Londres – O premiado fotógrafo brasileiro Felipe Fittipaldi foi o grande vencedor do World Report Award, concurso do Festival de Internacional Fotografia Ética, realizado anualmente na Itália.
Enquanto o Paquistão sofre com enchentes repentinas que mataram e desalojaram milhares de pessoas, a série “Eustasy” do brasileiro documenta o drama dos migrantes ambientais que há mais de meio século vêm lentamente perdendo casas e sua identidade em Atafona, litoral norte do Rio de Janeiro, na foz do Paraíba do Sul.
Segundo pesquisadores, as mudanças climáticas aceleram o processo de erosão, influenciando a frequência e intensidade de ressacas e provocando tempestades mais extremas. Em Atafona, o mar avança três metros por ano e já engoliu ruas inteiras, fazendo desparecer casas, o maior hotel da cidade, um posto de gasolina e até uma igreja.
Outros dois fotógrafos brasileiros ficaram entre os finalistas
O prêmio World Report tem como foco as pessoas e suas histórias sociais ou culturais e a relação entre ética, comunicação e fotografia. A história dos migrantes ambientais de Atafona foi considerada a mais impactante pelo júri entre 850 trabalhos de 741 fotógrafos de 60 países.
O Brasil foi representado por mais dois fotógrafos, Raphael Alves e Ian Cheibub, que ficaram entre os finalistas do concurso. Seus projetos abordaram os dramas sociais da mineração em Carajás, no Pará e da Amazônia durante a pandemia.
Conheça o trabalho do fotógrafo brasileiro premiado
Felipe Fittipaldi é um fotógrafo e videomaker brasileiro formado em jornalismo e pós-graduado em Comunicação e Imagem, morando atualmente em Vancouver.
Ele colabora com jornais, revistas e corporações de vários países e já recebeu diversos prêmios pelos seus trabalhos como fotógrafo, como Lens Culture Emerging Talents, POY Latam Award, National Geographic Photo Contest e Magnum Caravan Scholarship 2017.
Em 2018, foi selecionado pela World Press Photo Foundation para o 6×6 Global Talent Program. Em 2019, tornou-se bolsista do National Geographic Explorer e seu trabalho passou a fazer parte da coleção da Biblioteca Nacional da França (BnF).
Projeto ‘Eustasy’
Fittipaldi foi o vencedor do prêmio principal do concurso de fotografia com o projeto ‘Eustasy’, sobre a comunidade de Atafona, distrito da cidade de São João da Barra, que ele começou a registrar em 2014.
Ali o rio Paraíba do Sul, que corta os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, desemboca no mar. O local é uma vila de pescadores e balneário para moradores de cidades próximas, como Campos dos Goytacazes – mas sua história mudou depois da erosão.
“Eustasy”, o nome da série, é o termo usado para designar a mudança do nível do mar, causada por movimentos de partes da crosta terrestre ou derretimento de geleiras.
Em todo o mundo, o litoral sempre esteve em constante transformação. A diferença é a velocidade com que isso ocorre, observa o fotógrafo.
“Em alguns lugares, processos erosivos que costumavam levar centenas de anos agora podem ser testemunhados em apenas uma geração.
A maior parte da rápida transformação que vemos hoje está relacionada às mudanças climáticas causadas pela exploração humana”.
Barragens no rio Paraíba do Sul, bem como a devastação das matas ao longo do seu curso, estão entre as causas do fenômeno.
Com o fluxo diminuído e o leito assoreado, o rio não consegue vencer o mar, que avança cada vez com mais força sobre a foz, onde fica Atafona.
O projeto de Fittipaldi documenta a complexa relação entre uma comunidade e seu ambiente, que é ao mesmo tempo íntima e implacável, definida pela dependência, melancolia e protagonistas de personagens que aceitam o que passou ou aguardam o próximo dilúvio.
