Londres – A poucos dias de completar um ano em prisão preventiva na Rússia sem julgamento, o repórter Evan Gershkovich, do Wall Street Journal, teve nesta quarta-feira (26) sua detenção prorrogada por mais três meses.
Filho de pais soviéticos que emigraram para os EUA, Gershkovich foi capturado em Yekaterinburg, na região dos Montes Urais, no dia 29 de março de 2023, quando fazia uma reportagem investigativa sobre o complexo militar russo que fornece armas para a guerra na Ucrânia. Ele está na prisão de Lefortovo, em Moscou.
O canal do sistema judiciário de Moscou no Telegram divulgou um vídeo em que o jornalista de 32 anos aparece sério, dentro da uma cabine envidraçada de onde ouviu a sentença determinando a quinta prorrogação. Foram postadas ainda fotos em que ele é retratado sorridente, transmitindo impressão de que está bem de saúde e conformado com a situação.
Embaixadora na Rússia protestou contra decisão de manter repórter preso
Quem não está conformado é o governo dos EUA, assim como o Wall Street Journal.
Falando a jornalistas em Moscou após a quinta prorrogação da prisão preventiva de Evan Gershkovich, a embaixadora dos EUA na Rússia, Lynne Tracy, voltou a dizer que as acusações contra ele são falsas, “uma ficção”.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, admitiu em entrevistas que o jornalista poderia ser libertado mediante um acordo envolvendo troca de prisioneiros, como ocorreu com a atleta americana de basquete Brittney Griner em 2022.
Ela foi condenada na Rússia por entrar no país com óleo de cannabis, ficou 10 meses presa e voltou para os EUA após uma negociação que resultou na libertação do traficante de armas Viktor Bout, que cumpria pena nos EUA.
O Wall Street Journal disse em comunicado após a nova prorrogação da prisão preventiva:
“A decisão significa que Evan ficará preso em uma prisão russa por mais de um ano. Foi também a 12ª aparição de Evan no tribunal, como resultado de processos infundados que o retratam falsamente como algo diferente do que ele é – um jornalista que estava fazendo o seu trabalho.
Ele nunca deveria ter sido detido. O jornalismo não é crime e continuamos a exigir a sua libertação imediata.”
O jornal tem cobrado de forma velada o empenho do governo dos EUA para levar o jornalista de volta para os EUA.
Evan Gershkovich foi classificado como “detido injustamente”, condição que obriga o governo a trabalhar para garantir a sua libertação, assim como a de Paul Whelan, executivo de segurança que cumpre uma pena de 16 anos por espionagem numa colónia penal russa, que recebeu a mesma classificação.
Ele é o primeiro repórter americano preso pela Rússia depois do fim da guerra fria.
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