Londres – O assédio e a desinformação são vistos como os maiores problemas das mídias digitais no Brasil na avaliação de pelo menos sete em cada dez brasileiros, que elegeram o WhatsApp como a plataforma mais problemática.
Em seguida aparecem a preocupação com a privacidade dos dados, a censura do conteúdo e a parcialidade política.
A conclusão é de uma pesquisa do Instituto Reuters para Estudos de Jornalismo realizado nos Estados Unidos, Reino Unido, Índia e Brasil. Considerando a amostra global, a desinformação foi apontada como o maior problema. Os percentuais de queixas dos brasileiros foram os maiores para cada problema associado às plataformas analisadas.
Brasileiros apontam WhatsApp como a mídia digital com mais problemas de assédio
Na visão dos brasileiros, o WhatsApp é a plataforma campeã do assédio e da desinformação, além de a mais irresponsável no uso dos dados e na censura de conteúdo. O Facebook aparece em segundo em todos esses quesitos e o Google é visto como a menos problemática.
Pelo menos sete em cada dez brasileiros apontaram o assédio como um grande problema das três plataformas analisadas (o Google não foi incluído). O WhatsApp liderou as reclamações, com 79% dos entrevistados apontando a plataforma como a campeã do assédio online no Brasil.
Os brasileiros também viram o assédio como um grande problema no Facebook, e um pouco menos no YouTube. Os índices dos brasileiros são os maiores entre os que apontam o problema do assédio em cada uma das plataformas analisadas.
Na segunda posição dos que apontaram assédio no WhatsApp e no YouTube aparecem os indianos, com 48% para cada. Lá, as três plataformas dividem a liderança como a mais problemática em relação ao assédio.
Quanto ao Facebook, depois dos brasileiros, os que mais apontam assédio na plataforma são os britânicos (59%) e os norte-americanos (54%). Nesses dois países, o Facebook aparece como a plataforma mais problemática não só quando o tema é assédio, mas em todos os demais quesitos analisados.
O estudo frisa que os níveis de preocupação com o assédio variam por gênero, até certo ponto. No Facebook, onde foram observadas as maiores diferenças por gênero, 81% das mulheres no Brasil dizem que o assédio é um grande problema, em comparação com 73% dos homens.
WhatsApp é a mídia digital campeã do problema da desinformação no Brasil
A plataforma campeã da desinformação no Brasil é o WhatsApp, com oito em cada dez brasileiros apontando o problema na plataforma. Mais de três quartos dos entrevistados também associam o problema ao Facebook e um pouco menos ao YouTube e ao Google.
Novamente, os índices dos brasileiros são os maiores entre os que apontam o problema da desinformação em cada uma das quatro plataformas. Os indianos aparecem em segundo entre os que mais denunciam o problema no WhatsApp (50%), YouTube (51%) e Google (45%).
Quanto ao Facebook, os norte-americanos (64%) e os britânicos (63%) são os que aparecem atrás dos brasileiros entre os que mais apontam desinformação na plataforma.
Segundo os pesquisadores, isso pode refletir o papel que a plataforma pode ter desempenhado como vetor de desinformação durante as últimas campanhas presidenciais dos EUA, bem como durante o processo do Brexit no Reino Unido, que culminou com a separação da União Europeia.
Para os brasileiros, WhatsApp é o mais irresponsável no uso de dados dos usuários
As preocupações sobre como as plataformas usam os dados dos usuários também foi apontada como um grande problema por pelo menos sete de cada dez brasileiros em relação a todas as plataformas analisadas.
Além de ser visto como campeão da desinformação, o WhatsApp foi apontado como o maior vilão nesse quesito no Brasil, que inclui a forma como as plataformas usam os dados para fornecer anúncios e para personalizar conteúdo, o que tem gerado vários escândalos sobre a questão de quem tem acesso a tais informações.
Para os brasileiros, o problema envolve também as demais plataformas, com todas aparecendo com altos níveis de críticas, os maiores registrados nos quatro países em relação a cada uma das plataformas.
Na Índia, o WhatsApp também aparece com o maior nível de preocupação quanto à privacidade e uso dos dados, mas com um índice (50%) comparativamente menor do que o do Brasil.
Os indianos são os que mais apontam esse problema, depois dos brasileiros, no YouTube (50%) e no Google (46%), além do WhatsApp (50%).
Quanto ao Facebook, depois dos brasileiros, mas com índices bem menores, aparecem os Estados Unidos (59%) e o Reino Unido (58%). Essa é a plataforma mais associada ao problema da privacidade dos dados nos dois países.
WhatsApp é visto pelos brasileiros como líder na censura de conteúdo
Embora num patamar inferior aos demais problemas apontados, pelo menos cinco em cada dez brasileiros apontam a censura de conteúdo como um problema em todas as plataformas analisadas.
De novo, a liderança do problema no Brasil fica com o WhatsApp, seguido de perto pelo Facebook.
O estudo percebeu também que a preferência política do usuário influencia em sua visão sobre o problema da censura de conteúdo na plataforma.
Entre aqueles com opiniões favoráveis a Bolsonaro, 74% disseram achar que a censura de conteúdo no YouTube era um grande problema, em comparação com 60% daqueles que avaliam o presidente brasileiro de forma desfavorável.
Além disso, 76% dos apoiadores de Bolsonaro disseram achar que a censura era um grande problema no Facebook, em comparação com 65% entre aqueles que não o apoiam.
O mesmo fenômeno foi verificado em todos os outros países participantes do estudo. Por exemplo, entre aqueles com uma visão desfavorável de Joe Biden, 64% dizem que a censura de conteúdo do Facebook é um grande problema nessa plataforma, em comparação com apenas 44% dos apoiadores de Biden.
Aliás, depois dos brasileiros, os que mais associam o Facebook à censura de conteúdo, notadamente o político, são os norte-americanos, com um índice bem próximo, de 52%.
Leia também | Confiança nas notícias é menor na cobertura política no Brasil, EUA, Índia e Reino Unido
Os autores do estudo ressaltam que a remoção de informações erradas sobre a Covid-19 colocou o Facebook no centro das atenções quanto ao tema nos Estados Unidos.
Mais recentemente, a plataforma também tomou medidas para barrar figuras políticas, incluindo o ex-presidente Donald Trump, em resposta aos eventos no Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021.
Já os indianos aparecem na segunda posição na associação da censura de conteúdo com o WhatsApp (46%), Youtube (45%) e Google (43%).
Sem análise do WhatsApp, Facebook lidera na parcialidade política
Ao contrário dos demais quesitos analisados na pesquisa, a parcialidade política é o único problema que não é o mais associado pelos brasileiros ao WhatsApp – mas deve-se levar em consideração que a plataforma não foi incluída nessa avaliação.
Sem a concorrência do WhatsApp, o Facebook, que sempre foi apontado pelos brasileiros como a segunda plataforma mais problemática em todos os demais quesitos, assume a liderança.
Mas as outras plataformas analisadas não ficam muito atrás: pelo menos cinco em cada dez brasileiros acreditam que as três apresentam um viés político tendencioso.
O Facebook é também considerado o mais problemático quanto à parcialidade política nos Estados Unidos (57%) e no Reino Unido (51%). Na Índia, a plataforma é apontada como a segunda mais tendenciosa, apenas um ponto percentual abaixo do líder YouTube (46%).
Leia também | ‘Há pessoas morrendo devido à desinformação’, diz Obama ao cobrar leis para redes sociais