O fotógrafo explica seu projeto:
“É também uma exploração visual da passagem do tempo, do desaparecimento e da aceitação da transitoriedade da existência, pois muitas dessas fotografias são documentos visuais de uma paisagem que já não existe, confirmando as rápidas e perturbadoras transformações da sociedade contemporânea”.
Esta imagem mostra o que sobrou do maior hotel do distrito, um prédio de três andares que sumiu com a ressaca de 2008.
Os primeiros registros que se têm notícia da erosão costeira em Atafona datam de 1954, na Ilha da Convivência, que hoje já foi praticamente toda engolida e seus habitantes forçados a deixar suas casas e buscar moradia em outros lugares.
“Com um ambiente em constante mudança, a cidade mostra a ação do tempo na sociedade contemporânea e a crise entre o homem e a natureza.
Nas últimas décadas, o mar vem subindo e submergindo a pequena cidade, produzindo centenas de migrantes ambientais”.
As dunas escondem cerca de 400 prédios entre prédios públicos, edifícios residenciais, hotéis, um posto de gasolina e uma igreja.
Um conjunto de fatores que inclui a elevação do nível do mar e as desastrosas intervenções humanas ao longo do rio fizeram de Atafona o caso mais significativo de erosão costeira no Brasil.
“O rio abastece as maiores cidades do Brasil (cerca de 14 milhões de pessoas) e o déficit hídrico do estuário causado pela exploração humana é o principal fator por trás da erosão, pois o fraco fluxo de água não é mais capaz de garantir o equilíbrio com o oceano, reabastecer os sedimentos e neutralizar o mar invasor.
A erosão afeta a pesca, que uma das atividades econômicas, afeta o turismo e as pessoas, que perderam suas casas duas, três vezes nos últimos 50 anos”.
Gervásio Gonçalvez, catador de caranguejo e pescador do delta do Paraíba do Sul há 30 anos, agora guarda os barcos no quintal de sua casa.
Cerca de 60% do volume de água dos rios foi desviado para abastecer a cidade do Rio de Janeiro.
A foz direita do delta do Paraíba do Sul está se fechando e, devido ao assoreamento, barcos maiores não conseguem alcançar o alto mar. Os que ficam encalhados na tentativa devem esperar até a lua cheia para continuar sua jornada”.
Érica Nunes mora em uma casa cercada por dunas de areia em Atafona. Em 2019, o mar invadiu sua casa durante a noite.
Com uma perna paralisada desde criança, ela ficou deitada em sua cama até a manhã seguinte, quando os bombeiros dragaram a água do mar. No entanto, perdeu a maioria de seus pertences.
“As ondas já invadiram sua casa em outras ocasiões, mas Erika insiste em ficar porque diz não ter para onde ir”.
Edineilson Oliveira reza na praia. Morador de Atafona desde 2009, ele usa as ruínas como fonte de alimento, capturando os mexilhões que grudam nas paredes das casas que ficam no mar”.
Ledimar Neves da Silva, pescador local, observa o mar em Atafona. Em 2012, ele teve que deixar sua casa na praia quando as ondas derrubaram sua janela.
Segundo ele, a casa em que morava ficava longe do mar quando se mudou, mas o mar foi se aproximando aos poucos. Sua casa agora está sob as dunas da praia, mas ainda é possível saber onde ficava porque os troncos das árvores de seu quintal ainda resistem na praia.
“A paisagem decadente que caracteriza Atafona revela a profunda crise que ocorre entre o ser humano e a natureza”.
“Eu sei o que está acontecendo no delta por causa do descaso com o rio, mas acho que pouca gente sabe e essa história tem uma importância para a gente entender como a natureza funciona”.
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Veja também os outros fotógrafos premiados no concurso vencido pelo brasileiro
Menção honrosa Grande Prêmio – Mafqoodeen – Descobrindo o Iraque, por Alessio Mamo, Itália
O projeto de Alessio Mamo recebeu menção honrosa no prêmio de fotografia ética por retratar o trabalho de especialistas iraquianos e internacionais para descobrir os desaparecidos no Iraque.
