Londres – A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos trouxe inquietação aos que se preocupam com as mudanças climáticas e levantou questões fundamentais sobre o futuro do jornalismo ambiental.

Após o resultado, a rede de jornalismo climático Covering Climate Now (CCNow), que reúne mais de 500 veículos de imprensa em todo o mundo, expressou preocupações mas também destacou o papel essencial da imprensa em tempos de crise do clima, citando uma postagem de Wolfgang Blau, cofundador da Oxford Climate Journalism Network: 

“Bom jornalismo climático acaba de se tornar duas vezes mais importante”.

Para a CCNow, o desafio para o jornalismo climático é “imenso e imediato”.

Como Trump pode influenciar soluções para a mudança climática

A rede enfatizou que a reeleição de Trump pode agravar a falta de apoio de líderes globais para implementar soluções sustentáveis, começando a dar o exemplo em seu próprio país, como deixou claro durante a campanha. 

No discurso de vitória na quarta-feira, o presidente eleito celebrou as vastas reservas de petróleo e gás natural dos EUA.

“Temos mais ouro líquido do que qualquer país do mundo. Mais do que a Arábia Saudita. Temos mais do que a Rússia.”. 

Mas a CCNow salienta que mudança política não altera a física das mudanças climáticas: as temperaturas globais continuarão a aumentar, resultando em ondas de calor mais intensas, tempestades mais violentas e outros desastres naturais cada vez mais frequentes, até que a humanidade pare de queimar combustíveis fósseis”.

Os eleitores de Trump votaram contra políticas climáticas?

A CCNow disse acreditar que a vitória de Trump não foi uma rejeição direta à ação climática, já que mudança climática foi “amplamente ignorada” na campanha de 2024, com foco dos candidatos e eleitores em questões econômicas, um fenômeno mundial. 

“Esta eleição se encaixa em uma tendência global recente de governos em exercício sendo empurrados para fora do poder pelas classes trabalhadora e média, irritadas com a crescente desigualdade e insegurança econômica.”

Para o jornalismo climático, segundo a CCNow, isso representa uma desafio: ao contar a história do clima como uma pauta integrada a outros temas centrais, a imprensa pode aumentar a conscientização pública e destacar a importância da ação climática de forma mais conectada ao cotidiano das pessoas.

“É nosso trabalho ajudar o público a entender por que isso está acontecendo e, principalmente, que não precisa ser assim: a humanidade tem todas as ferramentas necessárias para evitar os piores impactos do aquecimento global.

O que tem faltado são líderes políticos que implementem essas soluções — uma dinâmica prestes a se tornar mais aguda com o retorno de Trump ao poder.”

Cobertura do clima precisa ser mais abrangente e acessível 

A crise climática, segundo o CCNow, não deve ser tratada apenas como uma questão científica, mas como um tema que atravessa todos os aspectos da sociedade — tais como economia, migração, saúde pública e segurança alimentar.

“A CCNow há muito tempo diz que a cobertura do clima não deve se limitar às editorias de meteorologia e ciência: é uma pauta que envolve toda a redação.

Talvez melhor maneira de contar essa história não seja tratá-la como um assunto independente, mas encaixá-la na cobertura das notícias diárias.”

A rede de jornalismo climático chama atenção também para o valor de uma cobertura construtiva, que mostre os caminhos possíveis para lidar com as mudanças climáticas. 

“À medida que o impacto do aquecimento global se torna mais evidente e caro, a imprensa tem a responsabilidade de não só informar sobre a crise climática, mas também de iluminar as soluções disponíveis e incentivar ações efetivas — mostrando que, embora a crise seja grave, ela ainda pode ser enfrentada se houver o apoio político necessário.”

O que a vitória de Trump significa para o jornalismo climático “é uma questão enorme e vital que levará tempo para ser respondida”, na opinião da CCNow. 

A  rede está convidando jornalistas de todo o mundo a compartilharem suas ideias sobre como o jornalismo climático deve evoluir a partir de agora, por este link.


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