Londres – Por sua luta contra a censura e compromisso com o jornalismo independente, o jornal Gazeta Wyborcza, da Polônia foi o vencedor do prêmio Golden Pen de liberdade de imprensa da Associação Mundial de Editores de Notícias (WAN-IFRA), anunciado durante o Congresso Mundial da Mídia de Notícias que terminou nesta sexta-feira (30) em Zaragoza, na Espanha.
O jornal e a fundação associada a ele foram reconhecidos como “um farol de independência e um baluarte contra o autoritarismo, demonstrando seus valores diariamente em suas páginas e também pela solidariedade a jornalistas além das fronteiras da Polônia”.
Após a invasão da Ucrânia pela Rússia, a fundação criou um programa de apoio a veículos ucranianos e a jornalistas do país vizinho atuando na zona de guerra, que ganhou a adesão de importantes veículos europeus e de organizações não-governamentais para fornecer equipamentos, suporte logístico e realocação em outros países.
Desafiando a censura na Polônia comunista
Publicado pela primeira vez em 8 de maio de 1989, sob o lema “Não há liberdade sem Solidariedade”, o Gazeta Wyborcza enfrentou forte censura e teve papel vital no engajamento da sociedade para rejeitar a liderança comunista do país.
Desde então firmou-se como um pilar do jornalismo independente, reagindo a constantes ataques.
Ao receber o prêmio em nome da redação da Gazeta Wyborcza, Piotr Stasiński, ex-editor-chefe adjunto e atual membro do Conselho da fundação do jornal, disse:
“Sob o comando do PiS [Partido Lei e Justiça] a liberdade de imprensa na Polônia foi seriamente violada. Vemos um crescente “efeito arrepiante” e um número decrescente de meios de comunicação livres e independentes.
Os acontecimentos recentes na Polônia lembram a forma como a mídia independente húngara foi suprimida pelo governo de Viktor Orban.”
Ele destacou a importância da missão do jornal “em um país conturbado em um mundo cada vez mais conturbado”. E disse que o prêmio ajuda o jornal a perseverar.
“Os homenageados com o Golden Pen incorporam um conjunto de valores que sustentam nossa indústria”, disse Warren Fernandez, editor-chefe do The Straits Times em Cingapura e presidente do World Editors Forum, ao anunciar o prêmio, criado em 1961 e concedido anualmente.
“Cada vez mais desafiados, esses valores são defendidos em todo o mundo por jornalistas e editores que reconhecem a importância da mídia livre para o bem-estar e o funcionamento adequado de nossas sociedades e democracias.”
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Fundação lidera esforço europeu de apoio à Ucrânia
Enfrentando grandes desafios para oferecer noticiário confiável em um país onde a mídia é frequentemente alvo de ataques, o Gazeta Wyborcza estabeleceu sua Fundação em 2019 para salvaguardar o futuro da publicação e fortalecer o jornalismo de qualidade.
Seus projetos denunciaram organizações neofascistas, lutaram contra desinformação, polarização e xenofobia e apoiaram o jornalismo investigativo na mídia local e regional na Polônia.
“A condição de deterioração da democracia polonesa significa que o engajamento cívico é necessário agora mais do que nunca”, disse Joanna Krawczyk, Chefe de Parcerias da Gazeta Wyborcza e Presidente do Conselho da Fundação Gazeta Wyborcza.
Na cerimônia de entrega do Golden Pen, Krawczyk reafirmou o compromisso com o apoio ao jornalismo na Ucrânia:
“Não vamos deixar nenhum órgão de mídia independente enfrentando a opressão sozinho”.
O fundo de ajuda ao país invadido pela Rússia tem um capital de 410 mil Euros, formados por doações do próprio jornal, do público e de parceiros.
Os recursos estão sendo usados para comprar o equipamento necessário para jornalistas que trabalham em zonas de guerra, apoio financeiro para jornalistas e organizações de mídia na Ucrânia e a realocação de jornalistas para a Polônia e em outros países da União Europeia.
A iniciativa foi criada em conjunto com organizações europeias como a Associação Sueca de Editores de Mídia, a Associação Dinamarquesa de Jornais, a Federação Finlandesa de Mídia, a News Media Finland e a Associação Norueguesa de Empresas de Mídia.
E ganhou adesão de outros meios de comunicação e organizações culturais da Europa, como a Fundação Cultural Europeia e grupos de mídia da Finlândia, Noruega e Suécia.
Primeiro jornal fora da censura do comunismo da Polônia
O Gazeta Wyborcza foi a primeira publicação legal a operar fora do controle do governo na Polônia durante o regime comunista, que contribui para derrubar.
No início dos anos 2000, tornou um dos jornais mais vendidos do país e consolidou sua posição como um veiculo que mantém vigilância constante sobre a democracia polonesa.
Como um dos poucos títulos de notícias independentes que restou no país, “o jornal se encontra sob constante ataque de um governo hostil a notícias independentes”, como destacou a WAN-IFRA.
Depois de tomar conta da mídia estatal, que perdeu a independência e passou a ser utilizada para disseminar narrativas favoráveis ao governo, o partido Lei e Justiça voltou suas atenções para a mídia privada, segundo a organização.
Como um dos principais alvos, o Gazeta Wyborcza sofre pressões legais e financeiras. A publicação enfrenta cerca de 100 processos judiciais, mas segue desafiando a censura e as perseguições do governo da Polônia.
“A Gazeta Wyborcza e a Fundação Gazeta Wyborcza estão nos mostrando o caminho […], indicando que não há de fato, “liberdade sem solidariedade”.
Censura na Polônia também teve como alvo rede de TV da americana Discovery
As iniciativas de censura e perseguição a veículos de mídia independentes que não seguem a narrativa do governo da Polônia viraram um incidente diplomático em 2021.
O Parlamento polonês aprovou em dezembro uma lei de mídia que obrigaria a americana Discovery a vender o canal de notícias TVN, que transmite o principal noticiário noturno da TV do país.
Protestos foram feitos nas ruas quando o projeto de lei foi apresentado. Os EUA e a União Europeia manifestaram-se contra a lei. Dez dias depois da aprovação na casa legislativa o presidente Andrzej Duda vetou a regulamentação.
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