Nos últimos 10 anos, a forma de fazer jornalismo mudou. Os jornalistas também passaram por uma transformação que envolve o surgimento dos meios nativos digitais, o aprofundamento da cultura da transparência, o trabalho colaborativo, a maior participação das mulheres, mudanças na metodologia e na forma de consumo de conteúdo e transformação dos modelos de negócio.
Esses temas fizeram parte das conversas do 10º Foro LATAM de Medios Digitales y Periodismo [Fórum LATAM de Mídia Digital e Jornalismo], organizado pela Factual e Distintas Latitudes, em aliança com várias organizações e universidades de todo o continente.
Nos primeiros cinco dias do fórum, transmitido ao vivo pela plataforma Zoom, foram realizadas 24 atividades com palestrantes de mais de 18 países, e a organização registrou mais de 1.082 pessoas conectadas.
“Ao final desta edição, cerca de 650 palestrantes passaram pelo fórum. Portanto, podemos dizer que qualquer meio digital nativo da América Latina já participou de algumas de nossas atividades durante esses anos.
Esse tem sido um espaço inovador mas também resiliente.Será sempre um fórum que inova, mas sem deixar de ser um fórum diverso e plural”, afirmou Jordy Meléndez, codiretor de Factual e Distintas Latitudes durante a mesa de abertura.
Ele também anunciou que estava deixando a organização principal do evento para dar lugar às novas gerações.
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Passado e Presente
A mesa intitulada “Nossa longa caminhada: meios e jornalistas dentro de uma década” foi um olhar para o passado.
A conversa começou mostrando uma fotografia em que cada um dos participantes estava no primeiro Fórum LATAM de Mídia Digital e Jornalismo, no México, há dez anos, compartilhando a mesma mesa de discussão, só que não de forma virtual. Eles seguiram falando sobre como as sociedades e os meios mudaram.
“Nunca fomos mais latino-americanos do que agora. Nunca estivemos tão articulados como agora. Nunca estivemos tão cientes da natureza global de nossos problemas como agora”.
A conversa hoje é muito difícil, mas é mais interessante e mais próxima da realidade”, disse José Luis Sanz, correspondente do jornal salvadorenho El Faro em Washington D.C.
Essa não foi a única mesa em que palestrantes refletiram sobre o passado.
Na mesa intitulada “O que mudou em 10 anos? Os meios digitais entre fissuras, cisões e a pulsão autoritária”, o jornalista Daniel Moreno, diretor do meio digital mexicano Animal Político, falou sobre as mudanças que vem percebendo no jornalismo nos últimos anos.
“O jornalismo deu passos importantes em termos de metodologia, rigor e compreensão do que é uma hipótese. Esses tópicos não eram tão prevalentes há 10 anos. Entendemos que o trabalho do jornalista não termina com o fim de um texto”, disse Moreno.
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Mas nem tudo foi positivo. Moreno expressou sua preocupação com a deterioração dos espaços jornalísticos e o aprofundamento dos espaços de opinião. Para ele, há mais interesse na opinião do que na informação verificada.
“Em última análise, o melhor jornalismo é feito em meios digitais. O pior jornalismo também”, disse o diretor do Animal Político.
Representatividade da mulher nos meios
A importância da diversidade nas redações foi um tema recorrente durante a primeira semana do fórum. Na abertura do evento, a CEO e fundadora da Chicas Poderosas, Mariana Santos, abriu a conversa sobre a baixa representatividade feminina nos meios latino-americanos.
Santos lamenta que, apesar dos avanços alcançados nessa área, em muitos casos, parece que continuamos iguais.
Em seguida, houve um bloco de apresentação de projetos sobre diversidade nas redações.
Mariana Alvarado, coordenadora da Primeira Conferência Latino-Americana de Diversidade no Jornalismo, destacou que a tarefa do jornalista é servir ao público mesmo que, às vezes, se esqueça.
“Diversidade, equidade e igualdade não estão muito presentes nos meios, embora haja grandes avanços. A diversidade abrange uma perspectiva de gênero, mas também abrange a comunidade LGBT, os povos indígenas, as pessoas com deficiência”, afirmou.