O Iraque tem o maior número de pessoas desaparecidas em um único país – as estimativas variam de 250 mil a 1 milhão, como resultado de quatro décadas de ditadura, guerras, genocídio e terrorismo.
“As escavações não são apenas das valas comuns do ISIS (sigla em inglês para Estado Islâmico da Província de Khorasan) dos últimos anos, mas muitas vezes valas comuns da década de 1980 (guerra Iraque-Irã), 1990 (guerra do Golfo) e conflitos pós- 2003 (invasão dos EUA no Iraque e na Al-Qaeda).
“A partir de 2019, eles foram acompanhados por uma equipe de investigação internacional da ONU, que ajudou na coleta de evidências para processar crimes do ISIS. As campanhas nas diferentes províncias do Iraque envolvem as famílias das vítimas para coletar amostras de DNA e outras provas”.
“O esforço apaixonado, humilde e enorme da equipe está fazendo a história do Iraque. Eles terão que trabalhar ainda por muitos anos, mas sua esperança é apenas uma: que a próxima vala comum seja a última”.
Vencedor Destaque – A separação, uma história de amor do Brexit, por Line Ørnes Søndergaard, Noruega
A decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia foi o tema do projeto vencedor da categoria Destaque do prêmio de fotografia.
“Este projeto retrata um dos eventos políticos mais dramáticos do nosso tempo. Ele leva o público através de um labirinto de causas que levam ao Brexit, com o objetivo de ir além das manchetes e apresentar uma narrativa mais sutil e complexa sobre polarização e ruptura política”.
“Aleksandra da Lituânia trabalha em uma fábrica. Ela é uma mãe solteira e acabou de se apaixonar. Albert é um pescador aposentado, viúvo e pronto para se divertir.
Ambos residem na mesma cidade inglesa, mas vivem vidas totalmente separadas. Em nenhuma outra cidade mais habitantes votaram para deixar a UE do que em Boston, Lincolnshire”.
A fotógrafa Line Ørnes Søndergaard e o escritor Yohan Shanmugaratnam seguiram a família desde o momento que antecedeu o referendo e pelos anos seguintes de turbulência, até que o Brexit entrou em vigor em 1º de janeiro de 2021.
“Este projeto começou como uma série de reportagens em andamento por causa de um trabalho do jornal norueguês “Klassekampen”.
Esta é uma história sobre abrir fronteiras e fechar mentes, sobre classe e identidade, solidariedade e desconfiança. E sobre o amor, a perda e a necessidade de pertencer”.
Vencedora Reportagem curta – Tornando-se cidadão, por Isabella Franceschini, Itália
Outra série premiada no concurso vencido pelo fotógrafo brasileiro, de autoria da italiana Isabella Franceschini, mostra a rotina de Michelle, uma menina de apenas 15 anos que é a prefeita mais jovem da Itália e a primeira a assumir o cargo de conselheira regional.
Isto acontece devido a uma lei do Parlamento de 1977 que permite a participação de crianças em órgãos políticos através dos Conselhos Municipais da Criança, que se organizam da mesma forma que um conselho sênior típico.
De acordo com a recente COP26 e o Global Youth Development Index, os jovens estão profundamente preocupados com o mundo que herdarão e querem estar mais engajados em atender às necessidades de desenvolvimento de suas comunidades.
Eles geralmente trazem novas ideias e podem ser uma fonte inesgotável de energia e paixão pela mudança social. Eles começam a absorver os valores da democracia desde a infância. Eles se identificam com o conceito de internacionalismo e globalismo.
“Em 2021, Michelle tornou-se membro da Assembleia Regional da Juventude da região Emilia-Romagna, a primeira na Itália a ser estabelecida.
A função dos jovens conselheiros é opinar sobre as medidas regionais em andamento e formular propostas que contribuam para a proteção dos direitos humanos das crianças”.
