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Rússia suspende atividades e pede extinção de sindicato de jornalistas por ‘desacreditar’ exército

Sindicato de jornalistas na Rússia corre risco de ser fechado pelo governo

Sindicato de jornalistas na Rússia corre risco de ser fechado pelo governo (Foto: Reprodução/Facebook/JMWU)

A insatisfação com a cobertura da mídia sobre a guerra com a Ucrânia levou a Rússia a mais uma medida destinada a enfraquecer o poder da imprensa: o governo mandou suspender as atividades do Sindicato dos Jornalistas e Trabalhadores da Mídia (JMWU, na sigla em inglês) acusando a organização de “desacreditar” as forças armadas do país.

Além disso, o Ministério Público russo entrou com pedido para a extinção do sindicato. 

Entidades internacionais saíram em defesa da associação de jornalistas, considerando que a liberdade de imprensa está em rápido declínio no país desde o início do conflito armado.

Sindicato de jornalistas na Rússia pode ser multado

A perseguição do Kremlin a profissionais da mídia e opositores de Vladimir Putin foi intensificada com a aprovação da lei de “fake news”, a mesma usada para fechar o sindicato de jornalistas.

O deputado Alexei Gorinov foi o primeiro condenado sob a nova legislação na semana passada e deve ficar sete anos preso.

Em maio, o JMWU foi notificado pela procuradoria de Moscou sobre uma investigação judicial para averiguar as atividades da associação. No final daquele mês, a co-presidente do sindicato, Sofia Rusova, foi entrevistada por dois promotores, segundo informações da imprensa local.

Ela precisou responder sobre as ações da associação, a existência de filiais regionais e regularidade do pagamento das taxas de filiação.

O maior interesse das autoridades era sobre o site da JMWU, mas não houve perguntas específicas sobre publicações contrárias à guerra. 

Em 5 de julho, o Tribunal da Cidade de Moscou enviou dois documentos ao sindicato: uma decisão de 16 de junho a favor do pedido do promotor para dissolver a associação e uma decisão de 4 de julho sobre a introdução de medidas preventivas contra o sindicato na forma de suspensão de suas atividades.

Os documentos do tribunal indicam ainda que foi aberto um procedimento administrativo contra o JMWU “em relação à publicação no site oficial da organização de informações falsas sobre o curso da operação militar especial para proteger as autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Luhansk, destinadas a desacreditar o uso das forças armadas russas para proteger os interesses da Federação Russa e seus cidadãos e manter a paz e a segurança internacionais”.

Este artigo prevê uma multa de até 200.000 rublos (cerca de R$ 16 mil) para os líderes do sindicato e até meio milhão de rublos (R$ 41 mil) para a própria entidade.

A sentença do tribunal concluiu que “as atividades do sindicato levam a uma violação dos direitos e liberdades humanos e civis e prejudicam a ordem pública, a segurança pública, a sociedade e o Estado”.

Audiência vai deliberar sobre sindicato de jornalistas 

Os representantes do JMWU contestam que não tiveram autorização para acessar os arquivos do processo. Uma audiência preliminar para tratar sobre a extinção da associação está marcada para o dia 13 de julho, em Moscou.

O Sindicato dos Jornalistas e Trabalhadores da Mídia foi criado em março de 2016 e é registrado no Ministério da Justiça russo. São mais de 600 jornalistas de 40 regiões da Rússia membros da organização.

O JMWU integra as Federações de Jornalistas Internacional (IFJ) e Europeia (EFJ). Ambas se posicionaram contra as medidas adotadas pela autoridades russas contra o sindicato.

A presidente da IFJ, Dominique Pradalié, chamou o processo de “farsa”. “É apenas mais um passo perigoso para silenciar quaisquer vozes que não se limitem a reproduzir as declarações do governo”, afirmou.

“Os procedimentos legais para liquidar o JMWU têm toda a aparência de um julgamento político com base totalmente arbitrária”, disse a presidente da EFJ, Maja Sever.

“Condenamos fortemente esta política de liquidação generalizada de todas as organizações da sociedade civil na Rússia e, em particular, daquelas que defendem o direito dos cidadãos russos à liberdade de expressão e seu direito de acesso a informações independentes.”

O fechamento de sindicatos e associações de jornalistas é um dos recursos mais extremos de censura usado por governos autoritários.

No ano passado, o Supremo Tribunal de Belarus decidiu dissolver as duas principais organizações de jornalistas no país, a Associação de Jornalistas de Belarus (BAJ) e a filial da EFJ.

Sob o governo de Aleksandr Lukashenko, Belarus, à semelhança da Rússia, vive grande repressão ao jornalismo independente

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