O embate entre famosos e mídia ganhou mais um capítulo na semana passada com dois conhecidos atores do cinema internacional “saindo de cena” na internet e nas coletivas de imprensa. 

O norte-americano Jonah Hill, 38 anos, divulgou que não vai mais participar de entrevistas para divulgar seus filmes, e fechou sua conta no Instagram. E e o inglês Tom Holland, 26 anos, decidiu abandonar suas redes sociais.

As duas celebridades deram a mesma justificativa: proteger a saúde mental e evitar crises de ansiedade.  E eles não estão sozinhos.

Pressão na relação entre famosos e mídia

Desde o início 2021, dezenas de artistas, cantores e atletas tiveram a mesma atitude.

Hill, que atuou em longas como “O lobo de Wall Street” e “Anjos da lei”, disse na quarta-feira (17) que não participará mais de entrevistas ou turnês de divulgação porque esses eventos geram preocupação intensa e excessiva. 

Na indústria do entretenimento, é comum os atores e diretores passarem um ou até dois dias em entrevistas individuais com a imprensa, geralmente realizadas em hotéis. 

As conversas não costumam ser provocativas ou tensas. Assessores combinam antes o que vai ser perguntado, e é comum solicitarem que os repórteres não abordem certos temas, antecipando que será perda de tempo, pois o entrevistado não falará sobre eles. 

Ainda assim, o artista é submetido a uma maratona em que tem a responsabilidade de responder de forma a valorizar a obra e não levantar polêmicas. Para Jonah Hill, não é uma situação confortável. 

O ator revelou em uma carta publicada pelo site de notícias de entretenimento Deadline a decisão de não participar das rodadas de entrevistas enquanto divulgava seu novo documentário “Sputz”, baseado na relação dele com o terapeuta Phil Stutz, que o trata desde 2017.

“Terminei de dirigir meu segundo filme, um documentário sobre mim e meu terapeuta que explora a saúde mental em geral chamado “Stutz”. 

Todo o propósito de fazer este filme é dar terapia e as ferramentas que aprendi na terapia a um grande público para uso privado através de um filme divertido.

Através dessa jornada de autodescoberta dentro do filme, cheguei à conclusão de que passei quase 20 anos experimentando ataques de ansiedade, que são exacerbados por aparições na mídia e eventos públicos.”

Ele explica então que o público não o verá promovendo a nova obra

“Estou muito feliz porque o filme fará sua estreia mundial em um prestigioso festival de cinema neste outono, e mal posso esperar para compartilhá-lo com o público de todo o mundo na esperança de que ajude aqueles que estão lutando. 

No entanto, você não vai me ver por aí promovendo este filme, ou qualquer um dos meus próximos filmes, enquanto eu dou este importante passo para me proteger. 

Se eu me deixasse mais doente por ir lá e promovê-lo, não estaria agindo fiel a mim mesmo ou ao filme.”

Hill admite ser “um dos poucos privilegiados que podem se dar ao luxo de dar um tempo” na mídia. 

“Eu costumo me encolher com cartas ou declarações como essa, mas entendo que sou um dos poucos privilegiados que podem se dar ao luxo de tirar uma folga. 

Eu não vou perder meu emprego enquanto estiver trabalhando na minha ansiedade. Com esta carta e com “Stutz”, espero tornar mais normal para as pessoas falarem e agirem sobre essas coisas. 

Para que eles possam tomar medidas para se sentirem melhor e para que as pessoas em suas vidas possam entender seus problemas com mais clareza.”

Embora o movimento tenha sido aplaudido por muitos, houve quem criticasse o artista nas redes sociais, com comentários irônicos sobre “como é difícil ser rico e famoso”.

Alguns chegaram a sugerir que ele estivesse sob efeito de drogas. 

Na mesma semana, Hill também fechou sua conta no Instagram, onde também já tinha dado sinais de desconforto. 

Em outubro de 2021,  o ator fez uma postagem pedindo aos fãs que parassem de fazer comentários, bons ou ruins, sobre o seu corpo, pois “não eram úteis”. 

