Estocolmo – Erika Bjerström é uma das vozes mais respeitadas do jornalismo climático na Suécia. Com mais de trinta anos de carreira, trabalha desde 2019 como correspondente global de meio ambiente da SVT, a TV pública do país.

“Não é meu trabalho manter a audiência de bom humor”, diz, ao rebater as críticas que classificam como “alarmista” a cobertura da mídia sobre a crise climática.

“A situação é inacreditavelmente grave. Estamos diante de um desastre, do maior desafio que a humanidade já enfrentou, e é preciso fazer reportagens que mostrem isto”, destaca Erika, que defende a importância do jornalismo de soluções para a causa do clima.

Os desafios do jornalismo ambiental

Engajamento

“Não acho que seja atribuição da mídia manter a sociedade engajada. Isto é uma tarefa para os políticos, cabendo a nós informar sobre o que eles fazem.

Minha missão é apresentar projetos viáveis de larga escala e mostrar que a transição verde é possível e financeiramente viável.

É nisso que invisto meu tempo, com reportagens que dão esperança e que mostram soluções para a crise climática, mas também expondo a gravidade da situação.

Estive recentemente no Paquistão, onde um terço do país ficou submerso durante as piores inundações da sua história, e posso dizer que estas pessoas são vítimas reais. Pessoas estão morrendo. Serei sempre clara a esse respeito”.

Alarmismo

“A situação é grave e não é meu trabalho manter a audiência de bom humor de maneira falsa. A pergunta mais frequente que me fazem é: ‘existe esperança?’

Minha resposta é sim, porque ainda temos uma janela de oportunidade para reverter a situação e evitar o pior dos cenários traçados pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas).

O curioso é que ninguém pergunta a jornalistas que cobrem as guerras na Ucrânia ou em Gaza, por exemplo: “Mas não há nenhuma esperança?”

Este tipo de ônus é colocado exclusivamente sobre os jornalistas climáticos que cobrem a crise do meio ambiente”.

Jornalismo de soluções e clima 

“Como correspondente na África, decidi dar outra perspectiva à cobertura de fome e conflitos, buscando ângulos diferentes, como o desenvolvimento econômico de vários países.

Buscar perspectivas é importante. Mas é preciso equilíbrio. Na questão climática, não se pode dizer que está tudo perdido, e nem dar a impressão de que as pessoas podem relaxar.

Na Suécia, é dado o mesmo espaço para o jornalismo de soluções e as reportagens que mostram a gravidade do momento”.

Jornalismo climático perde prioridade diante de outras pautas 

“Os suecos têm uma grande consciência ambiental. Mas o Eurobarômetro (instituto da União Europeia que monitora a opinião pública dos países membros) mostra que os portugueses estão muito mais preocupados com a questão, por serem mais afetados por secas e incêndios florestais.

Temos hoje na Suécia um enorme problema com a violência praticada por gangues, e a mais alta taxa de homicídios da Europa. E esta é, compreensivelmente, uma questão prioritária para muitos suecos neste momento”.

Livro da jornalista mostra a crise climática na Suécia

Em seu livro “A Crise Climática da Suécia”, Erika Bjerström mostra que, ao contrário da maior parte do mundo, os ricos do país serão atingidos primeiro. Isso porque a elevação do nível do mar afetará inicialmente a península de Falsterbo, onde vivem os milionários.

Livro de Erika Bjerström, jornalista ambiental da Rede SVT da Suécia

“Minha impressão é que os suecos não estavam muito conscientes de que o clima está mudando no país, porque a tendência é nos concentrarmos mais nos problemas da Amazônia e nas crises de lugares distantes”.


Edição especial MediaTalks COP28

Este artigo faz parte de um relatório especial analisando as repercussões da COP28, jornalismo climático, ativismo e percepções da sociedade sobre as mudanças climáticas.

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