- O que aconteceu: A Shein acaba de receber uma multa pesada da autoridade de concorrência da Itália por comunicação enganosa sobre sustentabilidade, um mês depois de enfrentar situação semelhante na França.
- As decisões reforçam as críticas contra o modelo de negócios fast fashion, com algumas empresas do setor usando termos vagos, omissões e contradições em promessas sobre reciclagem, materiais sustentáveis e metas climáticas.
Ao aplicar a multa à rede chinesa Shein, a autoridade de concorrência italiana afirmou que as promessas no site podem induzir consumidores a acreditarem que os produtos são totalmente sustentáveis e recicláveis, quando a realidade é diferente.
Multa de 1 milhão de euros por “green claims” na Itália
A multa imposta pela Autoridade de Concorrência da Itália (AGCM) nesta segunda-feira (4) foi de 1 milhão de euros, o equivalente a R$ 6,4 milhões, contra a empresa Infinite Styles Services Co. Ltd, sediada em Dublin e responsável pelos sites da Shein na Europa.
Em um comunicado, a AGCM apontou as mensagens ambientais consideradas enganosas ou omissas — os chamados green claims — utilizadas na promoção de produtos da marca.
De acordo com o órgão, a empresa veiculou “afirmações ambientais dentro das seções #SHEINTHEKNOW, evoluSHEIN e Responsabilidade Social que eram, em alguns casos, vagas, genéricas ou excessivamente enfáticas, e em outros, enganosas ou omissas”.
As alegações sobre o “desenho de um sistema circular” e a reciclabilidade dos produtos — divulgadas na seção #SHEINTHEKNOW — foram classificadas como “falsas ou pelo menos confusas”.
Já na linha evoluSHEIN by Design, a Shein destacou o uso de fibras “verdes” sem esclarecer os reais benefícios ambientais desses materiais ao longo de seu ciclo de vida, nem informar que a coleção representa apenas uma parcela pequena da oferta total da marca.
Segundo a AGCM, essas práticas podem induzir o consumidor ao erro, fazendo-o acreditar que os produtos são totalmente sustentáveis e recicláveis.
‘Declarações da Shein não refletem a realidade’ sobre sustentabilidade
“Declarações como essas não refletem a realidade, considerando os materiais utilizados e os sistemas de reciclagem atuais”, afirmou a autoridade.
A AGCM também criticou declarações sobre metas climáticas, como a promessa de reduzir emissões de gases de efeito estufa em 25% até 2030 e alcançar emissões zero até 2050.
Essas metas, apresentadas de forma “vaga e genérica”, estariam em contradição com o aumento registrado nas emissões da empresa em 2023 e 2024.
A autoridade destacou ainda que, devido ao setor em que atua — o da “moda descartável”, altamente poluente —, a Shein deveria demonstrar um “dever de cuidado reforçado”.
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França aplica multa recorde por práticas enganosas
Em 3 de julho, a Shein também foi alvo da Direção-Geral da Concorrência, Consumo e Repressão à Fraude da França (DGCCRF), que impôs à rede chinesa uma multa de €40 milhões.
A investigação apontou práticas comerciais enganosas, tanto em relação à sustentabilidade quanto às promoções de preços.
Em 57% dos casos analisados, os descontos anunciados não representavam qualquer redução real, e em 19%, a queda era inferior ao prometido.
A agência afirmou que esses mecanismos davam aos consumidores uma falsa sensação de vantagem, distorcendo a percepção de preço e valor dos produtos.
O que diz a Shein
A Shein afirmou ter cooperado integralmente com a investigação italiana e disse ter adotado medidas corretivas para tornar suas mensagens ambientais mais claras e compatíveis com as exigências legais.
Em relação à decisão francesa, a empresa também reconheceu a sanção e declarou que implementou ajustes imediatos após ser notificada da investigação.
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