Londres – Depois de passar todo o seu mandato criticando a mídia em discursos e nas redes sociais, o ex-presidente Donald Trump entrou na segunda-feira (4) com um processo de difamação contra a rede americana CNN em um tribunal da Flórida, alegando entre outras coisas ter sido comparado por jornalistas da emissora a Hitler.
Ele pede US$ 475 milhões (R$ 2,5 bilhões) de indenização.
Na petição inicial do processo, com 29 páginas, os advogados alegam que a rede realizou uma “campanha de calúnia e difamação” contra ele e que usou sua influência “para derrotá-lo politicamente”.
Trump comparado com Hitler
Trump não confirmou oficialmente se vai concorrer novamente à presidência nas próximas eleições mas age como candidato, realizando encontros e comícios, além de utilizar sua rede social, a Truth Social, para se manifestar sobre temas polêmicos e manter contato com os seguidores.
Em um comício recente, ele disse: “talvez eu tenha que fazer isso de novo”.
O motivo de o processo estar sendo movido agora seria uma intensificação dos “ataques” da CNN nos últimos meses, como forma de evitar que ele tente novamente a presidência em 2024.
“Como parte de seu esforço conjunto para inclinar o equilíbrio político para a esquerda, a CNN tentou manchar [a honra] do apelante com uma série de rótulos cada vez mais escandalosos, falsos e difamatórios como ‘racista’, ‘lacaio russo’, ‘insurrecionalista’ ‘ e, finalmente, ‘Hitler'”, afirma o processo.
Os advogados listam vários casos sugerindo que a CNN teria comparado Trump a Hitler, incluindo uma reportagem especial de janeiro de 2022 do apresentador Fareed Zakaria, que incluiu imagens do ditador alemão.
Outro trecho menciona um dos mais aguerridos críticos de Donald Trump, o ex-colunista de mídia da CNN Brian Stelter. Ele comandava um programa de análise chamado Reliable Sources até o mês passado, quando foi demitido supostamente porque a rede americana quer reduzir espaço para opiniões, concentrando-se no jornalismo.
Os advogados destacaram uma entrevista feita por Stelter com o psiquiatra Allen Frances. O entrevistado afirmou ao âncora que “Trump é uma pessoa tão destrutiva neste século quanto Hitler, Stalin e Mao foram no século passado”.
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Aberto em um tribunal federal em Fort Lauderdale, o processo reclamando da suposta comparação com Hitler ocorre quando Trump enfrenta uma investigação criminal do Departamento de Justiça por reter documentos do governo em sua propriedade de Mar-a-Lago depois de deixar o cargo em janeiro de 2021.
No mês passado, Trump e três de seus filhos foram processados por “anos de fraude bancária, fiscal e de seguros”.
E um comitê do Congresso está investigando o ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio dos EUA por apoiadores de Trump, concentrando-se no papel do ex-presidente.
Trump foi banido das grandes plataformas digitais e criou a sua rede própria, que não decolou como ele esperava – o dono tem apenas 4 milhões de seguidores, contra 80 milhões que tinha no Twitter – e enfrenta problemas de financiamento.
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Nas últimas semanas, o ex-presidente foi criticado por um post racista e violento contra o líder da minoria no Senado, Mitch McConnell, e sua mulher, cidadã americana nascida em Taiwan. E também por postagens e falas em discursos associadas à teoria da conspiração QAnon.
A escolha da Flórida para o processo, embora a CNN seja baseada em Atlanta, pode não se dever apenas ao fato de que Trump vive no estado governado pelo conservador Ron de Santis, antigo aliado do ex-presidente.
Os tribunais da Flórida têm aprovado leis controvertidas, como a Don’t Say Gay, que proíbe professores de falar de temas LGBTQ+ em sala de aula, e a legislação que impede redes sociais de removerem conteúdo de candidatos a cargos eletivos.
No entanto, um juiz Federal do estado mandou arquivar um processo que ele tentou mover acusando sua rival nas eleições de 2016, Hillary Clinton, e dezenas de outras pessoas de supostamente terem conspirado contra ele com alegações falsas sobre suas ligações com a Rússia.
A imprensa nos EUA é protegida pela Primeira Emenda da Constituição. Vitórias em processos de difamação contra a mídia não são comuns. O autor da causa precisa provar que os jornalistas agiram com “malícia real ou desrespeito imprudente à verdade” em suas reportagens.
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