“Esses jovens agentes de mudança locais são uma nova geração de jovens cidadãos dinâmicos, diversificados e inovadores que defendem os valores democráticos e estão motivados e capacitados para se organizar por um mundo mais pacífico e justo”.
Vencedor Prêmio Estudantil – Entre os anos, por Valentin Goppel, Alemanha
Goppel foi eleito vencedor do prêmio estudantil com um ensaio fotográfico sobre a história da juventude alemã durante a pandemia.
Quando o bloqueio foi decretado, o fotógrafo havia acabado de terminar seu último projeto fotográfico. Ele estava visitando seus pais em Regensburg, Alemanha, para descansar um pouco quando o noticiário informou que as universidades estavam fechando.
No final do ano passado, recebeu do Die Zeit a incumbência de fotografar sua geração em tempos de coronavírus, Valentin finalmente percebeu a relevância do assunto e sentiu o gostinho da história em sua totalidade.
“Tirei fotos de amigos e conhecidos de conhecidos. Na maioria das vezes, no entanto, eram as pessoas que eu sentia falta há meses”.
Especialmente no início da pandemia, ele tirou muitas fotos da proximidade inevitável que estava sendo trazida para casa. As pessoas voltaram a morar com seus pais, fora de sua liberdade recém-conquistada.
“A pandemia parece ter o poder inescapável de trazer à luz todos os conflitos internos”.
Alguns de seus amigos tiveram problemas para se reconectar com as pessoas depois do inverno, e ele não foi diferente.
“O não saber para onde ir com você mesmo, ainda não ter ideia de onde se segurar quando tudo está tremendo: isso talvez seja parte do estado entre ser criança e ser adulto de qualquer maneira. O coronavírus atua como um catalisador aqui”.
Vencedor Imagem única – Casamentos, por Tom Fox, EUA
A história de um casamento na data do palíndromo, 22.02.2022, foi a imagem ganhadora do prêmio de fotografia na categoria Imagem única.
“Para o deleite de seus filhos, Nahndy Malbrough dá um beijo em sua parceira April Turner depois que eles se casaram pelo juiz de paz no South Dallas Government Center.
Seus filhos Kymmani, SJ Tucker e Talia serviram como sua corte nupcial. O prédio do tribunal estava cheio de casais querendo se casar no ‘Twosday’, o 22º dia do 2º mês de 2022″.
Menção honrosa Imagem única – Saskia, ninfa do rio, por Julia Gunther, Alemanha
A menção honrosa da categoria Imagem única do prêmio de fotografia ética ficou com a foto de Saskia, que participa de um grupo que pratica natação.
“Saskia van Drimmelen segura dois sacos de lixo plástico que ela coletou durante dois mergulhos matinais no rio IJ. Ela é membro do IJ-Nymphs, um grupo de mulheres que nadam no maior rio de Amsterdã”.
“Durante os meses de verão, quando o tráfego fluvial é mais alto, a quantidade de lixo flutuando na água aumenta significativamente.
A cada ano, a cidade de Amsterdã remove mais de 42 mil kg de plástico de suas vias navegáveis. Em resposta, as IJ-Nymphs se encarregaram de coletar lixo durante seus mergulhos matinais”.
Conheça os brasileiros finalistas do prêmio de fotografia ética
Finalista Prêmio Estudantil – Há um buraco entre nós, por Ian Cheibub, Brasil
Ian Cheibub é um contador de histórias visual e estudante de mídia na Universidade Federal Fluminense. O fotógrafo trabalha para meios de comunicação internacionais como o GEO Magazine, Der Spiegel, The Guardian, De Volkskrant, Stern, Vice e NRC.
Em 2019, seu projeto Jurujuba foi eleito o Melhor Portfólio para o Programa de Estudantes Canon, indicado ao Prêmio Coup de Cœur – ANI (Association des Iconographes) e finalista no Festival Paraty em Foco.
