Marcas globais sofrem onda ‘desenfreada’ de ataques com fake news no TikTok, diz pesquisa

Londres – Um estudo do NewsGuard, projeto que monitora a desinformação online, fez um estudo  envolvendo nove marcas internacionais no TikTok e revelou que elas estão sendo vítimas de uma onda “desenfreada” de ataques baseados em fake news. 

A pesquisa foi feita entre os dias 7 e 13 de julho de 2023, analisando posts sobre as marcas Balenciaga, Barilla, Heineken, Bud Light, Anheuser-Busch, Target (rede americana de supermercados), Kohl’s (lojas de departamento), Chick-fil-A (fast food) e Hobby Lobby (materiais para artesanato). 

O NewsGuard constatou que vídeos compartilhando informações erradas sobre essas marcas foram vistos 57 milhões de vezes durante o período. Quase a metade das visualizações foram para clipes que usavam mídia gerada por inteligência artificial ou manipulada de outra forma para promover desinformação.

Fake news em 14% dos vídeos do TikTok analisados

Para chegar aos resultados, três analistas do NewsGuard baseados nos Estados Unidos, dois na Itália e um na França realizaram 26 pesquisas no TikTok.

Eles usaram palavras-chave sugeridas pelo próprio algoritmo da plataforma quando foram digitados os nomes das marcas sediadas nos EUA e na Europa. 

Os pesquisadores simularam uma busca padrão de usuário do TikTok e analisaram os 20 principais resultados de cada uma.

Dessa maneira, foram verificados 520 vídeos. Em 14% deles (73) havia alegações falsas, enganosas ou infundadas direcionadas às marcas.

Os resultados são preocupantes para as companhias, considerando a penetração cada vez maior da rede social como fonte de notícias e informações sobre produtos de consumo, sobretudo entre os jovens, que estão trocando o Google pelo TikTok para encontrar conteúdo.

E os danos às marcas podem não estar limitados apenas às nove pesquisadas no estudo, que são apenas uma amostra da extensão da desinformação na rede social, sob pressão nos EUA por sua origem chinesa.

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Desinformação no movimento de boicote contra o Target

O NewsGuard encontrou desinformação tanto em pesquisas neutras e diretas, como por meio do uso do termo “Target”, como por pesquisas sugeridas pelo TikTok relacionadas às marcas, que geralmente eram provocativas, segundo o relatório.

Por exemplo, quando um analista do NewsGuard digitou “Target” no campo de pesquisa, “Target boicote 2023” foi sugerido como novo termo de pesquisa. O resultado ao pesquisar “ Target Boycott 2023”  apresentou uma mulher alegando que a rede estaria oferecendo maiôs direcionados a crianças LGBTQ+. 

“Eles estão oferecendo para seus filhos”, disse a mulher , segurando o que ela disse ser um maiô ‘adequado’ para esconder a genitália masculina. “Se isso não lhe dá um motivo para boicotar a Target, não sei o que dá.”

Segundo a pesquisa, esse vídeo foi visto 225,9 mil vezes até 19 de julho de 2023. Outros três continham alegações semelhantes. 

A história é inteiramente falsa, pois a rede Target não vende roupas de banho para crianças, segundo o porta-voz da rede informou ao NewsGuard.

O movimento de boicote ao supermercado foi iniciado em maio de 2023 por conservadores descontentes com a coleção de roupas Pride, comemorativa do mês do Orgulho LGBTQ+. Nessa coleção são oferecidos maiôs próprios para disfarçar a genitália masculina, mas apenas para adultos. 

Bud Light e Anheuser-Bush atacadas no TikTok 

Outros alvos foram a cerveja Bud Light e sua controladora Anheuser-Busch. Os ataques à marca de cerveja começaram em março, com um post patrocinado veiculado pela influenciadora transgênero Dylan Mulvaney, que gerou uma onda contra o produto.

O estudo do NewsGuard encontrou 20 vídeos contendo alegações falsas, enganosas e infundadas sobre a cerveja e sua holding.  

Quando o NewsGuard pesquisou “Anheuser-Busch” no TikTok, o algoritmo da mídia social sugeriu a frase “O CEO da Anheuser-Busch é um agente da CIA”. 

Na verdade, Whitworth trabalhou para a CIA como oficial de operações, mas deixou a agência em 2006, de acordo com o site de verificação de fatos Verify This. 

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Whitworth também foi objeto de outras teorias da conspiração.

Outro vídeo do TikTok encontrado pelo NewsGuard sugeria que Whitworth havia tomado a decisão de contratar a influenciadora Mulvaney para a campanha porque queria combater o preconceito contra pessoas trans após o tiroteio de 27 de março de 2023 em uma escola primária de Nashville, que deixou seis pessoas mortas.

O suspeito, morto pela polícia a tiros, era Aiden Hale, um homem transgênero. A legenda do vídeo, com mais de 61 mil visualizações até o dia 19 de julho, diz:

“Então agora conheça Brendan Whitworth, Anheuser Busch… 12 [milhões] de salário anual, ex-membro da CIA que coloca um transgênero na America’s Beer logo depois que um transgênero matou crianças em uma escola cristã em Nashville.”