Antes, ele tinha falado sobre como  “inseguranças de infância” foram “exacerbadas por anos de zombaria pública sobre seu corpo pela imprensa”.

Há três anos, o. ator dirigiu uma série sobre bullying em conjunto com o Instagram. 

Famosos e mídia social

Já o ator Tom Holland, protagonista do filme “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa”, anunciou que está deixando suas redes sociais, onde tem cerca de 75 milhões de seguidores, no sábado (13), em seu perfil no Instagram. 

No post, que no momento da redação deste texto tinha pouco mais de 22 milhões de visualizações, ele falou que as mídias digitais são “prejudiciais”, e prendem as pessoas em um círculo vicioso.

“Acho o Instagram e o Twitter superestimulantes e esmagadores”, falou.

“Me pego preso em uma espiral quando leio coisas sobre mim on-line e, no final das contas, é muito prejudicial ao meu estado mental.

Então decidi dar um passo atrás e excluir o aplicativo”, completou o ator.


 

Naomi Osaka X mídia

As atitudes de Hill e Holland não foram isoladas. Um dos casos mais emblemáticos envolvendo famosos e mídia aconteceu em 2021. Em maio daquele ano, a tenista japonesa Naomi Osaka, na época com 22 anos, anunciou que não iria mais participar das entrevistas coletivas do torneio de Roland Garros, na França.

Para justificar a decisão, ela falou que alguns questionamentos feitos por repórteres impactam sua saúde mental. Disse ainda que as perguntas dos profissionais, além de serem repetitivas, fazem os profissionais do esporte duvidarem de suas capacidades.

O comportamento da atleta, que costuma se engajar em causas sociais e integrou a lista de pessoas mais influentes do mundo da revista Time em 2019 e 2020, gerou descontentamento dos organizadores do torneio francês. Na época, ela foi multada em US$ 15 mil por não participar das coletivas, algo corriqueiro no marketing esportivo.

Por outro lado, o embate travado pela famosa contra a imprensa para preservar sua saúde mental recebeu apoio de diversos atletas e patrocinadores, como o astro da Fórmula 1 Lewis Hamilton e a Nike, por exemplo.

“Melhor decisão da vida”

A pressão gerada por mídias sociais e imprensa fez outras celebridades desistirem da mídia, como Ed Sheeran, Selena Gomez, Justin Bieber, Robert Lindsay, Demi Lovato e Camila Cabello.

Selena, que entregou a senha de seu Instagram, com cerca de 350 milhões de seguidores, para sua equipe, disse no início deste ano que sair das redes sociais foi a melhor decisão que tomou na vida.

Em 2021, o think tank Education Policy Institute e a instituição The Prince’s Trust afirmaram em relatório que o uso intensivo das redes sociais estava prejudicando a saúde mental de adolescentes, segundo reportagem da BBC publicada no início deste mês.

Parte da toxicidade das mídias sociais vem do fato de elas não terem controle sobre o que é publicado, o que dá espaço para comentários de ódio.

No ano passado, o Wall Street Journal revelou que o software do Facebook usado para detectar e retirar mensagens de ódio não consegue captar nem 2% do que é publicado na rede social.

Protesto

Por causa da falha das plataformas de mídias sociais na moderação de comentários, muitos atletas também decidiram deixar as plataformas. Um deles foi ex-jogador de futebol francês Thierry Henry, que decidiu se desconectar do Twitter no ano passado em protesto contra o racismo.

“A partir de amanhã de manhã estarei me retirando das redes sociais até que as pessoas no poder sejam capazes de regular suas plataformas com o mesmo vigor e ferocidade que têm atualmente quando você infringe direitos autorais….

O grande volume de racismo, bullying e tortura mental é muito tóxico para ser ignorado. TEM que haver alguma responsabilidade”, disse ele na época.

Um dos jogadores vítimas de preconceito foi o brasileiro Fred Rodrigues, do Manchester United. Ele foi atacado em ambiente virtual depois que perdeu uma bola em uma partida disputada no início de 2021.