•  O que aconteceu: um jornalista esportivo francês foi condenado ontem (29) a sete anos de prisão na Argélia.
  • A pena foi aplicada a Christophe Gleizes, colaborador das revistas So Foot e Society.
  • Ele entrou no país em 2024 para fazer entrevistas com jogadores e técnicos,  e foi preso sob acusação de ‘glorificar o terrorismo’ e ‘portar material considerado propaganda’.

Jornalista francês foi preso após viagem para cobrir futebol local

O episódio se insere no atual impasse diplomático entre os dois países, que já incluiu expulsão de 12 diplomatas de ambos os lados e repercute no cenário geopolítico, em especial após a Argélia prender outro intelectual franco-argelino .

A condenação do jornalista esportivo francês Christophe Gleizes a sete anos de prisão na Argélia, sob acusações ligadas ao exercício da profissão, levanta preocupações sobre a liberdade de imprensa no país e a criminalização da cobertura esportiva com implicações políticas.

Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), Christophe Gleizes vive na França e foi preso em 28 de maio de 2024, na cidade de Tizi Ouzou, cerca de 100 quilômetros a leste de Argel.

Detido após entrar no país com visto de turista, ele foi imediatamente apresentado ao promotor público e colocado sob controle judicial, com proibição de deixar o território argelino.

Desde então, permaneceu na Argélia por mais de um ano aguardando a decisão judicial. No domingo (29) ele foi condenado a uma pena de sete anos de prisão com cumprimento imediato.

Gleizes vai apelar da sentença, segundo a RSF.

Jornalista esportivo francês cobria clube e atletas africanos

Christophe Gleizes é coautor do livro “Magique Système: L’Esclavage Moderne des Footballeurs Africains”, publicado em 2018 com Barthélémy Gaillard, e é reconhecido por sua dedicação à cobertura das histórias de atletas africanos.

Com mais de doze anos de experiência como jornalista esportivo, Gleizes viajou à Argélia em maio de 2024 para cobrir a era de ouro do clube Jeunesse Sportive de Kabylie (JSK), dos anos 1980.

Também planejava escrever sobre a morte do camaronês Albert Ebossé, ocorrida dez anos antes, além de entrevistar o técnico do Mouloudia Club de Argel, Patrice Beaumelle, e fazer um perfil do jogador Salah Djebaïli, a pedido da revista So Foot, que condenou a sentença aplicada pela justiça argelina. 

 

 

As acusações contra ele incluem “glorificação do terrorismo” e “posse de publicações para fins de propaganda prejudiciais aos interesses nacionais”.

De acordo com a RSF, a base da denúncia é o fato de Gleizes ter se encontrado em 2015, 2017 e 2024 com o presidente do clube JSK — que também é figura destacada no Movimento para a Autodeterminação da Cabília (MAK), designado grupo terrorista pelo governo argelino em 2021.

A RSF destaca que os dois primeiros encontros ocorreram antes da designação, e que o contato de 2024 foi exclusivamente jornalístico, conforme atestam documentos do próprio processo.

Condenação do jornalista francês gera protestos

Em nota, a família de Gleizes declarou:

“Estamos em choque. Não há justificativa para Christophe ter que suportar essa provação.

Como se pode justificar punir um jornalista por exercer sua profissão com integridade? Sua paixão por contar as histórias de jogadores africanos está presente em todos os seus textos”.

Thibaut Bruttin, diretor-geral da RSF, considerou a sentença absurda:

“Nada escapa à política. A justiça argelina perdeu a chance de resolver o caso de forma honrada”.

Ele pediu a libertação imediata de Gleizes e que as autoridades francesas busquem uma solução diplomática e consular.

Franck Annese, fundador do So Press, afirmou que Gleizes é “conhecido por sua abordagem apolítica” e pediu esforços políticos e diplomáticos para garantir justiça e o retorno do jornalista à França.

Para a RSF, a condenação do jornalista demonstra um uso político da justiça e representa um risco para a liberdade de imprensa em contextos de repressão.