Projeto ‘Há um buraco dentro de nós’
No World Report Award, Cheibub concorreu na categoria estudantil com a série ‘Há um buraco dentro de nós’, retratando áreas de mineração em Carajás, no Pará.
Assim como o fotógrafo brasileiro premiado com o primeiro lugar no concurso, ele documentou os efeitos da ação do homem sobre as pessoas .
“Este projeto visa examinar os vazios que foram criados pela mineração tanto na terra quanto na vida dos habitantes de Carajás, que carregam em sua memória a complexa história desta região”.
A foto mostra a vista aérea da estrada de ferro Carajás.
“Debaixo da terra estão nossos mortos e nossas riquezas. Em cima dela, os que lutam por ela e os que lucram com ela. Aviões, carros, geladeiras, edifícios e grande parte do que nos cerca vêm de Carajás, a maior mina de ferro do mundo, no meio da Floresta Amazônica”.
Na imagem o terceiro maior trem do mundo, que carrega o minério de ferro da mina para o porto de Itaquí, em São Luís do Maranhão, pela estrada de ferro Carajás.
“A montanha que hoje gera bilhões em lucro já foi palco da guerrilha mais importante da história do Brasil.
Quinze anos depois da vitória do governo militar, inicia-se o Grande Projeto Carajás em parceria com os EUA, deixando um apagamento histórico como legado: dezenas de violações de direitos humanos ao longo de 900 mil km2″.
O esquecimento é um fardo de toda a América Latina, especialmente no Brasil”.
“Moradores do bairro de Piquiá de Baixo, no município de Açailândia tomam banho embaixo da ponte construída para a passagem da estrada de ferro Carajás.
Piquiá de Baixo é uma comunidade extremamente impactada pela ferrovia e pelas siderúrgicas, que processam o minério de ferro.
Além da poluição do ar deixada pelas siderúrgicas o que ao longo dos anos desenvolveu sérios problemas respiratórios nos moradores, o trem também produz muitas rachaduras nas casas de Piquiá de Baixo”.
“Este trabalho se propõe a olhar para os vazios que foram cavados tanto na terra, a partir da mineração, quanto nas pessoas, que carregam em seus corpos e memória versões alternativas à história única, a que prevalece nos museus, ruas e praças da região.
Procuro investigar também como mitos e sincretismos são instrumentos de subversão ao ‘status quo’, entendendo as interseções entre cultura, dependência e exploração”.
“Há muitos registros de animais mortos pela ferrovia, pois ela também transporta grãos, como a soja que é cultivada próximo ao assentamento de sem-terra Francisco Romão.
Muitos dos protestos ocorreram porque os moradores querem alguma proteção para evitar que os animais cruzem a linha férrea”.
“Meninos que moram no assentamento caminham pela Estrada de Ferro Carajás para observar os animais que o trem matou. Eles têm suas camisas na cabeça porque isso torna o cheiro dos animais em decomposição menos pior”.
Finalista Reportagem curta, Insulae, por Raphael Alves, Brasil
Nascido em Manaus, Raphael Alves é formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Fotografia na Universidade Estadual de Londrina (UEL) e Artes Visuais no SENAC.
O fotógrafo tem ainda o título de Master of Arts em Fotojornalismo e Fotografia Documental na London College of Communication / University of the Arts, em Londres.
Alves já recebeu diversos prêmios pelo seu trabalho. Os mais recentes foram o Pictures of the Year Latin America, o Getty Images Grant em 2021 e o Pictures of the Year International em 2022, com o projeto ‘Insulae’.
Projeto ‘Insulae’ (Isolamento)
Raphael foi finalista do prêmio de fotografia na categoria Reportagem Curta com o projeto ‘Insulae’ (Isolamento) que retrata a crise sanitária no Amazonas durante a pandemia da Covid-19.
‘Insulae’, palavra do latim que deu origem à palavra ‘isolamento’ em português, era a forma de moradia das pessoas menos favorecidas da Roma Antiga.
