Londres – O ex-apresentador de rádio da BBC Alex Belfield, de 42 anos, foi condenado a cinco anos e meio de prisão por perseguir colegas jornalistas, incluindo um dos mais conhecidos radialistas do país, Jeremy Vine.

Belfield tem mais de 330 mil inscritos em seu canal “A Voz da Razão” no YouTube, no qual defende “a liberdade de expressão”.

Processado por perseguir oito pessoas diferentes, em sua maioria atuais ou ex-profissionais da BBC, ele foi considerado culpado de ofensas graves a dois reclamantes – o apresentador da BBC Radio Northampton Bernie Keith e o cinegrafista Ben Hewis.

Para cada uma dessas acusações, o ex-apresentador foi condenado a dois anos e meio de prisão, que serão acumuladas. O resultado foi anunciado no dia 16 de setembro. 

O juiz disse que Belfield “bombardeou” Keith (que tinha sido seu amigo) pelo Facebook e por email, além de ter feito vídeos “altamente abusivos” no YouTube contendo falsas alegações.

E considerou como fator agravante o assédio de Belfield ter sido público, fazendo com que os seguidores nas redes sociais também abusassem de Keith por um “longo período”.

Em relação a Jeremy Vine e ao blogueiro de teatro Philip Dehany, ele foi considerado culpado de dois delitos menores de perseguição “simples”, recebendo pena de 13 semanas de reclusão por cada uma. 

Em entrevista ao programa Newsnight depois do veredito, Vine fez duras críticas às plataformas de mídia social por “falta de valores” e por “não se importarem em hospedar esse conteúdo”.

Ele  se disse surpreso pela demora do YouTube em agir, e afirmou que alguns vídeos sobre ele continuam no ar. 

O YouTube informou ter removidos vários vídeos e desmonetizou o canal. 

Ainda assim, Jeremy Vine disse que a plataforma “não tem responsabilidade”, e também recriminou o Twitter por manter a conta do condenado apesar de ele estar na prisão. 

Belfield foi inocentado das acusações de assédio a três apresentadoras de rádio e à ex-chefe da BBC Norte, Rozina Breen.

A jornalista escolheu Belfield para uma vaga na Rádio BBC em Leeds, e passou a ser perseguida quando o contrato não foi renovado, em 2011.

Breen disse que que o ex-apresentador passou a fazer comentários “vis” nas nas mídias sociais e em seu canal no YouTube, e foi abusivo em e-mails para ela e seus colegas.

Ex-apresentador condenado por ‘sérios impactos’ na vida de vítimas

Na sentença, o  juiz disse que os métodos de perseguição de Belfield eram “uma forma eficaz de intimidar as vítimas de formas mais difíceis de lidar do que a perseguição tradicional”.

O advogado de defesa, David Aubrey, tentou argumentar que o réu “não pretendia causar o nível de alarme e angústia que Keith e Hewis realmente experimentaram […].

Disse também que ele sentia muito pelo que fez e que “reconhecia que suas vítimas não deveriam ter sido submetidas a tais comunicações”.

Mas o juiz não aceitou os argumentos. 

“Você fez comunicações que tiveram sérios impactos na vida privada das queixas e tiveram efeitos angustiantes em sua saúde física e mental”.

O juiz disse que Belfield fez alegações “totalmente falsas” sobre Vine ter roubado dinheiro dos que pagam licença para assistir à BBC, em um vídeo que foi visto por mais de 400 mil pessoas.

“Você não foi um denunciante em nenhum sentido, mas desenvolveu uma fixação em perseguir Vine com uma campanha de abuso”, disse o juiz.

Na entrevista ao programa Newsnight, Jeremy Vine disse temer que em algum momento uma das 400 mil pessoas que assistiu ao vídeo de Belfield sobre ele o atacasse em casa “com uma faca ou ácido”, devido à divulgação de seu endereço residencial. 

O juiz emitiu ordens de restrição perpétuas para todas as oito vítimas, proibindo Alex Belfied de se aproximar delas para o resto da vida, embora o assédio tenha sido praticado online. 

Em uma longa postagem no Twitter, o cinegrafista Ben Hewis expressou satisfação por ter visto justiça ser feita, e descreveu a perseguição. 

Ele contou que a esposa estava grávida na época do assédio de Belfield e foi contactada pelo ex-apresentador condenado no Facebook. Uma imagem do ultrassom do bebê foi enviada, como forma de ameaça.

Hewis diz ter tido prejuízos em seu trabalho como profissional independente, pois os clientes foram abordados pelo assediador com acusações de que ele seria um criminoso. 

Ele comenta que durante o julgamento, o assédio praticado por Belfield foi apresentado mais como trollagem online do que perseguição física, o que a seu ver diminuiu a gravidade do sofrimento infligindo a ele e às demais vítimas. 

E fez uma reflexão sobre o papel da internet e das redes sociais na vida contemporânea. 

Com a proliferação das mídias sociais, a internet deixou de ser uma coleção de documentos em uma série de computadores – é um lugar onde as pessoas fazem amigos, realizam negócios, aprendem novas habilidades, compartilham seus momentos mais felizes e tristes; é onde todos os cantos da vida se unem.

Portanto, a perseguição e o assédio online no mundo de hoje têm a capacidade de causar os mesmos danos e consequências, se não maiores, que perseguir fisicamente alguém pessoalmente.

Online, ele conseguiu entrar em contato comigo a qualquer hora do dia por meio de várias plataformas online que aparentemente não se responsabilizam pelo comportamento de seus usuários.

Online, ele conseguiu formar uma multidão de seguidores e instruí-los a também me assediar, muitos anonimamente.

Online, ele foi capaz de vir até mim de vários ângulos sem nunca levantar mais do que um dedo no teclado. Online, ele me causou ataques de pânico. Online, ele me fazia sentir isolado, devastado pela culpa, pelo medo e pela dor.

Online, ele ainda poderia ter causado o aborto da minha esposa.

E por causa de suas alegações de que ele é um jornalista, apesar de muitas vezes antes do julgamento dizer que ele nunca foi e nunca gostaria de ser, online ele foi capaz de continuar intimidando suas vítimas durante todo o julgamento.”

Ben Hewis disse não ser capaz de perdoar o ex-apresentador “porque depois de ouvir o inferno que ele fez nossas vidas por tanto tempo, ele continua a mostrar absolutamente nenhum remorso, o que me leva a acreditar que ele continuará fazendo isso com muito mais pessoas”. 

Apesar dos processos e da condenação, o canal de continua no ar.

No dia em que a sentença foi anunciada, ele postou um vídeo com clipes de outros programas e uma confusa defesa da liberdade de expressão, sem se referir à condenação, mas com a frase “back Soon” (volto logo). 

A BBC noticiou a condenação em seu site, mas não fez comentários sobre o período em que o ex-apresentador trabalhou na emissora ou o motivo de seu contrato não ter sido renovado.

Um outro apresentador de rádio da BBC responde a acusações de abuso de menores praticadas quando trabalhava na rede.