Londres – A forte repressão do governo do Irã contra a onda de protestos pela morte da jovem Mahsa Amini já levou à prisão de pelo menos 20 jornalistas, segundo monitoramento do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).

As manifestações populares começaram na semana passada em reação à morte de Amini, de 20 anos, após ser presa por estar usando o tradicional véu (hijab) de forma considerada incorreta pela polícia da moralidade.

Com a eclosão dos protestos nas ruas do país, a imprensa local mobilizou uma intensa cobertura em tempo real com jornalistas ao lado dos manifestantes. Muitos desses acabaram presos, enquanto outros profissionais foram detidos após publicações nas redes sociais.

Jornalistas são presos de madrugada no Irã

A morte de Mahsa Amini provocou a ira imediata da sociedade do país, com protestos liderados por mulheres que desafiam a sharia (lei islâmica) ao retirarem e até queimarem seus hijabs em público.

Por lei, as iranianas são obrigadas a usar o véu para cobrir o cabelo e o pescoço por completo quando estão fora de casa.

A repressão do governo tem sido à altura da magnitude da revolta popular: as autoridades confirmaram 41 mortes relacionadas aos protestos. A ONG Iran Human Rights (IHR) contabiliza ao menos 76 vítimas.

Entre os presos, o total passa de 700. Desses, ao menos 20 são jornalistas, de acordo com o CPJ. A organização destacou que os detalhes das prisões são escassos por causa de um “apagão” na internet promovido pelo governo do Irã, que também limita o acesso às redes telefônicas e de mídia social.

Mas fontes disseram à ONG que vários jornalistas foram detidos durante batidas policiais em suas casas de madrugada:

“As forças de segurança – que confiscaram os aparelhos eletrônicos dos jornalistas – não identificaram qual agência eles representavam nem produziram mandados de prisão ou explicação das acusações.”

As prisões mais recentes foram da repórter freelance Sarvenaz Ahmadi e do conhecido blogueiro Seyed Hossein Ronaghi Maleki.

Um amigo de Ronaghi, o jornalista iraniano que vive no exterior Masoud Kazemi, relatou nas redes sociais que o blogueiro conseguiu falar com a mãe por telefone na segunda-feira (26). Ele contou que foi espancado e teve a perna quebrada enquanto estava sob custódia da polícia.

A partir dos relatos de suas fontes, matérias da imprensa local e informações da Associação de Jornalistas de Teerã, o CPJ organizou uma lista sobre os jornalistas presos até o dia 24 de setembro no Irã:

 Uma delas é Yalda Moaiery, fotojornalista. Ela relatou no Instagram que foi agredida e presa no dia 19 de setembro enquanto cobria protestos no centro de Teerã.

De acordo com o site de notícias IranWire, Moaiery disse que as condições na prisão de Qarchak, um centro de detenção para mulheres na cidade de Varamin, eram “horríveis”, com mais de 100 detentas espremidas em um espaço apertado.

“Há apenas 3 banheiros para uso e as autoridades prisionais prescrevem muitos tranquilizantes para as prisioneiras”, contou. 

Outra foi Niloofar Hamedi, repórter do Shargh Daily, uma das primeiras jornalistas a relatar a hospitalização de Amini. Seu advogado, Mohammad-Ali Kamfirouzi, twittou no domingo (25) que a jornalista conseguiu ligar para seu marido e dizer que está em confinamento solitário e sendo interrogada na prisão de Evin, em Teerã.

Até então, ela não tinha sido informada de nenhuma acusação que justificasse sua prisão.

Também estão presos  Iman Behpasand, comentarista política, colunista e repórter de questões femininas; Behzad Vafakhah, colunista cultural e político; Ruhollah Nakhaee, repórter de política internacional; Alireza Khoshbakht, repórter político; Zahra Tohidi, repórter política;  Fatemeh Rajabi, repórter de economia, presa em sua casa em Teerã, e Mojtaba Rahimi, um repórter político preso em sua casa na cidade de Qazvin após tweets sobre vários manifestantes mortos em sua cidade natal.

O CPJ listou ainda os nomes de Majid Tavakoli, comentarista político e colunista, preso em sua casa em Teerã; Marzieh Talaee, uma repórter curda presa na cidade de Saqqez, na província do Curdistão; Masoud Kordpour, editor-chefe da agência de notícias curda Mukrian; Khosrow Kordpour, editor e repórter da Mukrian, irmão de Masoud Kordpour e Elahe Mohammadi, repórter da estatal Hammihan Daily.

De acordo com um tweet de seu advogado, Mohammad-Ali Kamfirouzi, ela foi presa em 22 de setembro. Ele contou que policiais arrombaram a porta da casa da jornalista e a prenderam violentamente, confiscando seus dispositivos pessoais como notebook, livros, telefone e até sua credencial de imprensa.

A polícia prendeu ainda Elnaz Mohammadi, repórter política da revista bimestral Andishepouya e irmã gêmea de Elahe Mohammadi; Vida Rabbani, comentarista política recentemente condenada a dez anos e quatro meses de prisão e proibida de exercer o jornalismo; Hamed Shafiei, repórter político e social e Ahmadreza Halabisaz, fotojornalista.

Halabisaz foi preso no centro de Teerã em 22 de setembro enquanto fotografava os protestos. Poucas horas depois, ele foi autorizado a ligar para sua família e dizer que foi levado para a prisão de Evin, segundo informações do serviço persa da BBC.

Outros presos são Sarvenaz Ahmadi, repórter freelancer político e cultural e  Seyed Hossein Ronaghi Maleki, blogueiro.