Londres – Confirmado como sucessor da rainha Elizabeth no trono britânico no dia em que a monarca completou 70 anos de reinado, o príncipe Charles enfrenta mais uma denúncia com potencial de abalar sua reputação diante dos súditos.

Segundo o jornal britânico Sunday Times, ele recebeu uma mala e pacotes de dinheiro vivo do sheik Hamad bin Jassim bin Jaber Al Thani, ex-primeiro ministro do Catar e um dos homens mais ricos do mundo, a título de doação para obras de caridade mantidas pelo herdeiro da coroa britânica.

No total, Charles recebeu 3 milhões de euros, entregues pessoalmente pelo político em 2011 e 2015. As doações foram confirmadas em nota pela assessoria de comunicação da Clarence House, onde vivem Charles e sua mulher, Camilla. 

Denúncia contra príncipe Charles não sugere ilegalidade 

A reportagem do The Times publicada domingo (26) relata que uma das entregas foi feita em um sacolas de compras da sofisticada delicatessen Fortnum & Mason, e que as reuniões aconteceram na própria Clarence House.

Auxiliares de Charles teriam feito a contagem das notas e encaminhado os pacotes para o Coutts, banco privado que concentra as operações financeiras da família real britânica. 

A assessoria informou que os valores recebidos foram depositados nas contas da organização não-governamental Prince of Wales’s Charitable Fund (PWCF), uma entidade que financia os projetos privados do príncipe e sua propriedade rural na Escócia. 

A reportagem do jornal traz a posição da PWCF sobre o caso.

Ian Cheshire, presidente da ONG,   presidente, disse ao Sunday Times que ao tomarem conhecimento da doação,  foram discutidas a governança e o relacionamento com o doador (confirmando que o doador era uma contraparte legítima e verificada). E que os auditores aprovaram a doação após uma consulta específica durante a auditoria.

Ele afirmou que “não houve falha de governança”.

O doador não comentou o episódio. Uma das pessoas mais ricas do mundo, ele tem o apelido de “o homem que comprou Londres” por ser dono de grandes empreendimentos como o edifício Shard e a loja de departamento Harrods. É também proprietário do time Paris Saint-Germain.

Doação em dinheiro à ONG do príncipe Charles ‘por opção do doador’

A fundação afirmou que os valores foram entregues em dinheiro vivo, uma situação incomum, por opção do doador.

Operações em espécie costumam ser associadas a lavagem de dinheiro, mas também não há sugestões de que teria sido essa a intenção. 

Embora não haja sugestão de que o dinheiro tenha sido usado em benefício próprio, uma doação em dinheiro em valor tão alto despertou críticas, sobretudo porque não é o primeiro episódio envolvendo o príncipe Charles e doadores árabes. 

Em setembro de 2021, ele foi obrigado a dispensar seu principal auxiliar, Michael Fawcett, depois de denúncias de um esquema de troca de comendas reais por doações para obras sociais conduzidas pela Prince’s Foundation, organização que concentra todas as atividades beneficentes do futuro rei da Inglaterra.

O motivo foi a denúncia de que Fawcett teria negociado com representantes do magnata saudita Mahfouz Marei Mubarak bin Mahfouz para que ele recebesse a comenda CBE (Commander of the Order of the British Empire, ou Ordem do Império Britânico), mais alta honraria concedida pela coroa britânica, em retribuição a generosas doações a projetos de interesse da fundação do príncipe. 

O episódio está sob investigação policial. 

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A nova denúncia contra o príncipe Charles aconteceu quando ele estava em Ruanda, representando a rainha Elizabeth em um encontro da Commonwealth, a comunidade britânica das nações. 

E causou controvérsia antes da viagem por ter criticado o projeto do governo britânico de criar um centro de migrantes no país africano, para onde os que chegam ao país de forma ilegal seriam levados para aguardar a tramitação de pedidos de asilo. 

No entanto, a nova denúncia a respeito da doação de dinheiro vivo tem potencial mais explosivo para abalar a imagem de Charles, que já não é das melhores. 

No acompanhando regular da família real pelo instituto de pesquisas YouGov, Charles ocupa apenas o 6º lugar em aprovação pública em comparação aos demais membros da família real, perdendo até para a discreta irmã, a princesa Anne. Ele tem 50% de aprovação, e sua mulher, Camilla, 40%.

A rainha Elizabeth é admirada por 75% dos entrevistados.

Até janeiro, quando a rainha Elizabeth completou os 70 anos no trono, havia muitas especulações sobre a possibilidade de o sucessor ser o filho de Charles, William, que tem uma imagem melhor e uma família perfeita, com três filhos pequenos e uma atitude mais moderna, com apelo maior para as novas gerações. 

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Isso é importante no momento em que o futuro da monarquia é questionado, no Reino Unido e nas nações que ainda têm a rainha Elizabeth como chefe de estado. O movimento antimonarquista no Reino Unido defende que a monarca não seja substituída após sua morte. 

O grupo antimonarquia Republic criticou fortemente os laços da família real britânica com “os piores ditadores do mundo”.

Em nota, o Republic destaca que o príncipe Charles teve 95 encontros com monarcas árabes desde 2011. E cobrou transparência da monarquia e do governo britânico a respeito da denúncia sobre doações recebidas pelo príncipe Charles em dinheiro vivo. 

Países da comunidade britânica que antes saudavam a monarquia com entusiasmo têm reagido mal a visitas de membros da realeza, até mesmo os mais populares, como William e Kate, deixando clara a intenção de virar república.

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Na sexta-feira, o príncipe de Gales expressou sua “tristeza pessoal” na capital de Ruanda, Kigali, sobre o “impacto duradouro da escravidão” e abordou a questão controversa de outros países da Commonwealth cortando laços com a família real.

Mas o movimento de distanciamento da família real se torna cada vez mais forte e é alimentado por denúncias com a do recebimento de dinheiro vivo pelo príncipe Charles.

O resultado das investigações da polícia em curso sobre o episódio de troca de doações por comendas e uma possível análise da história dos valores recebidos em dinheiro pelo órgão regulador de fundações podem afetar ainda mais a reputação do herdeiro da coroa britânica. E por tabela, do futuro da monarquia. 

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