Londres – Três meses depois de 14 países árabes suspenderem a exibição da Buzz Lightyear da Pixair por causa de uma cena de beijo entre mulheres, a Netflix virou o novo alvo das restrições impostas em nações do Oriente Médio à liberdade de expressão e ao entretenimento, levantando questões sobre o risco de ser banida. 

Em uma declaração conjunta emitida pelo Comitê de Mídia Eletrônica do Conselho de Cooperação do Golfo na semana passada, seis países da região exigem que a Netflix remova parte de seu conteúdo do serviço de streaming, citando uma “ofensa a seus valores”.

A nota afirma que alguns programas e filmes na plataforma “violaram valores e princípios islâmicos e sociais”. E pede que o serviço de streaming remova o conteúdo “direcionado a crianças e garanta o cumprimento das leis”.

Netflix pode ser banida? 

Os países prosseguem: “Caso o conteúdo violador continue disponível, as medidas legais necessárias serão tomadas”, disse a nota, sem detalhar quais seriam as sanções.

A Netflix não comentou. 

Os países que assinaram o comunicado endereçado à Netflix são o próprio Catar, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Kuwait e Omã.

Os governos da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos também publicaram declarações individuais, pedindo a remoção de títulos da Netflix que “contraditam os valores e princípios islâmicos e sociais” mas não falam diretamente da possibilidade de ela ser banida se ignorar o pedido. 

A Al Ekhbariya TV, emissora estatal saudita, exibiu uma reportagem com imagens desfocadas de produções veiculadas pela plataforma de streaming, como a animação Jurassic World: Camp Cretaceous, no qual duas adolescentes confessam que se amam e se beijam, e do filme francês Cuties.

A reportagem afirma que a Netflix é uma “capa cinematográfica de mensagens imorais que ameaçam a educação saudável das crianças”.

Em outra postagem, a rede pública de TV especula sobre o que pode ser o desdobramento das ameaças feitas na nota oficial. 

O vídeo sugere que a Netflix pode ser banida no reino governado pelo príncipe Mohammed bin Salman, notório pelo autoritarismo e pela censura à imprensa e a liberdade de expressão, com duas hashtags sobre um possível banimento. 

O príncipe herdeiro que comanda o país é acusado de ter sido o mandante do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi dentro da embaixada saudita na Turquia, um crime que despertou condenação internacional mas nenhuma sanção de países ocidentais, como cobram entidades de liberdade de imprensa. 

 

O país têm investido também contra indivíduos acusados de desrespeito aos valores tradicionais. Uma Tiktoker egípcia foi presa por exibir nas mídias sociais um denunciado às autoridades policiais como ofensivo aos padrões religiosos.