A duas semanas de completar um ano no trono britânico, que assumiu no dia 8 de setembro de 2022 após a morte da mãe, a rainha Elizabeth II, o rei Charles tem uma preocupação a menos com a sua imagem e com a reputação da monarquia: uma inquérito sobre troca de doações por comendas reais na fundação comandada por ele foi encerrado pela Polícia Metropolitana de Londres. 

Em um comunicado nesta segunda-feira (21), a Scotland Yard disse que “após considerações cuidadosas” sobre a investigação aberta há 18 meses ninguém foi preso e nenhuma ação adicional será tomada. O anúncio revoltou grupos que defendem o fim da monarquia devido aos privilégios e à falta de transparência em quase tudo que a envolve. 

A nota da Polícia Metropolitana informa que nenhuma ofensa foi identificada sob a Lei de Honra (Prevenção de Abusos) ou da legislação de suborno. 

Polícia abriu inquérito sobre fundação do rei Charles após reportagem

A denúncia que deu origem ao caso, feita pelo jornal The Times em setembro de 2021, era de que a Prince’s Foundation, criada em 1986 e responsável pelas atividades beneficentes do então príncipe Charles ligadas à sustentabilidade ambiental, havia condecorado um empresário saudita que fez doações para obras sociais apoiadas pelo príncipe

Parte do dinheiro teria sido usado para reformar as áreas verdes de uma das propriedades reais usada por Charles.  De acordo com a reportagem, Mahfouz Marei Mubarak bin Mahfouz teria esperado receber a cidadania britânica e o título de Cavaleiro, a mais alta condecoração real, em reconhecimento ao seu apoio. 

O jornal Mail on Sunday revelou emails comprovando que Michael Fawcett, principal dirigente da fundação e braço-direito de Charles, havia conversado sobre o assunto com consultores contratados por Mahfouz. As correspondências também mencionam tratativas para a obtenção de cidadania britânica pelo magnata, que seria facilitada por títulos que demonstrassem sua contribuição ao país. 

No entanto, ele acabou recebendo apenas uma honraria menor em uma cerimônia privada no Palácio de Buckingham em 2016, que nem apareceu na agenda oficial de compromissos. 

O escândalo custou a cabeça de Fawcett, que renunciou ao cargo. Na época, um porta-voz do Palácio de Buckingham disse à imprensa que Charles não participava das atividades financeiras diretamente. 

Grupo Republic protesta contra a decisão da polícia 

O grupo Republic, que defende o fim da monarquia, formalizou uma queixa sobre o caso à polícia de Londres em setembro de 2021, e seis meses depois o inquérito foi aberto. 

Após a notícia do encerramento, nesta segunda-feira, o presidente do Republic, Graham Smith, que foi preso durante um protesto pacífico no dia da coroação, criticou a força policial, que chamou de “desonesta e terrível”. Ele condenou o fato de Charles nunca ter sido ouvido pelas autoridades, embora fosse o pivô do escândalo e alvo de outras situações constrangedoras. 

Em junho do ano passado, o jornal The Times revelou que o então príncipe Charles recebeu uma doação de 3 milhões de euros em dinheiro de um ex-primeiro-ministro da Catar durante uma reunião oficial, parte em sacolas de compras de uma sofisticada loja de alimentos. 

A assessoria de comunicação assegurou que o dinheiro foi repassado para uma instituição de caridade, mas informou que doações em dinheiro não seriam mais recebidas. A investigação não encontrou indícios de crime. 

Em seguida houve outra reportagem do The Times afirmando que o fundo de caridade do príncipe Charles havia aceitado uma doação da família do terrorista  Osama bin Laden em segredo.