“Nos últimos anos o Amazonas, maior estado da federação, tem vivido à beira do colapso. E foi durante a pandemia da covid-19 que as desigualdades socioeconômicas mostraram sua frágil estrutura, levando a uma crise de saúde sem precedentes”.
“A conta chegou e, assim como as ínsulas romanas, o Amazonas entrou em colapso. Faltou oxigênio, faltou o básico e um preço altíssimo foi cobrado: vidas! Milhares de histórias agora enterradas no território do Amazonas”.
“Sob chuva, profissionais de saúde retiram um paciente de 10 anos com quadro grave de Covid-19 de um avião da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) aérea do Estado do Amazonas“.
“O paciente foi transferido de Santo Antônio do Içá (a 879 km em linha reta de Manaus) até o Aeroporto Eduardo Gomes em Manaus, em 22 de maio de 2020, num voo que durou três horas e trinta minutos.
“Boho Sofia, 67 anos, indígena do povo Kanamari e paciente de covid-19, recebe atendimento de profissionais de saúde da enfermaria do Hospital Municipal de Campanha Gilberto Novaes, Zona Norte de Manaus, em 2 de junho de 2020”.
“O caixão de uma vítima da pandemia da covid-19 é visto dentro do único cômodo de uma casa localizada na Colônia Oliveira Machado, Manaus, em 7 de maio de 2020.
“Durante a pandemia da covid-19, o “Funeral SOS”, que oferece serviços funerários para pessoas que não podem pagar, teve suas demandas quadruplicadas: servidores do programa atuaram sobretudo no recolhimento de corpos de pessoas que não conseguiram atendimento em hospitais e faleceram em suas residências”.
“A sombra de uma pessoa que compareceu ao funeral de uma vítima da Covid-19 é projetada sobre uma sepultura coletiva, enquanto um coveiro trabalha para fechá-la no cemitério de Nossa Senhora Aparecida, na zona oeste de Manaus, no dia 5 Junho de 2020”.
“Aproximadamente 14 mil pessoas morreram vítimas da covid-19 no Amazonas, segundo dados. No entanto, o próprio governo estadual admitiu haver subnotificação.
Óbitos que não haviam sido contabilizados como covid-19 foram reclassificados após resultados de exames médicos e científicos”.
“Uma máscara descartável é vista sob a sombra de um túmulo localizado na ala das vítimas da covid-19 no Cemitério Público Nossa Senhora Aparecida, na zona oeste de Manaus, em 11 de junho de 2020.
A questão do descarte das máscaras é vista como um potencial problema ambiental”.
O descarte do material caracteriza um resíduo tóxico e de longa duração: a degradação de uma máscara descartável na natureza pode levar até 450 anos.
Manaus, onde centenas de máscaras descartadas indevidamente podem ser vistas, está localizada no meio da floresta amazônica na confluência de dois dos maiores rios do mundo: o Solimões e o Negro.
“Um homem chora sobre o túmulo de sua mãe no Cemitério Público Nossa Senhora Aparecida, em Manaus, Amazonas, em 29 de setembro de 2020.”
“Caixões chegam em um trator para serem enterrados em uma vala comum no Cemitério Público Nossa Senhora Aparecida, localizado na Zona Oeste de Manaus, em 23 de abril de 2020”.
Uma nova área do cemitério foi inaugurada após as mortes causadas pela covid-19 que levarem a um colapso no sistema funerário da cidade. O número de enterros em Manaus por dia aumentou de cerca de 25 para quase 200, devido à pandemia.
As imagens feitas pelo fotógrafo brasileiro premiado Felipe Fittipaldi serão expostas junto com a dos demais vencedores de categorias no Festival de Fotografia Ética, que acontece de 24 de setembro a 23 de outubro em Lodi, na Itália.
As imagens foram publicadas com autorização da organização do prêmio de fotografia World Report Award e não podem ser reproduzidas.
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