Dois jornalistas da rede de TV BOL estão desaparecidos no Paquistão, preocupando entidades de proteção à imprensa e direitos humanos.

Imran Riaz Khan, âncora do programa BOL News, e Sami Abraham, apresentador e presidente do canal, foram detidos por autoridades locais e não encontrados desde então, segundo a Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e o Comitê para Proteção de Jornalistas (CSJ).

Ambas as ONGs acusam o país de prender os jornalistas como tentativa de censura e intimidação, uma vez que o momento político local é de tensão desde a detenção por quatro dias do ex-premiê e líder de oposição, Imran Khan, em 9 de maio.

Autoridades do Paquistão não explicam situação de jornalistas

Imran Riaz Khan (que não tem relação com o ex-premiê de mesmo nome) está desaparecido desde sua prisão no dia 11 de maio, às 10h30, ao ser detido pela polícia do aeroporto de Sialkot, província de Punjab, sob “ordem de prevenção a violência.”

Sami Abraham, por sua vez, está desaparecido desde as 21h desta quarta-feira (25), ao ser detido em Islamabad por um grupo de “oito a dez pessoas” — alguns deles com uniformes, segundo Raja Amir Abbas, advogado de Abraham ouvido pelo CSJ.

O caso de Riaz está envolvo em mistério. 

O inspetor geral da polícia de Punjab afirmou que Riaz foi “solto” depois de testemunhar e levado em uma van policial, solicitada por agentes do estado. Segundo a transcrição consultada pelo RSF, as autoridades negam saber do paradeiro do jornalista:

“Perguntamos à polícia em todo o Paquistão. Ninguém está com Imran Riaz (…). Imran Riaz Khan não era procurado. Porém, ‘agências’ pediram por uma van policial. Os motivos pelos quais eles pediram uma van policial, [a corte] pode convocar as agências e perguntar.”

Já Abraham — intimidado ano passado por apoiadores do governo — foi interceptado por quatro veículos ao deixar a redação do BOL News, levado para um local desconhecido. O jornalista estava acompanhado do motorista, que não foi detido.

O advogado de Abraham e o irmão, Ali Raza, deram entrada em um boletim de ocorrência em Islamabad. Dois celulares do repórter, chaves do carro e o telefone do motorista foram levados. Nenhum dos dispositivos recebeu ou retornou contato.

Jornalistas desaparecidos no Paquistão eram conhecidos por suporte à oposição

Segundo fontes da mídia ouvidas pela CPJ em anonimato, os dois jornalistas foram alvos de ações do governo do Paquistão para censura e intimidação. Ambos eram conhecidos por dar voz a entrevistados pró-oposição para seus programas.

Antes do desaparecimento, Abraham havia publicado no YouTube uma série de vídeos críticos ao poder militar dentro do governo e em suporte ao ex-premiê. O canal tinha 850 mil inscritos.

Já outras fontes diplomáticas consultadas pelo RSF apontam que o silêncio do governo sobre a situação do âncora Imran Riaz seja indício de que ele possa ter sido assassinado desde a detenção.

Atualmente, o Paquistão ocupa o 150º lugar no ranking Global Press Freedom Index, índice de liberdade de imprensa em 180 países. 

Segundo a Repórteres Sem Fronteiras, responsável pela elaboração do índice, o país é um dos mais perigosos do mundo para jornalistas, com três a quatro assassinatos impunes por ano.

“Qualquer jornalista que ultrapassar os limites ditados pelo Inter-Services Public Relations (ISPR) – uma ramificação da agência de inteligência – está sujeito a ser alvo de vigilância, sequestros e detenções nas prisões do estado.”

A RSF afirma que os militares do Paquistão  atuam como um “estado dentro do estado”, frequentemente acusados de ter usado suas várias agências de inteligência e seus agentes para sequestrar jornalistas e até mesmo torturá-los enquanto estavam detidos.

O alvo anterior mais recente foi Gohar Wazir, um jornalista cujo sequestro em 19 de abril foi condenado pela RSF na época. Repetidamente espancado e recebendo choques elétricos durante as 30 horas em que foi mantido, Wazir disse que foi liberado apenas depois de concordar em gravar um vídeo apoiando os militares paquistaneses.

A organização comparou a situação do âncora da BOL News à de Arshad Sharif, um âncora daARY News, que também apoia o ex-primeiro-ministro.

Temendo o sequestro, Sharif fugiu do Paquistão em agosto de 2022 e encontrou refúgio no Quênia, sendo morto por dois tiros disparados a curta distância em um subúrbio de Nairóbi em 23 de outubro. As evidências coletadas pela RSF apontam para a responsabilidade paquistanesa.

Nova lei do Paquistão permite multa e prisão de jornalistas

O caso dos jornalistas desaparecidos somam-se a uma série de tensões recentes contra a mídia no Paquistão.

Durante a prisão do ex-premiê paquistanês em 9 de maio, houve forte repressão à imprensa, com agressão e detenção de repórteres, incêndio a carros de reportagem e — no mais grave dos casos — o incêndio da Rádio Paquistão.

A Assembleia Nacional do Paquistão aprovou uma lei de “Desacato ao Parlamento”, que pode ser usada para punir oponentes do governo e jornalistas independentes.

Criticada por organizações de direitos humanos e de defesa da liberdade de imprensa, a lei permite que o parlamento local prescreva aos infratores até seis meses de prisão ou multa de 1 milhão de rúpias paquistanesas (equivalente a R$ 17 mil), sem necessidade de processo judicial ou investigações policiais.