Londres – A lista de problemas a serem administrados pelos organizadores da coroação do rei Charles III, que acontecerá no dia 6 de maio, ganhou mais um item: as emissoras de TV britânicas se uniram para protestar contra o que consideram uma tentativa de controle sobre a cobertura. 

O movimento formado pelas redes credenciadas para captar imagens, transmitir e fornecer a outras redes de todo o mundo – BBC, ITN e Sky News – pede que não haja limite de tempo para o conteúdo exibido e exige liberdade editorial. 

Isso significa o direito de incluir nas transmissões programas que não tenham sido aprovados previamente pelo Palácio de Buckingham. 

Tem liberdade de imprensa no Reino Unido? 

A discórdia foi revelada neste sábado (15)  pelo jornal The Times, um dos expoentes da mídia britânica alinhado ao Partido Conservador, e por consequência inclinado a apoiar a monarquia. 

Mas foi ele que expôs as tensões que podem ser vistas como interferência na liberdade de imprensa.

O Reino Unido figura em 24º no ranking de liberdade de imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras, composto por 180 países. 

A RSF aponta problemas como a prisão de Julian Assange no país, a concentração de mídia em grandes grupos, riscos para jornalistas na Irlanda do Norte e projetos de lei que podem afetar a liberdade de imprensa.

Mas censura ou interferência direta em conteúdo ou tentativa de influenciar cobertura da forma não são práticas comuns. 

No entanto, tudo o que envolve a família real e a imprensa segue ritmo diferente.

O Palácio de Buckingham alimenta a mídia com notícias positivas e fotos para se manter em evidência, e dá algumas vantagens aos amigos da corte, ganhando de volta um grau significativo de simpatia. 

Os chamados “correspondentes reais” recebem notícias em primeira mão, são convidados para eventos e viagens e enriquecem suas reportagens com informações atribuídas a ‘fontes do Palácio”, raramente desmentidas. 

Jornalistas estrangeiros não podem se credenciar diretamente para receber informações, como press releases ou avisos de credenciamento.

Isso só pode ser feito se eles pertencerem a alguma associação de correspondentes, tendo que pagar por isso, o que limita as possibilidades de freelancers ou de jornalistas independentes.

Mesmo para os que fazem parte das associações, os lugares para eventos são limitados, quando oferecidos. 

Coroação de Charles III é a segunda exibida na TV

A coroação do rei Charles III será a segunda transmitida pela TV. Em 1953,  a rainha Elizabeth inaugurou a prática, uma ideia do príncipe Philip com a qual ela acabou concordando. 

Mas na época, o cenário de mídia era diferente. Apenas a rede pública BBC transmitiu pela TV, e o momento mais importante da coroação, a unção com o óleo sagrado, não foi exibida. 

O mesmo acontecerá na coroação do rei Charles III, que não terá esse momento documentado por emissoras de TV. 

O restante da cerimônia dentro da Abadia de Westminster, no entanto, será registrado pelas três emissoras, para exibição ao vivo e fornecimento das imagens a outras redes.

Só que as condições impostas não estão agradando. 

Segundo o The Times, as três redes resolveram ‘jogar duro” para não ter controles, como aconteceu na morte da rainha Elizabeth, em setembro. 

Dias depois do funeral, o jornal The Guardian revelou que as emissoras discutiam com o Palácio de Buckingham para reverter uma determinação de reter apenas uma hora de imagens para uso futuro.

BBC, ITV e Sky News foram instadas a submeter ao Palácio uma compilação de 60 minutos para que fosse aprovada, e então deveriam retirar todas as demais imagens de qualquer plataforma. 

O Guardian também revelou que assessores da família real formavam um grupo de WhatsApp com representantes da emissora durante a cobertura que aprovavam ou vetavam imagens antes de irem ao ar. 

O jornalista David Dimbley, um veterano da TV britânica que já apresentou o programa Question Time da BBC e foi escalado para participar da cobertura do funeral de Elizabeth II, se disse surpreendido com o nível de influência do Palácio de Buckingham na cobertura, havendo uma lista completa de coisas que nenhuma emissora poderia mostrar porque os direitos autorias pertencem ao Palácio de Buckingham. 

Na época, houve uma aceitação porque o pedido foi tratado como uma tentativa de preservar a privacidade em um momento de luto pessoal. 

Não é o caso com a coroação, um evento grandioso, de três dias, que será pago pelos cofres públicos, como argumentou uma fonte ouvida pelo The Times. 

Grupos de pressão contrários à monarquia têm feito manifestações em aparições públicas do rei Charles III e da rainha Camilla, e preparam protestos para o dia da coroação – que deixarão as emissoras de TV em uma saia-justa sobre se exibirão as imagens ou não. 

Nesta sexta-feira, o estudante Patrick Thelwell, de 23 anos, foi condenado a 100 horas de trabalho social por ter atirado ovos em Charles III durante uma visita a York. 

Nesta semana, o Palácio de Buckingham colocou fim ao mistério sobre a participação do príncipe Harry, informando que ele viajará a Londres para a coroação do rei Charles III.

Mas as especulações continuaram, com versões diversas para explicar a ausência da mulher, Meghan – desde um veto até a possibilidade de ela estar grávida e não poder viajar de avião.