Twitter, que um golpe estava sendo preparado pela plataforma um dia antes da invasão do Capitólio americano, que deixou cinco mortos em janeiro, e que motivou uma pressão do Congresso americano sobre as plataformas.
Harry e Meghan em batalhas contra mídia
Harry e sua mulher, Meghan Markle, já moveram processos contra jornais britânicos e atribuem sua mudança para os Estados Unidos, onde desde o ano passado, em parte a perseguições da imprensa e de usuários de redes sociais.
Por ironia, um dia depois de Harry ter reclamado contra a imprensa por inventar histórias, Meghan teve que se retratar diante da justiça britânica justamente por ter mentido sobre a colaboração para a biografia Finding Freedom (Em busca da liberdade), lançada em 2020.
No processo movido contra o Mail On Sunday por invasão de privacidade, ela disse não ter colaborado, mas em depoimento esta semana o ex-assessor de comunicação desmentiu. Ele apresentou ao tribunal emails trocados com Harry e Meghan tratando do que deveria ser revelado aos autores do livro.
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Harry lembrou a princesa Diana
Como faz regularmente, em sua participação no painel sobre mentiras na internet o príncipe Harry citou a mãe, a princesa Diana, ao falar de sua relação tensa com a mídia, dizendo que “perdeu-a para essa raiva fabricada”. E afirmou que não quer ver a história se repetir:
“Estou determinado não perder a mãe para meus filhos da mesma forma”.
Diana morreu em 1997 em um acidente de carro em Paris. O veículo trafegava em alta velocidade para escapar de fotógrafos de celebridades (paparazi) que a perseguiam onde quer que fosse.
Harry e o irmão William tinham respectivamente 12 e 15 anos. Mas o trauma não fez com que ele se tornasse recluso, ao contrário.
Na adolescência e depois de adulto tinha uma vida social movimentada, frequentando lugares conhecidos e expondo-se ao assédio da mídia, com acidentes de percurso como a foto em que apareceu utilizando uma fantasia que remetia ao nazismo em uma festa.
Mesmo depois do noivado e casamento com Meghan Markle, que era atriz em Hollywood e tinha um blog pessoal com milhões de seguidores, o casal dava entrevistas e usava as redes sociais para promover suas causas.
As coisas mudaram depois do nascimento do primeiro filho, Archie, cuja apresentação e batismo não seguiram os protocolos da família real. Ao mesmo tempo, começaram a surgir notícias de desentendimentos entre Meghan e Kate Middleton, a Duquesa de Cambridge.
Meghan sofreu ataques racistas de usuários de redes sociais, e colunistas comentavam sobre a diferença cultural de uma americana que parecia não se enquadrar na liturgia real, que entre outras coisas estabelece normas rígidas para manifestações públicas de seus membros, tudo controlado pelos assessores do Palácio de Buckingham.
Mas o casal acusou também a imprensa tradicional de racismo, durante uma entrevista bombástica com a apresentadora americana Oprah Winfrey em março.
Problema é anterior às redes sociais
No debate da Wired, Harry disse ter “aprendido desde muito cedo que a motivação para a imprensa publicar determinadas coisas não é necessariamente o alinhamento à verdade.
“Com base na minha experiência, acho que tem havido mais veículos de mídia anteriores às redes sociais no Reino Unido que infelizmente confundem lucro com propósito e notícias com entretenimento
Eles não relatam as notícias, eles as criam.”
Para o duque de Susssex, “eles conseguem amarrar notícias baseadas em fatos em fofoca baseada em opinião com consequências devastadoras para o país”.
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Um estudo divulgado em outubro pelo serviço de análise de mídia social Bot Sentinel identificou 83 contas no Twitter que, segundo ele, eram responsáveis por 70% do conteúdo odioso e da desinformação dirigida a Meghan e Harry.
Referindo-se ao estudo, Harry disse na terça-feira que “talvez a parte mais perturbadora disso seja o número de jornalistas britânicos que interagiam com eles e amplificavam as mentiras. Mas eles regurgitam essas mentiras como verdade.
Megxit, um exemplo de racismo?
Uma das mágoas compartilhadas por Harry durante a apresentação foi sobre o uso da palavra Megxit para definir a decisão do casal de se mudar para a Califórnia e abandonar as rotinas da família real.
Ele afirmou a palavra, usada pela imprensa britânica, era um termo misógino, e exemplo de ódio online e da mídia.
“Talvez as pessoas saibam disso e talvez não, mas o termo Megxit era ou é um termo misógino. Foi criado por um troll, amplificado por jornalistas que acompanham a família real, e cresceu e cresceu e cresceu na mídia convencional.
Mas tudo começou com um troll. ”
Ele disse respeitar o trabalho de jornalistas sérios, mas acha que existem “piratas usando crachás de imprensa”, e que a própria imprensa deve combater o problema.
Alerta ao CEO do Twitter
Harry não perdoa nem a imprensa nem as mídias sociais. Ele revelou ter enviado um email ao CEO do Twitter, Jack Dorsey um dia antes da invasão do Capitólio em 6 de janeiro que “sua plataforma estava permitindo um golpe de Estado encenado ”.
O CEO não respondeu, segundo o príncipe.
Harry tem se engajado em campanhas e projetos para combater a desinformação. Em março passado ele foi anunciado como um dos membros da Comissão de Desordem da Informação do Instituto Aspen, motivo pelo qual foi convidado a falar no evento da Wired.
O objetivo do think tank americano é examinar desinformação em torno das eleições americanas, das vacinas, as ameaças estatais e os riscos para as minorias raciais e propor medidas regulatórias.
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Ele compartilhou o que aprendeu em seu trabalho no comitê.
“Fomos levados a acreditar que é o problema é muito grande para consertar ou muito grande para resolver, mas o que aprendi nos últimos seis meses na comissão do Aspen é que isso simplesmente não é verdade”, disse ele.
“Assim como um vírus, existem superdispersores para monitorar e conter, e até mesmo a palavra superdispersor foi adicionada ao dicionário na semana passada, e por um bom motivo.
Sabemos que um pequeno número de contas pode criar uma grande quantidade de caos online e destruição sem quaisquer consequências”.
Ele reiterou sua promessa de que ele e Meghan não criariam nenhuma conta de mídia social “até que as coisas mudassem”.
Convocação para luta contra desinformação
Com o painel chegando ao fim ontem, o Príncipe Harry convocou jornalistas, editores e anunciantes para lutar contra a desinformação de seus próprios setores.
“Não se trata de dizer às pessoas para pararem de usar as plataformas – acho que seria impossível, dado o quão viciantes elas são …
Eu acredito fortemente que coletivamente, como seres humanos, temos a capacidade de fazer mudanças nos sistemas em que operar.
As pessoas agora, mais do que nunca, desejam e precisam da verdade. Elas desejam e precisam de confiança e desejam e precisam de transparência. “
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