Londres – Uma nova pesquisa da agência de propaganda Dentsu e da organização britânica Conscious Advertising Network (CAN) sobre desinformação climática e seus impactos nas marcas revela um cenário preocupante para a sociedade e para as empresas. 

Intitulado “The Cost of Confusion” (O custo da confusão), o estudo revelou uma clara desconexão entre a percepção do público sobre o impacto global da mudança climática e suas consequências em nível pessoal, assim como a dificuldade de identificar narrativas falsas sobre o clima. 

E descobriu que apenas 9% dos consumidores britânicos confiam totalmente na forma como as marcas retratam seus compromissos climáticos, enquanto 88% não acreditam que as empresas sigam a ciência climática em suas práticas.

A crise de confiança: consumidores desconfiam dos compromissos climáticos das marcas

Lançada em 2019, a Conscious Advertising Network é uma organização sem fins lucrativos que tem entre seus membros agências de propaganda como Dentsu, Omnicom Media Group e Havas; empresas como Virgin Media O2 e Innocent Drinks e grupos da sociedade civil, incluindo o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. 

A proposta é combinar a experiência em publicidade e direitos humanos dos fundadores, Jake Dubbins e Harriett Kingaby, para ajudar a definir novas perspectivas e práticas na indústria de propaganda com a missão de “quebrar o vínculo econômico entre a publicidade e o conteúdo prejudicial que divide comunidades, exclui vozes diversas, explora crianças e prejudica o consenso científico”.

A pesquisa Cost of Confusion ouviu 1.012 adultos britânicos, de diferentes idades, regiões e faixas de renda. Algumas perguntas replicaram uma pesquisa anterior de 2022 realizada pela CAN e pela Climate Action Against Disinformation (CAAD). 
  • Embora a maioria dos britânicos reconheça o impacto humano na mudança climática, uma parte significativa subestima sua extensão ou detém concepções erradas sobre suas causas e consequências.
  • Essa vulnerabilidade à desinformação é exacerbada pela falta de compreensão de conceitos-chave sobre o clima e pela dependência de fontes de informação potencialmente não confiáveis, como as mídias sociais.
  • A pesquisa também destaca a prevalência de narrativas falsas sobre os impactos econômicos e sociais da ação climática, bem como a eficácia de medidas como emissões líquidas zero, o que pode prejudicar o apoio público a políticas climáticas e comprometer o senso de urgência para medidas de combate à crise climática.

Um total de 40% dos entrevistados apontou as mídias sociais como a principal fonte de desinformação climática, seguida por matérias na imprensa ( 20% ) e familiares e amigos ( 9%).

Os pesquisadores exploraram ainda prevalência de crenças falsas sobre as mudanças climáticas, expondo os entrevistados a sete narrativas falsas. No geral, 82% dos entrevistados disseram acreditar em pelo menos uma delas. 

A percepção do público sobre as marcas e a desinformação climática

O estudo da CAN e da Dentsu destaca a desconfiança significativa do público em relação às marcas no que diz respeito à sua atuação e comunicação em relação às mudanças climáticas.

  • 88% dos entrevistados não confiam totalmente que as marcas sigam a ciência climática o tempo todo. 
  • Apenas 12% acham que elas o fazem o tempo todo 
  • 91% não acreditam que as marcas retratem seus compromissos climáticos de forma precisa
  • Apenas 9% confiam que as marcas retratam seus compromissos climáticos de forma precisa e evitam o greenwashing o tempo todo

Essa falta de confiança na propaganda das marcas e em suas ações impacta diretamente o comportamento do consumidor:

  • 45% dos entrevistados deixariam de apoiar uma marca se soubessem que ela financia a desinformação climática, mesmo que acidentalmente.
  • 22% deixariam de apoiar a plataforma onde a marca veicula a desinformação.

Impacto no Bolso: desinformação causa perda de apoio e boicote de Marcas

Esses dados demonstram que a associação com a desinformação climática pode prejudicar a credibilidade e a reputação das marcas, levando até a boicotes. 

Ela gera confusão e ceticismo, dificultando a distinção entre o que é verdadeiro e falso, o que impacta diretamente a credibilidade das marcas que se posicionam sobre o tema

Jake Dubbins, cofundador da Conscious Advertising Network, salientou que os equívocos sobre as mudanças climáticas são generalizados, e defende que as indústrias de publicidade e mídia reconheçam seu papel em perpetuar ou abordar esses equívocos.

“As empresas precisam compreeder que a associação com a desinformação climática não apenas prejudica sua credibilidade e reputação, mas também coloca em risco sua viabilidade a longo prazo em um mundo cada vez mais focado na sustentabilidade.

Ao se distanciarem ativamente da desinformação e garantirem que as mensagens estejam alinhadas com a ciência climática, as empresas podem contribuir para um discurso público mais informado, reforçar a confiança do consumidor e proteger seu futuro em um cenário econômico e ambiental em mudança.”

O papel das plataformas digitais: combate à desinformação e promoção de conteúdo confiável

As plataformas digitais também são responsáveis por combater a desinformação climática e garantir que as marcas anunciem em ambientes confiáveis.

Mas não é essa a percepção do público, com 40% dos entrevistados apontando-as como principal canal de exposição a informações falsas.

Ações como a implementação de políticas de combate à desinformação, a verificação de fatos e a promoção de conteúdo confiável de fontes qualificadas são essenciais para garantir a integridade da informação e proteger os usuários da manipulação, diz o estudo. 

Desinformação climática: o que o público pensa sobre a crise ambiental 

O mapeamento das percepções do público mostra dúvidas sobre conceitos e expressões ligadas ao clima e vulnerabilidade de pessoas mais velhas à desinformação.  

  • 69% do público acredita que as mudanças climáticas estão afetando a economia global, com níveis semelhantes de preocupação para a economia do Reino Unido (65%) e o custo de vida (67%).
  • Desconexão entre impacto global e pessoal: enquanto 66% acreditam que as mudanças climáticas afetam a saúde humana, apenas 41% relatam que isso afeta sua saúde física pessoal.
  • Compreensão mista do impacto humano: enquanto 85% do público britânico reconhece o impacto humano nas mudanças climáticas, apenas 50% acreditam que os humanos são a principal causa das mudanças climáticas. Isso representa uma queda em relação aos 54% que acreditavam nessa afirmação em 2022.
  • Mudança de perspectivas sobre emissões zero e custos: em 2022, apenas 25% dos entrevistados no Reino Unido disseram que “não podemos nos dar ao luxo de chegar a zero emissões líquidas até 2050”. Esse número agora é de 40%.
  • Vulnerabilidade à desinformação: apenas 56% do público entende a frase “emissões zero” e o conceito de “emissões de gases de efeito estufa”, deixando 44% vulneráveis à desinformação climática.
  • Pessoas mais velhas (55+) são mais propensas a acreditar em falsas narrativas sobre mudanças climáticas, enquanto pessoas mais jovens (18-34) são menos propensas.
  • Necessidade de comunicação direcionada: apenas um pouco mais da metade do público (56%) sente que entende conceitos específicos sobre mudanças climáticas, destacando a necessidade de comunicação e educação aprimoradas.
  • Importância da relevância local e pessoal: enquanto 74% acreditam que as mudanças climáticas afetam a segurança alimentar e hídrica, apenas 48% acreditam que isso afeta sua qualidade de vida, enfatizando a necessidade de conectar questões globais às experiências pessoais.

O estudo completo pode ser visto aqui


Este artigo faz parte da edição especial MediaTalks COP29. Leia aqui a revista completa.