A informação é falsa, pois o primeiro post da Bud Light com a influencer transgênero foi exibido antes do atentado, em fevereiro. Ainda assim o vídeo teve mais de 61 mil visualizações até 19 de julho.

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Fake news criadas por IA sobre marcas no TikTok  

Sete dos 73 vídeos falsos ou enganosos identificados pelo NewsGuard incluíam imagens e clipes manipulados digitalmente – três dos quais usavam imagens aparentemente geradas por inteligência artificial – para atacar as empresas e produtos. 

Esses vídeos foram vistos mais de 26 milhões de vezes até 19 de julho de 2023 (um vídeo apareceu duas vezes). Em alguns casos, os vídeos inspiraram dezenas de usuários a deixar comentários pedindo boicotes às empresas mencionadas.

Entre eles está um contra a rede Target, sugerindo que ela estaria vendendo “roupas satânicas”. 

“Confira essas fotos sobre o que a Target tem reservado para nossos filhos e para cada um de vocês”, disse o auto-intitulado influenciador Christian TikTok “King Joshua” em um vídeo de 12 de junho de 2023. 

Segundo a pesquisa do NewsGuard, o material gerado por IA foi postado inicialmente por um usuário do Facebook chamado “The Pumpkin Empress”, que publicou os vídeos em sua página em maio de 2023 com uma legenda que claramente as identificava como criadas por inteligência artificial:“ Fotos por IA: sinceramente, sinta-se à vontade para cair nessa”.

O Newsguard criticou a falta de sinalização: 

A política do TikTok afirma que “mídias sintéticas ou manipuladas que mostram cenas realistas devem ser claramente identificadas. Isso pode ser feito por meio do uso de um adesivo ou legenda, como ‘sintético’, ‘falso’, ‘não real’ ou ‘alterado’”.

No entanto, nenhum dos vídeos manipulados que o NewsGuard identificou no TikTok continha legendas ou adesivos indicando claramente que foram editados.”

Outras marcas vítimas de fake news no TikTok

Heineken 

• Em 13 de julho, a pesquisa por “Heineken” no TikTok sugeriu as buscas”Conspiração da Heineken”, “Heineken androchrome” [sic] e “Heineken Bill Gates”.
• Foram exibidos 10 vídeos apresentando teorias de conspiração infundadas sobre Bill Gates, informando falsamente que ele teria comprado uma participação de US$ 902 milhões e estaria  usando a Heineken para “injetar coisas” em alimentos, água e animais
• A frase de pesquisa sugerida “Heineken androchrome” resultou em dois vídeos promovendo a teoria da conspiração QAnon, nos quais alega que Gates estaria  transportando em barris da Heineken o composto adrenocromo, produzido nas glândulas supra-renais humanas.

Depois que o NewsGuard pediu um comentário ao TikTok, um dos vídeos que promoviam a teoria da conspiração do adrenocromo foi removido. 

Barilla 

• Em 11 de julho, uma busca por “Barilla” no TikTok a partir da Itália trouxe como primeira opção de pesquisa “barilla insetti” (“insetos Barilla”, em tradução do italiano).

• Ao clicar, foram exibidos quatro vídeos sobre a alegação infundada de que a massa Barilla é feita com insetos.
• Em um deles, um homem diz: “Agora é oficial que a massa Barilla é feita com farinha de insetos”. Ele exibe um falso vídeo da empresa assumindo o uso do “ingrediente”, obtendo assim 353 mil visualizações.

O NewsGuard explica no relatório que essa narrativa aparentemente começou a circular pela primeira vez em outubro de 2022, depois que a Fundação Barilla, afiliada à empresa, que promove pesquisas sobre sustentabilidade, compartilhou um vídeo no qual um comediante italiano falava sobre o valor nutricional de alimentos à base de insetos. 

Após a reação nas mídias sociais, em 2 de novembro de 2022, a Fundação Barilla divulgou um comunicado à imprensa afirmando: “O Grupo Barilla nunca anunciou o lançamento de produtos feitos com farinha de insetos e não tem interesse em expandir seus negócios nessa direção.” 

Hobby Lobby 

• A pesquisa do termo Hobby Lobby apresentou como primeiro resultado um vídeo com fotos de estátuas demoníacas nas prateleiras da loja, com uma música sinistra ao fundo.
• O narrador diz: “Aparentemente, a Hobby Lobby tem uma tonelada de […] estátuas demoníacas nas prateleiras agora, o que é realmente confuso porque o Hobby Lobby é uma empresa supercristã”. 
• A empresa  não vende estátuas demoníacas, e as fotos mostradas no vídeo foram geradas por IA.

A resposta do TikTok 

O NewsGuard disse ter enviado várias perguntas ao TikTok, incluindo questões gerais a respeito do funcionamento da função de sugestão de termos de pesquisa do TikTok e sobre tópicos específicos, como como a plataforma planeja combater a desinformação gerada pela inteligência artificial. 

Embora o TikTok tenha fornecido informações gerais sobre como a plataforma lida com desinformação, o porta-voz não respondeu diretamente a muitas das perguntas, informou o NewsGuard. 

Entre as perguntas não respondidas estão o motivo pelo qual a função de pesquisa direciona usuários a procurar fake news ou desinformação, e sobre quem é o responsável por determinar a maneira como o algoritmo alimenta os resultados de buscas. 

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