Após três anos de contestações por parte do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, o Conselho dos Prêmios Pulitzer concluiu uma revisão interna sobre as vitórias dos jornais The New York Times (NYT) e Washington Post (WP) em 2018 e manteve a honraria a ambos.
As publicações dividiram o prêmio de “Reportagem Nacional” por um conjunto de 20 matérias que trouxe evidências da ligação da administração Trump com o governo da Rússia, além de interferência do país para favorecer o então candidato republicano nas eleições americanas de 2016.
Representantes dos jornais não se manifestaram sobre a decisão. Trump, no entanto, disse em comunicado que o único Pulitzer que os dois jornais deveriam receber seria com a criação da categoria “desinformação”.
Pulitzer não encontra irregularidades em vecendores
O Prêmio Pulitzer foi criado em 1917 pela Universidade de Columbia e premia anualmente trabalhos de jornalistas ou organizações radicadas no país em 16 categorias. É o mais importante dos EUA e um dos principais do mundo.
Em 2018, as equipes do NYT e o WP foram as vencedoras da categoria “Reportagem Nacional” por uma “cobertura de interesse público baseada em fontes sólidas que aumentou drasticamente a compreensão do país sobre a interferência russa nas eleições presidenciais de 2016 e suas conexões com a campanha de Trump”, segundo o júri do Pulitzer.
Desde então, Trump vinha solicitando que os prêmios fossem retirados dos dois jornais, pois alega que as publicações mentiram sobre os fatos reportados.
Em nota divulgada na segunda-feira (18), o Conselho dos Prêmios Pulitzer disse que tem um processo formal estabelecido pelo qual as reclamações contra as inscrições vencedoras são “cuidadosamente” analisadas:
“Nos últimos três anos, o Conselho do Pulitzer recebeu questionamentos, inclusive do ex-presidente Donald Trump, sobre as inscrições do The New York Times e do The Washington Post sobre a interferência russa nas eleições dos EUA e suas conexões com a campanha de Trump – inscrições que, em conjunto, ganharam o prêmio de Reportagem Nacional, em 2018.”
As contestações levaram o Conselho do Pulitzer a encomendar duas revisões independentes sobre as reportagens vencedoras por pessoas sem vínculo com os jornais.
“As revisões separadas convergiram em suas conclusões: nenhuma passagem, manchete ou afirmação em qualquer uma das inscrições vencedoras foi desacreditada por fatos que surgiram após a entrega dos prêmios.
Os Prêmios Pulitzer 2018 em Reportagem Nacional estão mantidos.”
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Trump, que sempre negou qualquer interferência ou auxílio recebido da Rússia para derrotar Hillary Clinton, pediu em ao menos três ocasiões que os prêmios do NYT e WP fossem cancelados.
Em outubro do ano passado, ele falou do assunto em uma carta aberta e disse que a cobertura dos veículos foi “baseada em falsas reportagens de uma ligação inexistente entre o Kremlin e a campanha de Trump”.
Ele defendeu que as matérias não eram “mais do que uma farsa politicamente motivada que tentou criar uma narrativa falsa de que minha campanha supostamente conspirou com a Rússia, apesar da completa falta de evidências que sustentam essa alegação”.
Em maio deste ano, em uma carta a Marjorie Miller, a administradora dos Prêmios Pulitzer, Trump ameaçou processar a premiação por difamação se as honrarias não fossem revogadas, segundo informou o NYT na ocasião.
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Trump diz que Pulitzer premiou ‘fake news’
Banido das maiores redes sociais e isolado na sua própria, a reação de Trump sobre o posicionamento dos Prêmios Pulitzer veio por meio de nota divulgada pelo jornal The Hill.
O ex-presidente criticou — como era de se esperar — a decisão do conselho em não revogar os prêmios concedidos aos jornais.
“O Conselho Pulitzer tirou qualquer resquício de credibilidade que havia com sua ‘resposta’ em relação ao Prêmio Pulitzer de Reportagem Nacional de 2018, que foi concedido ao New York Times e ao Washington Post por notícias falsas”, disse Trump em um comunicado.
“Em vez de agir com integridade e fornecer transparência, o Conselho Pulitzer está encobrindo a maior falha de reportagem da história moderna: o falso conluio com a Rússia”, acrescentou.
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Trump ainda sugeriu que o único Pulitzer que os dois jornais deveriam receber seria se uma nova categoria chamada “desinformação” fosse criada.
“A verdade é que o Prêmio Pulitzer de 2018 foi entregue para reportagens que meramente repetiam desinformação política – desinformação que sabemos ter sido fabricada por agentes estrangeiros e meus oponentes políticos”, disse o republicano.
“Se o Prêmio Pulitzer se tornou um reconhecido propagandista de política falsa e liberal, então o Conselho Pulitzer deveria apenas dizer isso”, acrescentou.
O ex-presidente dos EUA afirmou que vai continuar fazendo “todo o possível” para “corrigir o erro” causado pelos Prêmios Pulitzer.
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