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Jornalista que protestou contra a guerra na TV estatal está em prisão domiciliar por ato contra Putin

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Jornalista fez manifestação pública contra Putin em 15 de julho (Foto: Telegram Marina Ovsyannikova)

A jornalista Marina Ovsyannikova foi condenada a dois meses de prisão domiciliar após ser acusada por um tribunal da Rússia de “divulgar informações falsas” sobre o exército do país, segundo a agência de notícias Interfax.

Ex-editora da emissora estatal Channel One, ela ficou conhecida mundialmente ao invadir um telejornal noturno do canal com um cartaz protestando contra a guerra na Ucrânia e denunciando a propaganda do Kremlin. 

Após o ato na TV, Marina foi para a Alemanha colaborar com o jornal Die Welt, mas retornou à Rússia no início de julho para uma audiência de custódia dos filhos. Por causa de um novo protesto contra o governo de Vladimir Putin em frente ao Kremlin, ela teve a prisão domiciliar decretada no dia 10 de agosto. 

Antes de prisão, jornalista desafiou censura

A condenação da jornalista à prisão domiciliar na Rússia foi informada por seu advogado, Dmitry Zakhvatov, após a audiência nesta quinta-feira (11).

A nova manifestação contra Putin aconteceu no dia 15 de julho em Sofiyskaya, um calçadão às margem do rio em frente ao Kremlin, sede do governo. 

O texto do cartaz exibido pela jornalista nesse protesto mirava diretamente no presidente Putin:

“Putin é um assassino. Seus soldados são fascistas. 352 crianças morreram. Quantas crianças mais precisam que morrer para você parar?”

O ato motivou mais uma ação criminal contra Marina, que já recebeu duas multas administrativas por sua postura contra a invasão à Ucrânia.

No início da manhã de quarta-feira (10), oficiais do comitê de investigação russo realizaram buscas em sua casa, em Moscou, e apreenderam vários telefones e um computador, de acordo com informações da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ). Ela também acabou detida. 

O Tribunal Basmanny de Moscou acusou a jornalista de espalhar informações falsas sobre os militares da Rússia e, por isso, a condenou à prisão domiciliar.

O artigo no qual ela é processada ainda prevê uma multa de 3 a 5 milhões de rublos (R$ 255 mil a R$ 425 mil) ou até dez anos prisão, segundo o Meduza.

A FIJ condenou a prisão domiciliar de Marina Ovsyannikova.

“Ela é uma jornalista tentando dizer a verdade e cumprindo o direito do público de informar sobre a situação na Ucrânia”, disse o presidente da federação, Dominique Pradalié. “Nós a apoiamos, pedimos sua liberação imediata e imprensa livre na Rússia”.

A ONG russa OVD-Info já documentou mais de 16 mil prisões de cidadãos russos desde 24 de fevereiro por se posicionarem contra a guerra na Ucrânia.

Protesto de março 

Apesar de ter se manifestado duas vezes dentro da Rússia contra Putin, Marina Ovsyannikova não é uma unanimidade na mídia como outros jornalistas dissidentes, a começar pelo detentor do Nobel da Paz, Dmitry Muratov. 

Ela fez uma longa carreira na TV estatal e seu marido também. Vivia uma vida de privilégios, reservada aos que se alinham ao governo russo, até o dia 14 de março. 

Nos primeiros dias da guerra da Rússia contra a Ucrânia, ela se aproveitou do acesso livre que tinha na emissora por seu cargo de editora para interromper o telejornal Vremya no Channel One com um cartaz que dizia: 

“Não acredite na propaganda. Aqui você está sendo enganado.”

Depois disso, a direção do canal de TV a acusou de ser espiã britânica, mas alguns a criticaram por seu passado. 

Após sua demissão do Channel One, Ovsyannikova tornou-se correspondente do jornal alemão Die Welt e fez reportagens criticando seu país.

Em uma delas, escreveu: “os russos têm medo”.

Mas a carreira na Alemanha foi curta. Ela saiu no início de julho em meio a uma controvérsia. 

Jornalistas ucranianos protestaram contra a sua contratação diante de outros colegas com dificuldades de obter trabalho e chegaram a fazer manifestações.

Marina Ovsyannikova anunciou a volta à Rússia em suas redes sociais sob o argumento de que precisava retornar para participar de uma audiência de custódia dos filhos.

E sugeriu que a contratação pelo jornal alemão era originalmente apenas por três meses, o que não foi informado à época. 

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