Londres – Uma nova pesquisa da ONG britรขnica Center for Countering Digital Hate (Centro para Combate ao ร“dio Digital, CCDH) revela uma realidade perturbadora: o algoritmo do YouTube estรก recomendando vรญdeos que promovem transtornos alimentares, como anorexia, para meninas de atรฉ 13 anos.

O estudo, intitulado “Algoritmo da Anorexia”, simulou a experiรชncia de uma usuรกria de 13 anos que assiste a um vรญdeo sobre transtornos alimentares pela primeira vez e analisou as 1 mil recomendaรงรตes  que apareceram em seguida. 

Os resultados sรฃo alarmantes: 344 delas (34,4%) foram classificadas como conteรบdo prejudicial sobre transtornos alimentares, incluindo vรญdeos promovendo dietas extremas e glorificam corpos esquelรฉticos.

Alรฉm disso, quase duas em cada trรชs recomendaรงรตes (638) estavam relacionadas a transtornos alimentares ou perda de peso.

O YouTube reconhece que esse tipo de conteรบdo pode ser prejudicial para adolescentes, mas a pesquisa mostrou que a plataforma nรฃo estรก fazendo o suficiente para protegรช-los, afirma a organizaรงรฃo. 

Exemplos de conteรบdo nocivo recomendado

Entre os exemplos de conteรบdo prejudicial encontrados nas recomendaรงรตes estรฃo:

  • Dieta ABC (Anorexia Boot Camp): regime alimentar de 30 dias com limites diรกrios de 0 a 500 calorias, com o objetivo de induzir a anorexia.
  • Thinspo: vรญdeos que apresentam corpos enfraquecidos para inspirar a magreza.
  • Meanspo: conteรบdo que visa incentivar a perda de peso por meio de bullying e inspiraรงรฃo negativa.
  • “What I Eat in a Day” (O que eu como em um dia): vรญdeos que mostram hรกbitos alimentares de pessoas com transtornos alimentares, muitas vezes retratando restriรงรฃo calรณrica extrema.

Lucrando com a dor: YouTube exibe anรบncios em conteรบdo prejudicial

A pesquisa tambรฉm revelou que o YouTube exibe anรบncios de grandes marcas, como Nike, T-Mobile e Hello Fresh, ao lado de vรญdeos com conteรบdo prejudicial sobre transtornos alimentares.

Segundo o CCDH, isso significa que a plataforma estรก lucrando com a exibiรงรฃo desse tipo de conteรบdo, colocando em risco a saรบde mental de meninas vulnerรกveis.

Inรฉrcia: YouTube ignora denรบncias de conteรบdo prejudicial

O CCDH disse ter denunciado 100 vรญdeos com conteรบdo prejudicial sobre transtornos alimentares usando as prรณprias ferramentas de denรบncia da plataforma.

Apรณs uma semana, apenas 17 deles foram removidos e um foi classificado como inadequado para menores. Apรณs duas semanas, nenhuma aรงรฃo adicional foi tomada.

Isso significa que o YouTube falhou em agir em 81% dos casos relatados, diz o relatรณrio da organizaรงรฃo. 

O problema vai alรฉm dos transtornos alimentares

A pesquisa tambรฉm constatou que o algoritmo do YouTube recomenda vรญdeos sobre automutilaรงรฃo e suicรญdio para meninas que demonstram interesse em conteรบdo sobre transtornos alimentares.

Isso expรตe as usuรกrias a uma gama ainda maior de conteรบdo prejudicial, especialmente preocupante considerando a ligaรงรฃo entre transtornos alimentares e outras condiรงรตes de saรบde mental, como depressรฃo.

Responsabilidade e aรงรฃo: o que precisa mudar?

O relatรณrio do Center for Countering Digital Hate faz um chamado ร  aรงรฃo para todos os envolvidos no problema: 

  • YouTube: a ONG insta a plataforma de propriedade do Google a corrigir seu algoritmo para que se torne segura para adolescentes, removendo conteรบdo prejudicial e interrompendo a recomendaรงรฃo de vรญdeos que violam suas prรณprias polรญticas.
  • Anunciantes: o CCDH pede que eles evitem que seus investimentos em propaganda financiem conteรบdo prejudicial, exigindo do YouTube transparรชncia sobre onde os anรบncios sรฃo exibidos.
  • Legisladores: o relatรณrio reforรงa a necessidasde de leis que protejam as crianรงas online, responsabilizando as plataformas pela recomendaรงรฃo de conteรบdo prejudicial. 

O relatรณrio completo pode ser visto aqui