Londres – Dois grandes veículos de imprensa com alcance global, a revista americana Forbes e o jornal britânico The Guardian, entraram em greve contra planos das empresas jornalísticas que os controlam, impactando o noticiário online e as edições impressas. 

Na Forbes, a greve por melhores salários aconteceu em 3 de dezembro, dia em que a revista divulgou um de seus principais produtos editoriais, o 30 Under 30, composto por 20 listas de pessoas influentes com menos de 30 anos. É considerado pelo sindicato de funcionários “o dia mais importante do ano para a Forbes”. 

No The Guardian, o motivo da paralisação de dois dias (4 e 5 de dezembro) é a venda da edição dominical do jornal, o The Observer, para o grupo Tortoise Media, fundado e dirigido por James Harding, um renomado jornalista inglês, que já foi editor do The Times e diretor da BBC. 

Greve de jornalistas no The Guardian é a primeira em mais de 50 anos 

O The Observer é o jornal dominical mais antigo do mundo, com 233 anos de existência. Esta é a primeira greve de jornalistas do grupo Guardian em mais de 50 anos. 

Por tradição, os jornais britânicos operam suas edições de segunda a sábado e de domingo por meio de empresas separadas, mas pertencentes ao mesmo grupo editorial e com forte sinergia de conteúdo.

As edições online das publicações destacam matérias dos dois veículos simultaneamente.

Com a possível venda do The Observer para o Tortoise, site criado em 2019 com a proposta de ser um jornal online ‘slow news’, focado em análises e não em notícias quentes, o Guardian perderia uma parte de seu conteúdo e as equipes que hoje trabalham em conjunto ficariam totalmente separadas. 

Os membros do National Union of Journalists, o sindicato de jornalistas britânico, aprovaram uma moção no mês passado afirmando que vender o jornal de domingo para a Tortoise seria uma “traição” ao comprometimento do Scott Trust com o Observer.

O trust é o proprietário do Guardian Media Group, que detém os dois títulos.

Se a transação prosseguir, a equipe do Observer pode optar por aceitar um pacote de demissão voluntária. Os jornalistas que forem transferidos para o Tortoise terão seus contratos trabalhistas atuais honrados.

Harding disse que a venda oferece a chance de investir e estender o legado do Observer, mas os funcionários do principal jornal de esquerda do país não pensam assim. 

Na votação que decidiu pela greve, 75% dos elegíveis para participar votaram, com 93% apoiando a paralisação de dois dias. 

A secretária-geral da NUJ, Laura Davison, disse:

“A votação massiva para dar esse passo mostra o desejo dos jornalistas de destacar publicamente aos leitores e aos responsáveis ​​suas preocupações coletivas sobre o futuro do título. O Observer ocupa um lugar único e importante na vida pública e nossos membros se importam com o próximo capítulo de sua história.”

Forbes em greve contra ‘intransigência contínua’ da administração

Na Forbes, os motivos da greve são “a intransigência contínua da revista na mesa de negociações e as repetidas violações da lei trabalhista”, segundo o The News Guild of New York.

Andrea Murphy, editora de estatísticas da Forbes, disse em nota publicada pelo sindicato:

“Estamos e continuaremos prontos para fechar um acordo, incluindo uma remuneração que reconheça o valor que trazemos para a Forbes. Fizemos greve no dia do lançamento do “30 Under 30” para mostrar esse valor e deixar claro que não toleraremos violações da lei trabalhista pela administração”. 

Os profissionais da revista de negócios exigem a definição de “salários justos” para cada cargo, proteção em caso de demissões e pacotes com valores mínimos e cobertura de assistência médica. 

“O sucesso da Forbes com o ’30 Under 30” é um resultado direto do trabalho duro dos nossos membros”, disse Susan DeCarava, presidente do The NewsGuild de Nova York.

“Já passou da hora de a administração reconhecer esse fato com um acordo justo.”