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Ela também comentou que a questão da diversidade não é apenas a linguagem inclusiva: “Diversidade e inclusão não param por aí. A linguagem é de apenas 5%”.
Os dados também confirmam a situação. Durante o fórum, Eduardo Suárez, diretor de Comunicação do Instituto Reuters, falou sobre um relatório que fez sobre a desigualdade de gênero nas lideranças das redações.
O estudo conclui que apenas 22% dos cargos hierárquicos dos 240 meios de comunicação da amostra são ocupados por mulheres, apesar de, em média, elas representarem 40% do total de jornalistas que atuam nesses locais.
“Uma das consequências é que agora vemos que muitas mulheres se sentem maltratadas porque a imprensa não está refletindo suas realidades ou oferecendo uma imagem real do que suas comunidades sofrem”, disse Suárez.
Jornalismo feito no interior
Os jornalistas locais estão próximos dos fatos e acontecimentos que ocorrem e, muitas vezes não são valorizados, recebendo a importância que merecem.
Além disso, graças ao jornalismo que se faz no interior, é possível saber de histórias que de outra forma não saberíamos. Com essa premissa, iniciou-se a mesa intitulada “Desafios do jornalismo feito do interior”.
“O jornalismo feito nas províncias e comunidades tira o olhar do centro e o coloca nas outras realidades que não estão sendo contadas em nível nacional”, disse Noelia Esquivel, jornalista do La Voz de Guanacaste, da Costa Rica.
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Houve também a oportunidade de falar sobre as motivações que levaram os palestrantes a continuar trabalhando localmente apesar das dificuldades.
“Além da paixão pelo jornalismo, que nos move a todos, a minha grande motivação para fazer jornalismo local é estar mais próximo do público e a liberdade de construir coletivamente uma linha editorial”, disse Rafael Gloria, editor da Nonada, de Porto Alegre.
A brasileira Alice de Souza, editora da Revista Retruco, falou em outra mesa sobre a possibilidade de inovar a partir do jornalismo local.
Ela afirma que “fazer jornalismo local é contar para outras partes do país tudo o que não chega sobre o lugar onde estamos… O jornalismo local está mais próximo das fontes, das pessoas e do público”.
Inteligência artificial como o futuro
Não apenas o passado foi lembrado durante o fórum. O futuro do jornalismo também fez parte do debate.
Uma das conferências foi conduzida por Ramón Salaverría, professor e pesquisador da Escola de Comunicação da Universidade de Navarra, com mais de 25 anos de experiência em meios digitais.
Salaverría se atreveu a prever que nos próximos anos a criação de notícias será uma mistura entre o trabalho do jornalista e a geração automática de algoritmos e robôs.
“Há apenas cinco anos, o jornalismo de dados só estava ao alcance de meios com uma equipe muito consolidada e com dinheiro. As tecnologias para fazer jornalismo de dados se democratizaram.Minha expectativa é que algo assim possa acontecer com as tecnologias de inteligência artificial”, disse o professor.
O tema também foi abordado na mesa intitulada “Como imaginamos o futuro do jornalismo?”, A jornalista venezuelana Laura Weffer disse que acredita muito no jornalismo narrativo e que existe uma função do jornalista difícil de ser substituída por robôs. Ela comentou:
“Sempre acho que as pessoas estão consumindo mais histórias e menos informações formais.”
*Katherine Pennacchio é uma jornalista venezuelana vivendo na Espanha. Ela desenvolveu sua carreia como parte da mídia e de organizações não governamentais. É co-fundadora do Vendata.org, um projeto inovador para a liberação e publicação de dados abertos na Venezuela. Atualmente trabalha como freelancer e faz parte da Associação de Jornalistas Investigativos da Espanha.
Este artigo foi publicado originalmente na LatAm Journalism Review, um projeto do Knight Center Para o jornalismo nas Américas / Universidade do Texas. Todos os direitos reservados à publicação e ao autor.
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